Que diferença seis segundos podem fazer na vida de uma pessoa? Para alguns, essa fração de tempo não significa nada, mas para o empresário e amante de esportes radicais Erick Lira esses poucos segundos foram “decisivos” para que a sua vida mudasse drasticamente.
Erick, “milagrosamente”, renasceu em 2019 após sobreviver a uma queda de 109 metros, enquanto saltou de uma antena telefônica, na modalidade “Base Jump” (o salto é feito de pontos físicos, e não de aviões), no km 214 da rodovia AM-010, que liga Manaus ao município de Itacoatiara (distante cerca de 275 km da capital amazonense). No ocorrido, o paraquedas dele não abriu.
O esportista teve o fêmur da perna esquerda quebrado em sete partes, cinco costelas quebradas, fissura na coluna cervical e politraumatismo craniano. As piores fraturas foram do lado direito: braço, punho, joelho e tornozelo. Ele ficou cerca de 10 dias em coma.
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A sua história de superação virou o livro “Seis Segundos: morre o homem, nasce a lenda”, que será lançado nesta sexta-feira (28), em Manaus. Em entrevista ao Vanguarda do Norte, o empresário falou sobre a obra e a sua luta pela sobrevivência.
Vanguarda do Norte: O que a obra “Seis Segundos” representa para você e para a sua história?
Erick Lira: “Seis segundos”, para mim, é a realização de um projeto que eu nunca imaginei que fosse conclui. Trabalho em livraria há cerca de 30 anos e sempre trabalhei com livro, mas nunca imaginei que fosse para o outro lado da estante e me tonar um autor. Mas, não é o livro em si é a história que é contida dentro do livro. Rememorar, reviver e relembrar de tudinho foi e é muito especial para mim.
VDN: A sua história é um exemplo de vida e totalmente surpreendente. Muita coisa pode acontecer em seis segundos e um fato é de que a sua vida mudou drasticamente nessa fração de tempo, certo?
Erick: Exatamente! Seis segundos, para algumas pessoas, é pouco tempo, mas o tempo é relativo. Se você for ver, muitas pessoas reclamam que um segundo é pouco, mas pergunta o que é o que é um milésimo de segundo para um corredor da Fórmula 1 ou o que é um dia para quem está em condicional. É tudo muito relativo. Então, o tempo de seis segundos que levei para cair de 109 metros até o chão mudaram a minha vida drasticamente e em todos os sentidos.
VDN: Outro ponto interessante da sua história é que, apesar de tudo ter sido causado pela prática de um esporte consideravelmente perigoso e arriscado, você não “condena” quem o pratica. Inclusive, você foi capaz de ressignificar tudo o que aconteceu e, cerca de um ano após o ocorrido, continuou a praticar o esporte. Como está descrito no prefácio do livro, dor mesmo seria não poder continuar a ser quem você é?
Erick: O esporte que me acidentei é o Base Jump que, em Manaus, duas ou três pessoas devem praticá-lo. É m esporte ilegal e irresponsável, isso que me atraía. O que mais me atraiu foi que quem pratica o Base Jump regularmente tem uma expectativa de vida de quatro ou cinco anos, aí logo falei que achei o meu esporte. Eu já era paraquedista e são dois esportes completamente diferentes e, depois do acidente, voltei ainda maior para o paraquedismo e retornei em menos de um ano. Tanto que explico no livro as divergências entre ambos para que as pessoas, quando me virem fazendo algo não me achem inconsequente ou que eu “não aprendi nada”. O paraquedismo, de uma certa forma, me incentivou e deu forças para querer voltar a andar e voar.
VDN: A obra “Seis segundos” foi escrita com o intuito de levar e mostrar a personificação do amor e a misericórdia do poder divino para os leitores. Como tem sido para você se ver como um disseminador e, até mesmo, como um “propagandista” da esperança?
Erick: Eu me sinto privilegiado e honrado desde o momento em que eu entendi o que Deus tinha reservado para mim e “Seis Segundos” foi escrito para isso, com o intuito de mudar e edificar vidas, seja espiritualmente, emocionalmente ou fisicamente. Cada pessoa que lê tem uma perspectiva diferente. Recebi feedbaks de pessoas que estavam precisando de um incentivo para queres viver, que não davam o devido valor a vida por terem se machucado ou quebrado uma perna e que estavam tristes por conta disso. Muitas dessas pessoas viram o tanto que eu quebrei e como estou hoje. Por outro lado, também teve um professor de Educação Física usou o meu exemplo para a parte desportiva para mostrar a influência da prática do esporte na vida das pessoas.
Além disso, também tem o ponto de vista seguindo a linha espiritual pois, se não fosse o agir de Deus eu não estaria aqui e nem é preciso comentar sobre. No livro eu não cito a palavra “milagre” pois é o óbvio A pessoa vê que o cara está vivo após uma queda dessa, não precisa dizer que é um milagre. A linha espiritual nesse livro é muito sutil.
