A relação da América do Norte – e, consequentemente, dos Estados Unidos – com a uva vêm desde os primórdios.
Quando os nórdicos desembarcaram no continente, depararam-se com uma profusão de vinhas selvagens, que cresciam com tamanho vigor, a ponto de fazê-los batizar a terra recém-descoberta de “Vinland”.
Os vinhos da região eram produzidos a partir das variedades locais (Vitis labrusca, Vitis riparia, Vitis rotundifolia, Vitis vulpina e Vitis amurensis), uvas comuns, conhecidas como americanas, que geravam vinhos simples e pouco saborosos.
A partir de 1619 começaram a vir mudas de uvas viníferas e enólogos da Europa para tentar produzir vinhos de qualidade como os franceses, inicialmente na costa leste, com resultados medíocres, principalmente pelo cruzamento com as uvas nativas.
Foi percebido que, naquela região, apenas as uvas nativas sobreviviam ao terroir, uma vez que tinham adquirido resistência a estes males. Destas, os colonizadores passaram a produzir vinhos hoje conhecidos como Vinhos de Mesa.
Tempos depois, na Costa Oeste, um padre franciscano chamado Junípero Serra fundou a missão de San Diego em 1769, levando com ele as uvas de origem espanhola. O clima de calor da Califórnia (na época ainda pertencente ao México) era ideal para a plantação, sendo descoberto um novo terroir ideal para as Vitis Viníferas. Aos poucos, durante quase um século de plantio ligado à Igreja, a viticultura foi se espalhando em todo o estado, transformando-o no reduto da produção de vinho no país.
O Vinho e a Corrida do Ouro
No século XIX, a Costa Oeste sofreu um boom populacional significativo devido à Corrida do Ouro, aumentando proporcionalmente a demanda por vinho na Região.
Não demorou para que a área para o plantio e cultivo das uvas aumentasse exponencialmente, assim como os investimentos nos vinhedos, que fez com o que a produção de vinhos se estabelecesse definitivamente na região.
O pontapé inicial da vitivinicultura moderna da Califórnia foi dado pelo húngaro Agoston Haraszthy que, em 1851, trouxe para o estado um grande número de mudas de variedades europeias e, 10 anos depois, desembarcou com mais 300 variedades diferentes.
Em 1870, as principais vinícolas da Califórnia hoje conhecidas mundialmente já existiam e produziam vinhos de qualidade.
Um ponto relevante também para a Região e principalmente Napa Valley foi o período pós “Lei Seca” que vigorou nos__ Estados Unidos.
muitos vinicultores europeus mudaram-se para a região, trazendo consigo suas técnicas de produção de vinhos de alta qualidade. A produção de vinhos de Napa Valley prosperou nos anos seguintes, tornando-se uma das mais renomadas regiões vinícolas dos Estados Unidos.
Principais Uvas
País de dimensões continentais, os Estados Unidos possuem uma variedade enorme de uvas cultivadas em seus solos.
Destacamos algumas que se adaptaram muito bem ao País.
– Zinfandel é reconhecida mundialmente como “a” uva da Califórnia. Na verdade, equivalente à italiana Primitivo, a variedade é largamente cultivada em todo o estado.
– Cabernet Sauvignon onde os tintos produzidos no Centrall Valley, em sua maioria, são descomplicados, suaves e frutados, com pouco tanino e toques de frutas negras. Já aqueles produzidos em áreas privilegiadas, das quais as mais famosas estão em Napa Valley, são vinhos muito expressivos.
– Merlot é uma casta bastante popular no país. Os melhores vêm das regiões de clima mais frio, como Monterey e regiões da Costa Norte do estado da Califórnia, especialmente de Napa Valley. São vinhos de coloração profunda, taninos sedosos, bom corpo e notas de ameixas e frutas negras, características da variedade.
– Chardonnay clássico da Califórnia é bastante encorpado – quase licoroso – com alta graduação alcoólica, pouca acidez e apresenta notas de tostado, amêndoas e manteiga, paralelamente a sabores exóticos de pêssegos e bananas.
O Julgamento de Paris
Muitos conhecem ou já ouviram falar sobre o Julgamento de Paris, fato tão importante que virou filme.
Este fato, foi a degustação de vinho mais importante do século 20.
Idealizado por Steven Spurrier, ele foi desenvolvido para ser um evento restrito que avaliasse rótulos de vinhos franceses e americanos.
Em 24 de maio de 1976, cerca de 20 vinhos, divididos igualmente entre brancos e tintos e de origem francesa e americana, foram colocados à prova em um teste às cegas.
A promoção da disputa ocorreu como forma de celebrar o bicentenário da independência dos Estados Unidos. Por mais que os vinhos vindos da América não fossem considerados páreos para os de origem francesa, eles estariam ganhando força no mercado.
Com isso, 9 jurados foram convidados para comparecer no que era para ser somente um evento que confirmasse a supremacia dos rótulos franceses.
Porém, a disputa tornou-se um grande advento na produção de vinhos em todo o mundo.
No ocorrido, os degustadores começaram a experimentar os vinhos brancos selecionados. Para a surpresa de todos, o Château Montelena, produzido na Califórnia, foi o vencedor dentro da categoria.
Em um segundo momento, os vinhos tintos entraram na degustação e, mesmo com o sabor implacável dos vinhos franceses, os jurados observaram mais uma vez o rótulo de origem californiana ser eleito como o melhor da rodada.
Vencedor: Cabernet Sauvignon de Napa Valley, o Stag’s Leap Wine Cellars.
A importância do Julgamento de Paris
Após o resultado, onde os grandes vencedores da noite, surpreendentemente, para muitos, foram o Chardonnay e Cabernet Sauvignon americanos, os vinhos participantes foram rapidamente esgotados das prateleiras.
Grandes vinicultores entenderam o movimento como uma afronta (positiva) que os levaram a acreditar que era possível criar rótulos tão bons quantos os produzidos em solo francês.
O resultado da degustação encorajou o mundo a acreditar que os vinhos produzidos fora da Europa também tinham as suas qualidades, inclusive abrindo os olhos das grandes companhias internacionais para esse feito.
Em Napa Valley, local onde foram desenvolvidos os vinhos degustados no Paris, as vinícolas mais do que dobraram em números: passaram de 67 para mais de 400 vinícolas.
Dias Atuais
Os Estados Unidos se posicionaram como um dos grandes no mundo do vinho, tanto em produção, o maior produtor do mundo atualmente em hectares plantados, mas também como um dos maiores consumidores per capita de vinho, ainda longe de países europeus, onde a cultura do vinho está enraizada a séculos, mas se destaca com um consumo superior a 10 litros por habitante/ano, 5 vezes mais o nosso consumo no Brasil.
Espero que tenham curtido junto comigo esta viagem na história do vinho e das curiosidades que pude trazer a vocês.
E me digam, assim como eu, vocês são fãs dos vinhos americanos?
Um abraço, um brinde e até a próxima!!