Manaus (AM) – Com origem no dia 8 de março de 1910, hoje é comemorado o Dia Internacional da Mulher, criado no movimento operário liderado por Clara Zetkin. Após muitas conquistas no século XX a Organização das Nações Unidas (ONU) oficializou a data somente na década de 70.
Diante de tantas histórias de lutas, o Vanguarda do Norte inicia, na data de hoje, uma série especial para o mês da mulher, onde por aqui várias representatividades femininas do Amazonas passarão deixando suas histórias e exemplos de grandes mulheres.
Estreando a série de entrevistas estão a vereadora Yomara Lins, a amazonense nota mil no Enem, Rilary Coutinho, a cantora Marcia Siqueira e a lider indigena Vanda Witoto.
Sementes
O Dia Internacional das Mulheres foi plantado em 1908, quando 15 mil mulheres marcharam pela cidade de Nova York exigindo a redução das jornadas de trabalho, salários melhores e direito ao voto.
Um ano depois, o Partido Socialista da América declarou o primeiro Dia Nacional das Mulheres.
A proposta de tornar a data internacional veio de uma mulher chamada Clara Zetkin, ativista comunista e defensora dos direitos das mulheres.
Ela deu a ideia em 1910 durante uma Conferência Internacional de Mulheres Socialistas em Copenhague.
Havia 100 mulheres, de 17 países, presentes, e elas concordaram com a sugestão dela por unanimidade.
A data foi celebrada pela primeira vez em 1911, na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça. E seu centenário foi comemorado em 2011 — então, neste ano, estamos tecnicamente comemorando o 111º Dia Internacional das Mulheres.
Mas o Dia Internacional das Mulheres só foi oficializado em 1975, quando a ONU começou a comemorar a data.
E se tornou uma ocasião para celebrar os avanços das mulheres na sociedade, na política e na economia, enquanto suas raízes políticas significam que greves e protestos são organizados para aumentar a conscientização em relação à contínua desigualdade de gênero.
A proposta de Clara de criar um Dia Internacional das Mulheres não tinha uma data fixa.
A data só foi formalizada após uma greve em meio à guerra em 1917, quando as mulheres russas exigiram “pão e paz” — e quatro dias após a greve o czar foi forçado a abdicar, e o governo provisório concedeu às mulheres o direito ao voto. Um estudo de 2021 da ONU Mulheres com base em 13 países mostrou que quase 1 em cada 2 mulheres (45%) relatou que ela própria ou uma mulher que conhecem sofreram alguma forma de violência durante a pandemia. Como se vê, o caminho ainda é longo.
Isso inclui o abuso que não é físico, sendo o abuso verbal e a negação de recursos básicos os mais
comuns relatados.
Representatividade
Primeira mulher a assumir a Prefeitura de Manaus, a vereadora Yomara Lins (PRTB) é uma das parlamentares mais importantes, figura de destaque no cenário do Amazonas.
Yomara Lins está no primeiro mandato como vereadora. Além disso, ela é advogada por formação, pastora e uma das fundadoras da Comunidade Evangélica Internacional do Avivamento.
A vereadora mostrou a representatividade feminina na política, ao assumir o posto de prefeita em exercício da capital amazonense.
“Estávamos muito distante e já conquistamos bastante, mas precisamos avançar mais”
Yomara Lins
Entrevistada pelo Vanguarda do Norte, a vereadora destacou que há muito o que comemorar porque os espaços têm sido cada vez mais preenchidos por mulheres e isso mostra o quanto a luta e a união da classe feminina vem dando certo e disse que se sentiu honrada em ter sido prefeita da cidade.
“Para mim foi um grande privilégio, uma grande honra, mas também uma grande responsabilidade de ser a primeira mulher a assumir a prefeitura e também pelo fato de representar as mulheres em um cargo tão alto. Então, eu optei em ir para as ruas em vez de ficar no gabinete e mostrar a força das mulheres nas ruas”, destacou Yomara.
A vereadora disse ainda que, com esse gesto, estava mostrando que as mulheres têm grande capacidade de administração, às vezes até mais que homens, pois olham para as coisas com mais atenção e detalhes.
O marco é histórico pois a luta de mulheres por espaços em cargos públicos se estende por muitos anos, ainda assim, temos um número menor de mulheres ocupando esses cargos em comparação aos homens.
“Nós temos muito o que comemorar pelo que já foi conquistado. Estávamos muito distante e já conquistamos bastante, mas precisamos avançar mais.”
Força de vontade e perseverança
Em meio às barreiras derrubadas com muita dedicação e empenho, a estudante amazonense Rilary Coutinho, de 18 anos, superou as dificuldades estando entre os 24 estudantes a alcançar a nota 1.000 na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Aluna da Escola Estadual Tereza dos Santos, no município de Itapiranga (a 227 quilômetros de Manaus) agora e um grande exemplo para os alunos da rede pública de ensino.
