Manaus (AM) – Maior estado do Brasil, o Amazonas possui estudantes em suas regiões mais remotas, nas quais muitos deles precisam enfrentar desafios ainda maiores para ter acesso à educação. No entanto, a questão geográfica é apenas um dos problemas, pois as barreiras no setor educacional estão presentes em diferentes aspectos.
A estudante amazonense Rilary Manoela Coutinho, de 18 anos, chamou atenção nacional e trouxe luz à realidade vivida por muitos jovens do interior do estado.
Estudante da Escola Estadual Tereza dos Santos, no município de Itapiranga (a 227 quilômetros de Manaus), Rilary está entre os 24 alunos da rede pública de todo o Brasil que alcançaram a nota 1.000 na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Com bastante dedicação, a jovem conseguiu a nota máxima do Enem sem acesso à internet em casa e sem curso pré-vestibular. Ela só utilizou os livros que estavam à disposição na biblioteca de sua escola.
Para a jovem, que pretende cursar Engenharia Civil, o empenho para se sair bem nos vestibulares para ingressar na faculdade esbarrou nos problemas financeiros da família, visto que Rilary precisa sair do interior para se matricular e estudar em Manaus.
O curso que ela deseja só é ofertado na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o Departamento de Assistência Estudantil (Daest) da instituição se colocou à disposição para auxiliá-la.
Estatísticas
Os dados divulgados em fevereiro deste ano, pelo fundo das Nações Unidas (Unicef), tendo como referência o ano de 2021, apontaram que um total de 65,35% das crianças e adolescentes do Amazonas estavam vivendo em pobreza monetária, sendo o segundo estado com maior índice do país. Já em relação à pobreza extrema, o estado ocupava a quinta posição com 26,58%.
Segundo especialistas, a construção de políticas educacionais necessitam se adaptar às diversas realidades de uma região. E esse quesito torna o ensino ainda mais complexo no maior estado do país, que possui diferentes realidades, com estudantes espalhados em área urbana, territórios indígenas, ribeirinhos, quilombolas e rurais.
Essas particularidades sociais e territoriais fazem com que alunos, principalmente do interior e ribeirinhos da região metropolitana, sejam obrigados a se deslocar pelos rios que cortam a floresta amazônica. Justamente por isso, as longas distâncias necessitam de investimentos educacionais ainda maiores que em outros estados brasileiros.
Educação Indígena
Em conversa com o Vanguarda do Norte, a professora e doutora em educação, Alva Rosa Tukano, atenta para a questão cultural e sobre a necessidade de um currículo diferenciado para que as escolas indígenas funcionem conforme seu povo.
“Há muita evasão entre os alunos indígenas nas escolas indígenas, entre os quais podemos apontar currículo que não atende a sua realidade; programa mediado por tecnologias que é ofertado em muitas escolas indígenas, uma política de ensino à distância que na maioria das escolas indígenas a língua indígena é viva; não tem estrutura física, funcionando na casa dos caciques, professores e centro comunitários; a falta de professor em algumas áreas fragilizando a escola e aumentando o desinteresse pelos alunos em estudar”,
disse a professora.
Sobre a Educação escolar Indígena do Amazonas, Alva Rosa Tukano ressalta que não tem como homogeneizar o currículo escolar, sendo preciso construir uma política específica para o setor, tanto para a Educação Básica quanto para o Ensino Superior, na qual o estado compreenda a variedade de contextos de alunos indígenas.
Entre as realidades dos povos tradicionais amazonenses, a professora cita os “alunos de recente contato, alunos que estudam nas territorialidades e fora delas.”
“Assim como na Educação Básica, não existe uma política específica no Ensino Superior, as universidades possuem uma política muito colonialista. É necessário pluralizar as universidades, não só no ensino, mas na gestão e parte técnica”, comenta Alva Rosa Tukano.
Acesso à internet
O acesso à internet é outro desafio enfrentado há anos por alunos e profissionais da educação, principalmente das zonas rurais e do interior do Amazonas, mas que se tornou escancarado quando atingiu a realidade educacional de Manaus durante a pandemia do coronavírus e o isolamento social, levando a necessidade de explorar as plataformas digitais fora da estrutura escolar.
O professor Renato Cardoso comenta que durante a pandemia a precariedade do acesso à internet ficou mais visível, além também da questão socioeconômica de onde os alunos estão inseridos.
“Algo tecnicamente ‘simples’, como a comunicação por meio de grupos de compartilhamentos de mensagens ou outras ferramentas, se tornou um desafio, principalmente quando se tratava de pais e alunos que se encontravam em situação de vulnerabilidade social”,
disse Cardoso.
Ainda segundo Cardoso, as regiões pobres e afastadas, como as zonas rurais e interior, são as que mais são afetadas com a precarização da educação, devido a diversos problemas enfrentados na região.
