Os brasileiros amam um vinho chileno. Não é à toa que há mais de dez anos o país lidera as importações da bebida feitas pelo Brasil, tendo cerca de 70% do mercado Nacional.
O vinho chileno é muito apreciado devido ao seu custo-benefício. O país proporciona rótulos de ótima qualidade a um custo acessível, quando comparado às bebidas de outras nacionalidades. Mas vale lembrar que há vinhos chilenos com valores mais altos no mercado!
Para abastecer o mercado brasileiro, o Chile desfruta de uma política de baixos impostos, valoriza a sustentabilidade nas vinícolas e conta com regiões ideais para cultivar seus vinhedos, com técnicas de vinificação tradicionais e inovadoras.
O “milagre” do vinho no Chile
“Pedimos videiras e vinhos para evangelizar o Chile”. Esse foi o pedido feito por Pedro de Valdivia ao Rey Carlos V da Espanha em uma carta, no dia 4 de setembro de 1545. Os conquistadores haviam chegado há alguns anos ao nosso país e o vinho era fundamental para cumprir com a missão evangelizadora dos povos nativos.
Após a carta, chegou um carregamento de vinho do Peru e as primeiras videiras da Europa. Apesar de que as parreiras tenham sido plantadas em varias áreas da região, somente quando chegaram no Chile encontraram essa junção perfeita clima e terra para produzir uvas dignas de se transformarem em vinho.
Durante os primeiros anos da colônia, nos arredores de Santiago foram plantadas as primeiras parreiras, sendo que muitos personagens da história do País foram os primeiros donos de vinhedos.
As plantações foram se estendendo em todo o território chileno, desde Coquimbo à Concepción, porém Não o sistema para o cultivo da videira trazido pelos espanhóis e a tecnologia em produção de vinhos se manteve sem alterações até meados do século XIX.
O Renascimento da Indústria Vitivinícola do Chile
No século XIX, o Chile tornou-se independente das leis espanholas e as famílias mais abastadas passaram a viajar para a Europa. No Velho Continente, tiveram a oportunidade de provar os vinhos franceses e assim perceberam que podiam produzir vinhos de qualidade superior. O que deu início à era moderna da indústria vitivinícola no país.
Em 1863, o mundo do vinho se viu diante de uma das maiores tragédias de sua história: a Filoxera, um pulgão que destruiu vinhedos em todo o planeta. Com exceção do Chile.
Sua geografia única serviu como barreiras naturais impedindo o ataque da praga.
Esta catástrofe mundial, de certa forma beneficiou a industria do vinho neste país, uma vez que protegida da praga, muitos enólogos europeus migraram para o Novo Mundo, contribuindo para o desenvolvimento de seus vinhos.
Carménère: A Uva que Renasceu no Chile
Por muito tempo, na França, principalmente nas propriedades de Bordeaux, a Carménère e a Merlot eram cultivadas juntas, até por terem um tempo de amadurecimento bastante parecido.
Tornaram-se extremamente tradicionais em Bordeuax e em outros cortes franceses até que no fim do século 19, a Filoxera devastou os vinhedos da França e por consequência, muitos enólogos e agrônomos trouxeram castas europeias para a América na tentativa de recuperá-las.
Foi então que a Carménère chegou ao Chile confundida com a Merlot – além de serem fisicamente parecidas, a Carménère, como era colhida junto com a Merlot, também ganhava notas herbáceas. E durante anos a fio as duas foram plantadas, vinificadas e consumidas como se fossem a mesma.
Até que alguns enólogos no Chile começaram a perceber que algumas vinhas de “Merlot” demoravam mais para amadurecer e decidiram fazer análises comparativas.
Só então descobriu-se que eram uvas diferentes e as notas verdes e os taninos duros da Carménère só se destacavam tanto porque ela estava sendo colhida no tempo errado, é uma uva de maturação mais tardia do que a Merlot.
A Carménère foi dada como extinta, até o ano de 1994, em que foi redescoberta, tornando-se a Uva ícone do País.
Os vinhos de Carménère
Os vinhos varietais (feitos apenas com um tipo de uva) elaborados com a Carménère têm sabor marcante, são frutados e adocicados, apresentam acidez média e são bem encorpados. Muitos dizem que ela é um meio termo entre Merlot e Cabernet Sauvignon.
Se colhidas no amadurecimento correto, o vinho apresenta aromas de frutas negras, como ameixa e cereja, pimenta preta, terra molhada e herbáceos. Os rótulos envelhecidos em barris de carvalho têm complexidade e notas de chocolate, tabaco e baunilha. Sua coloração é um vermelho intenso e profundo e sua textura é aveludada e sedosa.
Por conta de sua acidez acentuada, os vinhos Carménère harmonizam perfeitamente com receitas salgadas e com tendência ao amargo, como carnes vermelhas com pouca gordura ou carnes de porco. Já em aperitivos, você pode degustar a bebida com:
- azeitonas;
- peru assado;
- queijo parmesão;
- queijo muçarela;
- saladas.
A dica é não combinar o vinho Carménère com comidas mais ácidas, como as feitas com molho de tomate. Sendo assim, ele não é a melhor opção para acompanhar um prato de massa ao sugo, por exemplo.
Vinhos Chilenos na atualidade
Uma das principais características mundialmente reconhecidas pelo vinho chileno, é a significativa quantidade de vinhos sustentáveis produzidos pois não é novidade que a sustentabilidade tem se tornado uma pauta cada vez mais relevante na atualidade, e, felizmente, o cuidado com o meio ambiente fazem cada vez mais parte dos vinhos produzidos neste país, seja pela boa qualidade do solo, o isolamento geográfico – que reduz a necessidade de agentes químicos – ou até mesmo pelas políticas de produção da bebida.
Os vinhos chilenos são produzidos há séculos, e esse fato que fez com que a elaboração da bebida fosse manual por muito tempo. No entanto, nos últimos anos, o país tem se dedicado de maneira exemplar para modernizar a produção e investir em novas tecnologias.
No futebol, a grande rivalidade na América do Sul se dá com Brasil x Argentina.
No vinho, temos Chile x Argentina.
A proximidade geográfica dos dois países faz com que muitos imaginem que ambos os locais compartilhem as mesmas relações culturais em relação ao vinho e que os sabores dos mesmos sejam até parecidos, de certa forma, não é?
Pois isso é um mito!
Os dois entregam vinhos de excelente qualidade e são extremamente relevantes para o Novo Mundo, mas o resultado final dos produtos são bem diferentes.
No fim das contas, o importante é que ambos são super queridos aqui no Brasil! Qual é o seu favorito?
Agora que você já sabe um pouco sobre os vinhos chilenos, que tal abastecer a sua adega com os seus favoritos? Um brinde!
Um abraço, um brinde e até a próxima!!