VDN: Ao olhar para trás e lembrar de tudo o que você enfrentou, o que você sente? Qual o primeiro pensamento que vem à sua mente?
Erick: Eu sinto um pouco de dor, é um misto de emoções. Enquanto estava escrevendo, tinha dias que escrevia dois ou três capítulos, e tinham semanas que passava sem escrever nada. É muito difícil você relembrar o tanto de dor, sofrimento e desespero que eu senti no momento. Eu queria gritar, tirar a minha própria vida de tanta dor. Não conseguia comer, falar, andar, fazia absolutamente nada.
Mas hoje, olhando pra trás, eu sou grato. Gratidão é a palavra que movimenta o meu dia, sou muito mais grato e feliz do que nunca. O meu estilo de vida mudou, eu vivo e amo ter uma família para chamar de lar. Eu amo voltar para casa.
Lembro quando foi a primeira vez que consegui escovar os dentes ou ir ao banheiro sozinho. Passei a enxergar e entender que vida é um grande milagre. Você começa a ver que o viver é um milagre, além de passar a ser mais grato e viver grato é bem mais legal do que viver reclamando.
VDN: Quanto tempo levou o processo criativo do livro e, ao finalizar, como foi para você ver tudo o que viveu e enfrentou escrito em quase 300 páginas?
Erick: Gostei bastante do resultado. Levei de nove a dez meses para concluí-lo. Foi difícil, mas eu gostei. Ficou algo bem do coração.
É um livro contato na terceira pessoa, pois estou narrando a história do Erick e, o que para mim, ficou mais difícil e fácil em determinados momentos. O livro é dividido em duas partes: primeiro morre o homem e depois nasce uma lenda. Como estava em coma, a primeira parte é muito baseada em relatos de pessoas que estavam por perto, como os meus amigos que estavam comigo e me salvaram, a junta médica de Itacoatiara e de Manaus, a minha esposa e o restante da minha família. Ou seja, peguei um compilado de todas as versões que tinham e colocar no papel para virar uma versão só.
VDN: Existem inúmeros escritores amazonenses e, em especial manauaras, que carregam consigo obras de leituras indispensáveis. Porém, são poucos que contam nelas experiências não-ficcionais e que realmente foram vividas – sem contar que você fez questão de reunir inúmeras versões e olhares de um único fato. Apesar de tudo, creio que deve ser gratificante para você ser um dos precursores nesse segmento.
Erick: Fico feliz de ser precursor em qualquer coisa, especialmente, coisas boas. Mas, não fico tão feliz assim pelo fato da minha história ter sido bem difícil. Foi complicado ter que passar por tudo isso, mas, admiro muito a pessoa que escreve. Principalmente aqui na nossa terra. Infelizmente, o nortista não tem o hábito da leitura. Cerca de 30% das pessoas maduras que eu conheço disseram que o meu livro era o primeiro livro que iriam ler na vida e fico muito triste por isso. Esse foi um dos motivos que me incentivou a lançar, divulgar e escrever o livro aqui na terra, ao invés de tentar fazer algo diferente.
Considero o meu livro bem atrativo. É uma autobiografia, mas com um pouco de ficção que pode ser notada no romance da história, que faz com que fique atraente. Espero que a pessoa que for comprar o livro entenda e tenha vontade de ler mais e mais.
No dia do lançamento até brinquei que “não queria dar spoiler”, aí falaram que o fato de eu estar ali para contar a histona já é um spoiler, mas leiam o livro até o final que vocês vão ver que não é só o Erick que está vivo
VDN: Para finalizar, qual mensagem que você deixa para aquela pessoa que não se sente grato pelo o que tem?
Erick: Se as pessoas aprenderem a agradecer mais e ver como Deus é bom, o que Ele faz e o fôlego de vida que ele nos dá, vão entender mais o sentido de tudo. Ele não nos criou para passar o dia reclamando e não é desse jeito que ele quer que vivamos. A dica que eu dou é, como diz as escrituras, entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele que o mais ele fará. E ele faz tudo. Então, é você entregar a Deus as aflições, preocupações e buscar em primeiro lugar o reino de Deus, que todo o resto será acrescentado.
A minha vontade é que as pessoas possam ser edificadas com esse livro, que elas possam sentir e ter a experiência, a mesma experiência que eu tenho toda vez que eu leio. É um livro emocionante, é um livro que vale a pena se investir. E eu convido a pessoa a investir em si mesmo. Eu tenho certeza que você vai terminar o livro com mais vontade de viver, entendendo que viver é um grande milagre e que tudo pode mudar em seus segundos.