A estudante conta que estudar em tempo integral e até mesmo na hora do descanso, foi o que a fez conquistar esse resultado, mesmo sem o auxílio de cursinho, nem mesmo o acesso à internet. “Minha aula era integral, eu estudava das 7h as 16h, quando eu chegava em casa eu tinha mais quatro horas. Isso se repetia nos dias uteis da semana e sábado e domingo eu estudava o
dia todo.”
“Agora eu virei um símbolo de superação onde é um sonho, mas também é um peso, porém uma grande honra”
Rilary Coutinho
Redação para o Enem 2022 veio com o tema “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”, um assunto que exige conhecimento diante das dificuldades enfrentadas pelos povos tradicionais.
“A minha mãe era merendeira em uma comunidade chamada Cayoua, era merendeira numa comunidade ribeirinha, e como o marido dela e professor de lá ela conversava com a gente sobre esses problemas. E eu sabia os desafios e soluções, então eu só coloquei no papel o que vivi e sabia, isso me ajudou bastante”, contou.
Agora a meta é jamais esquerce as raízes. “O incentivo que eu tinha era da minha avó e principalmente do meu irmão mais velho, ele que me incentivava mais quando eu estava estudando. Agora ele ver o que me tornei pra nossa família deixa ele muito feliz também.”
A voz da cultura amazonense
Personagem importante para a história do cenário artístico do Amazonas, a cantora amazonense Márcia Siqueira é um dos principais expoentes da cultura amazonense, com quase 35 anos de carreira – que teve início aos quatro anos –, Márcia Siqueira é natural de Manaus (AM) e já conquistou o respeito da população amazonense por sua atuação cultural marcante, como no Festival Folclórico de Parintins, como levantadora de toadas do boi-bumbá Garantido, posto conquistado em outubro de 2020.
“É uma responsabilidade e uma alegria muito grande poder construir toda essa história com a música amazônica e ser influência para tantas mulheres”
Referência cultural e artística para muitas mulheres, Márcia disse que, no início, não sabia lidar com os depoimentos de outras mulheres que admiravam o seu trabalho e não se enxergava com capacidade para inspirar.
“Com o tempo e com amadurecimento, criei uma responsabilidade em relação a isso, de ser um exemplo e uma referência. Até hoje eu me emociono, seja a cada relato ou história que eu ouço, é uma responsabilidade e uma alegria muito grande poder construir toda essa história com a música amazônica e ser influência para tantas mulheres”, frisou.
Dentre os inúmeros relatos que já ouviu de mulheres durante toda a sua trajetória artística, Márcia relembra histórias de moças que adotaram a sua música por conta da memória afetiva. Por suas composições estarem presentes em rádios comunitárias no interior do Amazonas, as canções da artista já fizeram parte do cotidiano de muitas.
“Já ouvi histórias de moças que passaram a infância e adolescência toda me escutando porque a mãe escutava em casa e tem uma certa memória afetiva, alegando que as minhas músicas fazem parte da vida delas e isso é maravilhoso, é lindo de ouvir. “
A luta da mulher indígena
A luta da mulher indígena que busca igualdade e dignidade em meio a tantos problemas sociais é outro desafio lembrado no dia de hoje. Os povos tradicionais passaram a ter um capitulo especifico apenas na Constituição de 1988 e nos últimos anos, diante do cenário político atual, devido à falta de representantes, as organizações, como os das mulheres indígenas, vêm se organizando para deixar o histórico de exclusão
de lado.
Nesse contexto, está a ativista, professora e profissional da saúde, Vanda Witoto, uma das mulheres indígenas que ganhou notoriedade durante a crise sanitária da pandemia da Covid-19 ao assumir o papel de protagonismo ao reivindicar uma atenção diferenciada e lutar pela sobrevivência dos indígenas, considerados grupos de risco, residentes do Parque das Tribos,
em Manaus.
“Então isso é um grande problema para a gente, porque esse estado elege pessoas que não olham para essa população que está aqui, que na sua maioria é indígena”
Vanda Witoto
“Aqui no estado do Amazonas foram eleitas algumas mulheres e algumas delas falam que a questão indígena, a questão das mulheres negras e LGBTs não são pautas prioritárias dessas das representantes eleitas. Então isso é um grande problema para a gente, porque esse estado elege pessoas que não olham para essa população que está aqui, que na sua maioria é indígena, é negra, são mulheres e pessoas periféricas”, diz Vanda.
“Então a gente não se sente representada por essas pessoas eleitas. E depois de um governo que os seus quatro anos atuou para desmontar toda a política pública construída por essa sociedade, construída pela população negra, construída pela população indígena, ele vem e enfraquece toda as instituições, retira recursos desses dessas políticas. E a gente ainda na Amazônia, a sociedade elegeu governadores e deputados aliados à antiga política, do Bolsonaro”, completa.
Matéria produzida por Feifiane Ramos, Pedro Tucano, Luana Lima e Fernanda Lopes