Manaus (AM) – A escola é o local onde ensina o aluno a compartilhar experiências e aprendizados. Mas, constantemente as escolas têm se tornado palcos para a prática de bullying, que pode causar danos psicológicos nas vítimas.
Em Manaus, a Câmara Municipal (CMM) aprovou na última quarta-feira (22), o Projeto de Lei que obriga os professores e funcionários de escolas públicas e privadas a denunciarem casos de maus-tratos ou violência contra estudantes menores de idade.
Conforme o Projeto de Lei n.440/2021, de autoria do vereador Rosinaldo Bual (PMN), a denúncia deve ser feita de forma imediata aos órgãos competentes sob qualquer suspeita ou constatação de negligência sofrida pela vítima.
O projeto ainda sugere que devem ser tomadas medidas administrativas contra os servidores das unidades educacionais que tenham conhecimento da prática e não o comunicam. O texto segue para a sansão do prefeito David Almeida.
A Lei nº 13.185, em vigor desde 2016, classifica o bullying como intimidação sistemática, quando há violência física ou psicológica em atos de humilhação ou discriminação. A classificação também inclui ataques físicos, insultos, ameaças, comentários e apelidos pejorativos, entre outros.
Vale lembrar que o bullying não se limita ao espaço físico. A internet é uma terra fértil para o cyberbullying.
Caso
Nos últimos dias, um vídeo que circula nas redes sociais mostra um aluno de uma escola da rede estadual da Zona Centro-Oeste de Manaus, sendo intimidado e levando diversos tapas no rosto por uma outra aluna.
Toda a confusão é acompanhada por um grande número de alunos da unidade de ensino que estavam prontos para filmar toda a ação. Ainda, no vídeo é possível ouvir alguém dizer que estão prontos para o entretenimento.
O fato só parou porque foi interferido por um homem que passava pelo local. Testemunhas relataram que o aluno seria vítima de bullying.
A Secretaria de Estado da Educação (SEDUC) informou que o caso já é antigo, que as medidas cabíveis foram tomadas e mais detalhes não podem ser repassadas devido aos envolvidos, agressora e vítima, serem menores de idade.
Relato
A estudante Manuela Gomes comenta que durante o ensino fundamental saiu do interior e veio morar na capital junto com a mãe. Na época, ela relata que tudo era novidade e descobriu o que era bullying quando começou a frequentar a escola, que ela preferiu não identificar, onde por ser quieta e do interior, foi intimidada e ouvia diversas ofensas por outros estudantes.
“No começo eu não entendia tanta raiva e desprezo que eles tinham. Lembro que sempre ficava nervosa e com vontade de chorar quando chegava a hora de ir para a escola. E no início eu não contava para a minha mãe porque ela trabalhava muito para sustentar a gente e não queria levar problemas para ela”,
relata a jovem.
“Mas chegou um momento que eu não aguentava mais as piadinhas e insultos e acabei desabafando com minha mãe. Ela foi até a escola questionar a coordenação a situação e lembro que eles falavam que não tinham conhecimento do caso. Minha mãe tomou as providências contra os alunos, mas eu não sei qual fim deu, porque eu nunca mais voltei para a escola e fui transferida para a outra”,
completa.
De acordo com a psicóloga Vera Lúcia, os pais e a escola devem estar atentos ao comportamento dos estudantes e terem sempre um convívio onde esses jovens possam se sentir seguros para dialogar e relatar sobre as situações que possam estar passando.
Em relação ao agressor, a profissional explica que existem diversos fatores e um deles é a própria educação. Nesse sentido, o papel da gestão escolar é fundamental, mas quando não há limitações, esse agressor se sente confortável e pratica seus ataques contra outros alunos.
“A falta de limites, inclusive dentro da própria escola, faz com que o agressor se sinta confortável em intimidar, perseguir e até praticar atos de violências contra as vítimas”,
comenta.
Os alvos mais comuns desse tipo de violência, segundo a psicóloga, são pessoas tímidas e que tem dificuldade para se comunicar e não gostam de se expor.
Juntamente com a violência, vêm as consequências. Entre elas, estão aquelas que a vítima não consegue superar e podem ser devastadoras. Geralmente, o primeiro sintoma é o isolamento social.
A psicóloga explica que as vítimas podem acabar tendo depressão, ansiedade e em alguns casos bulimia e anorexia, quando o fator está associado à aparência física.
Combate ao bullying
Há alguns anos, com o intuito de combater a violência na escola, como a prática de bullying, os serviços de streaming como Netflix, vem preenchendo seu catálogo com séries que revelam como são praticadas essas violências (a maioria sul-coreana).
“Elas retratam como é o sofrimento da vítima, e quando não há apoio e acolhimento por parte da instituição de ensino, muitas acabam tirando a própria vida. E é essa realidade que deve ser mudada. Por isso que leis são criadas. Na série, essas leis punem os agressores parcialmente e a vítima, de alguma forma, vence aquele passado cruel”,
argumenta a pedagoga Marilze Simões.
“Mas, na vida real não é bem assim. A vítima vai carregar aquilo para o resto da vida. Ela vai chorar quando lembrar e pode até sentir as mesmas sensações ao lembrar da agressão. Por isso as leis devem ser aplicadas e punir tanto os agressores quanto instituições que acobertam esse tipo de crime. Sim, isso é um crime e deve ser combatido”,
finaliza.