Conforme um levantamento feito em 2018 pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e da Fundação das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em cinco municípios – Itapiranga, Maraã, Maués, Novo Aripuanã e Uarini – sobre o ensino de crianças e adolescentes, um dos primeiros resultados levantados é o “desconhecimento” sobre o cenário educacional no interior do estado para censos escolares do Brasil.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD3) de 2019, os dados relacionados aos índices de acesso e qualidade de educação, apontam que, na região amazônica, a população escolar vive com o atraso desde os anos iniciais do ensino fundamental, sendo que o atraso de 1 a 2 anos aumenta conforme a faixa etária, e certamente resulta na evasão escolar.
A pesquisa da Unicef, intitulada “As Múltiplas Dimensões da Pobreza na Infância e na Adolescência no Brasil”, mostra que em relação a educação, a taxa de analfabetismo entre crianças e adolescentes amazonenses está em 3,2%, colocando o estado em 16º lugar do ranking das maiores taxas do Brasil.
Estrutura educacional no Amazonas
Os dados mais recentes da 5ª edição do Atlas “Amazonas Em Mapa”, publicada no ano passado, que aborda a realidade do estado, mostrou que em relação à educação houve uma redução no número de unidades de escolas municipais, na quantidade de alunos matriculados e também na de professores entre os anos de 2019 a 2020.
Conforme o Atlas, entre as unidades educacionais, no ano de 2020 as escolas particulares, estaduais e federais tiveram crescimento de 3,9%.
Escolas municipais – Em 2020 a região amazonense apresentou 4.223 escolas municipais, reduzindo para 25 unidades escolares, comparado com o ano de 2019 que apresentou 4.248 escolas.
Os municípios que se destacam com o maior número de escolas municipais são Manaus (494), São Gabriel da Cachoeira (215), Maués (168), Borba (148), Manicoré (148), Parintins (146), Lábrea (127), Manacapuru (126) em suas dependências administrativas urbana e rural.
Escolas estaduais – Em relação ao ano anterior, em 2020 houve um aumento de duas escolas nas unidades estaduais dos municípios, alcançando o número de 749 escolas.
Os municípios que se destacam com o maior número de escolas estaduais são Manaus (234), Parintins (23), Manacapuru (22), Tefé (19), Coari (18), Itacoatiara (18), São Gabriel da Cachoeira (17) e Borba (16) em suas dependências administrativas urbana e rural.
Matrículas
De acordo com o Atlas “Amazonas Em Mapa”, em 2020 foi registrado 1.157.298 de alunos matriculados no estado, sendo 453.346 na administração estadual, 606.613 na municipal, 86.278 no particular e 11.061 na federal.
Comparado com o ano de 2019, quando foram registrados 1.165.535 matriculas, houve uma redução de 0,70%.
Em 2020, apenas 17,7% dos 62 municípios do Amazonas apresentaram aumento no número de matrículas.
Os municípios que se destacam com o maior número de matrículas, tanto em área urbana e rural, foram Manaus (548.917), Parintins (32.791), Itacoatiara (31.863), Manacapuru (31.360), Tefé (26.901), Tabatinga (23.333) e Coari (22.860).
Na rede estadual foi registrado 453.346 matriculas nos municípios em 2020, havendo uma redução de 6.389, em relação ao ano anterior que apresentou 459.735 matriculas. Já nas redes municipais em 2019 houve 606.694 matriculas e apresentou uma redução de 81 matriculas em 2020.
Professores
O estudo do Atlas “Amazonas Em Mapa” também analisou as funções docentes no Amazonas, na qual foi averiguado que em 2020 foram registradas 52.024 funções docentes, sendo 56,3% são da rede municipal, seguido da estadual (33,8%).
Considerando que o professor (a) pode atuar em mais de uma unidade administrativa, no ramo estadual foram registrados 17.597 funções docentes, sendo 14.875 localizados em área urbana e 2.722 em áreas rurais, com redução de 914 professores, comparado com 2019, que teve 18.511.
No âmbito da rede municipal, o Amazonas apresentou 29.296 funções docentes no ano 2020 e registrou um aumento comparado a 2019, que apresentou 28.330 professores.
Programas do Governo do Amazonas
Conforme informações disponibilizados no site da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), a dificuldade em levar educação gratuita e de qualidade para jovens de todos os municípios é tão gigantesca quanto o território da região, e se torna ainda maior quando se pensa em um mundo de intensas transformações, onde o ensino tradicional já não é o suficiente.
Pensando em políticas educacionais, o governo apresentou o programa Educa+ Amazonas, que inclui 13 projetos prioritários da rede pública, focado em quatro eixos: qualificação e reconhecimento dos profissionais da Educação, recuperação da aprendizagem dos estudantes, preparação do estudante para o futuro e meio ambiente e sustentabilidade.
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