A Doutora em sociologia e Professora da Universidade Federal do ABC Paulista, Camila Nunes Dias, afirma que a superlotação e as condições precárias dos presídios no Brasil, são as raízes do surgimento das facções criminosas no país.
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Para a especialista que também é uma das autoras do livro “A Guerra A ascensão do PCC e o Mundo do Crime no Brasil”, o poder dessas organizações criminosas só reduzirá quando o Poder Público enfrentar diretamente o problema nas prisões.
“Não se aposta na repressão, com regime duro, com armas, bombas (…) não chegarão a nenhum avanço. Enquanto as prisões continuarem sendo celeiros de grupos criminais, a gente não vai resolver o problema. Vai se apagar o incêndio e daqui um ano ou seis meses, vamos falar novamente sobre o assunto porque uma nova crise está acontecendo e é assim, cíclico”, argumentou Nunes.
Em entrevista à Rádio Nacional, a especialista em temas ligados ao sistema prisional, à criminalidade organizada e à segurança pública, Nunes fala sobre a história e atuação dessas organizações no Brasil, após ataques promovidos por uma facção criminosa no Rio Grande do Norte e de operações da Polícia Federal, que prendeu suspeitos com planos de sequestro e homicídio voltado a autoridades e servidores públicos.
Entrevista Ping-Pong com a Rádio
Qual a origem dessas organizações, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e o Sindicato do Crime, que tem sido apontado como responsável pelos ataques no Rio Grande do Norte?
Camila Nunes Dias: Existe algo em comum entre essas organizações. São grupos que a gente costuma chamar de facções. Eles têm origem dentro de estabelecimentos prisionais e está vinculada a reivindicação contra a opressão existente dentro das prisões. É uma reivindicação por direitos.
O sistema prisional brasileiro é violador de direitos, sempre foi e continua sendo. Esses grupos surgem nesse contexto. O Sindicato do Crime, no Rio Grande do Norte surge em 2013 já em um contexto de reação também ao PCC, que estava se espalhando pelo Brasil.
O surgimento do PCC tem alguma ligação com o massacre do Carandiru?
Camila Nunes Dias: Sim, tem uma relação direta. O PCC surge em 1993, o massacre do Carandiru foi em 1992. O surgimento do PCC é uma espécie de união dos presos contra aquilo que entendiam ser uma ameaça à segurança deles. O governo do estado de São Paulo, através da Polícia Militar, promoveu um massacre de 111 presos. Quem garante que não iria se repetir? Nesse contexto que o PCC foi criado.
Sobre os ataques no Rio Grande do Norte, algumas linhas de investigação apontam que as ações seriam uma represália contra as condições dos presídios do estado. A senhora acha que é isso mesmo? Afinal, o que está por trás desses ataques?
Camila Nunes Dias: Do meu entendimento, é isso mesmo. A gente não pode pressupor que as pessoas sejam torturadas reiteradamente dentro de estabelecimentos prisionais, como é o caso do Rio Grande do Norte. Em vários relatórios, incluindo o mais recente no final do ano passado, há relatos de atrocidades cometidas contra os presos por servidores públicos e a negligência, omissão das autoridades que nada fizeram para impedir, punir ou interromper esse processo. Não dá para gente pressupor que isso vai continuar assim, indefinidamente, e não vai haver reação.
Eu estudo o PCC desde 2007 e é sempre assim. Ninguém fala no assunto, sobre as prisões. Quando acontece alguma coisa, as razões são as mesmas, mudam os atores, mudam os lugares e ampliam alguns grupos, como PCC, outros desaparecem. Mas a semente, a origem dos conflitos, o efeito que eles produzem de violência sempre são similares.
*Com informações da Agência Brasil