Manaus (AM) – Quem anda pelas ruas do centro de Manaus pode contemplar um cenário de uma arquitetura antiga, onde cada uma delas tem a sua história. A Belle Époque em Manaus, período de grande desenvolvimento e riqueza por mais de 30 anos, graças à exploração da borracha, foi responsável por esse cenário de construções, com influências da arquitetura francesa, que hoje mistura o antigo com o moderno.
Por esse motivo, ficou conhecida como a “Paris dos Trópicos”, com legado cultural. O Mercado Municipal Adolpho Lisboa é um desses símbolos culturais mais emblemáticos do Amazonas. Recebeu esse nome em homenagem ao prefeito da época. O complexo arquitetônico reúne modernidade e história presente em cada detalhe da obra.
Localizado às margens do Rio Negro, no Centro histórico, o “Mercadão” é um local onde o manauara se reencontra com sua própria cultura, por ser um elemento de identidade da história regional.
Estrutura
Com 140 anos de história, o mercado começou a ser reformado desde 2006 e foi entregue em 2013, na gestão do prefeito Arthur Virgílio Neto, como parte das comemorações do aniversário dos 344º anos de Manaus.
O prédio conta com estrutura em ferro fundido sustentada por 28 colunas, vitrais coloridos e segue o estilo art nouveau (“arte nova” em português), típico da Belle Époque.
Patrimônio
Tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1º de julho de 1987, , o espaço abriga 175 trabalhadores licenciados, em quatro pavilhões.
História
Artista contemporâneo amazonense nascido em Autazes (a 111 quilômetros de Manaus), Otoni Mesquita é um artista plástico reconhecido por seu trabalho como professor e pesquisador.
Em uma pesquisa, Otoni conseguiu reunir elementos que resultaram no livro “Mercado Adolpho Lisboa: História e Arquitetura”, lançado em 2019.
“O mercado foi inaugurado na década de 1880, depois de várias tentativas de construir outros mercados. Foi a segunda grande obra da província. A primeira foi a Igreja Matriz, em 1878”, revelou Mesquita.
No começo do século 20, acrescenta estudioso, o “Mercadão” ganha uma fachada para a Rua dos Barés. Em 1909, ganhou os pavilhões laterais, o de carne e de peixe. Entre 1913 e 1914 foi inaugurado o pavilhão das tartarugas, que ficava de frente para o Rio Negro.
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“No final da década de 1980, houve a implantação do projeto ‘Manaus Moderna’ que cercou o mercado com uma estrada e interrompeu a relação que havia com a praia do mercado, onde também havia comércio por meio das feiras, além das embarcações que aportavam. Mas, mesmo depois da Zona Franca, com o surgimento dos mercadinhos e dos supermercados, o nosso Mercadão continua animado até 2006, quando foi fechado para uma reforma”, pontuou Otoni.
Manaus Moderna
Para o historiador, a recuperação do Mercadão foi determinante para que se tornasse um grande atrativo turístico.
Com tanto tempo fechado, o ‘Manaus Moderna’ ficou com todo o movimento que havia no Adolpho Lisboa. E com sua reinauguração, virou mais local para turistas que vão passear ou fazer compras. Com uma variedade de ervas, produtos naturais, produtos da Amazônia e restaurantes, o Mercado Adolpho Lisboa é um lugar onde guarda suas tradições
Les Halles
O Adolpho Lisboa é considerado uma réplica do Les Halles, antigo mercado de Paris, que leva a assinatura de Gustave Eiffel, mesmo arquiteto da Torre Eiffel e da Estátua da Liberdade.
No entanto, Otoni ressalta que, por mais semelhantes que sejam, o Mercadão não é exatamente uma réplica.
“O mercado de Paris é um modelo que se reproduz no mundo todo, mas não é uma réplica. Pelas imagens que se tem do mercado francês, eu não diria que é uma réplica, sem contar que a origem dele não é francesa. De qualquer forma, essa produção de ferro e vidro era comum nos países como a França, Inglaterra e Bélgica”, explicou.
Turismo
Doutora em Turismo e Hotelaria, Cláudia Araújo de Menezes Gonçalves Martins ressalta que o mercado é uma representação da identidade local.
“Todo mercado representa a sociedade da cidade em que ele está com seus costumes, tradições e inovações. E, para o turismo, é um atrativo muito forte, que estimula o imaginário dos visitantes que, ao visitar o local, se perguntam como foi construído, por que ou por quem”, disse a professora.
“A área poderia ser melhor estudada com vivências em relação aos insumos, culinária, formas de preparo e de tratar os peixes”, sugeriu.
Marcas históricas
De acordo com a turismóloga e Coordenadora do Observatório de Turismo da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Márcia Raquel Cavalcante Guimarães, o Mercado Adolpho Lisboa também carrega a importância cultural e trocas de saberes dos trabalhadores de lá.
“Além de ser um prédio histórico que já tem uma importância pela própria construção, o ‘Mercadão’ também tem marcas do tempo. As marcas que tem acima do local foram feitos por um bombardeio que Manaus sofreu quando se revoltou na época do império, durante a Revolta do Tenentismo”, revelou Márcia sobre a rebelião que ocorreu em São Paulo em 5 de julho de 1924 e encorajou líderes amazonenses.
Segundo a especialista, Manaus foi bombardeada porque se negou a cumprir ordem que vinha do império.
“É por isso que todo turista quando viaja para uma cidade, sempre vai para os atrativos turísticos e os mercados são sempre os primeiros. Lá você tem a cultura popular viva, a verdade do povo, aquilo que não é encenado e fabricado para se mostrar para o turista”, concluiu.
Funcionamento
O Mercado Municipal Adolpho Lisboa funciona de segunda a sábado, das 6h às 17h.
Aos domingos e feriados, o Mercadão abre de 6h às 12h.