O povo brasileiro, alegre por natureza, ainda não descobriu o quanto a sua felicidade seria mais completa se consumisse mais vinho. Tratado até recentemente como bebida de uma “elite esnobe”, o vinho hoje já é encarado como uma bebida normal e o consumidor neófito vem descobrindo que sempre existe um vinho para o seu gosto e que cabe em seu bolso.
Assistimos hoje uma revolução no consumo, mas essa euforia tem só 40 anos, porque foi só a partir dos anos de 1970 que o vinho começou a se expor ao consumidor e recebeu uma roupagem de comunicação que não tem volta.
Dia Nacional do Vinho, uma data a ser comemorada!!!
O Dia Nacional do Vinho é comemorado no primeiro domingo de junho, que neste ano é no dia quatro.
O projeto de lei que institucionalizou o Dia Nacional do Vinho é de 2008, mas apenas em 2015 o senador Lasier Martins encaminhou o requerimento à publicação. Em 2017, o projeto foi aprovado e desde então se é comemorada a data.
A ideia de um dia nacional do vinho surgiu a fim de enaltecer a produção sulista, mas hoje, esta data já é comemorada, além dos três estados do sul, em São Paulo, Minas Gerais e outros estados.
O Brasil tem uma área de produção que alcança cerca de 79,9 mil hectares. As cerca de 1,1 mil vinícolas nacionais movimentaram, até o dia nacional do vinho do ano passado, mas de R$9 bilhões. A produção ficou em torno de 200 milhões de litros de vinho e 120 milhões de litros de espumante.
Um pouco da História do Vinho no Brasil
Embora muitos pensem que os primeiros plantios de uva no Brasil ocorreram no Rio Grande do Sul, eu lamento desapontá-los. Todo esse caminho da viticultura no Brasil surgiu em 1532 através de Martins Afonso de Souza, que trouxe as primeiras mudas de videiras para o País e foram cultivadas por Brás Cubas, fundador da cidade de Santos, São Paulo. As primeiras mudas foram cultivadas na Serra do Mar, onde hoje se localiza a cidade de Cubatão.
No entanto, as primeiras tentativas não lograram êxito. A continuidade de tentativas na produção de vinho nacional e persistência de Brás Cubas em fazê-lo, somente lograram êxito ao cultivar as videiras na região de Tatuapé, de onde surgiram os primeiros vinhos que eram “suportáveis” ao palato, evoluindo a região da viticultura para as regiões de São Vicente até a região de Mogi das Cruzes. Sendo reconhecido o feito pela Câmara Municipal de São Paulo.
Não eram vinhos de grande qualidade, mas eram melhores do que os vinhos que eram transportados de Portugal para o Brasil e chegavam, por vezes, estragados e impossíveis de serem degustados.
Concorrência do açúcar e ouro
Neste mesmo período, os holandeses chegaram ao nordeste do Brasil e logo se dedicaram à exploração do açúcar. Quase uma centena de engenhos no entorno de Recife e interior de Pernambuco pertencia a judeus holandeses e cristãos novos portugueses. Para suprir o consumo de vinhos dessa gente, quer para acompanhar os ritos religiosos ou para as refeições,
Maurício de Nassau inicia o cultivo de videiras na Ilha de Itamaracá e sem nenhuma modéstia revela: “São as melhores uvas desta terra”, tanto que manda pôr três cachos das mesmas no Brasão Armas da ilha, criado pelo pintor Franz Post.
Logo toda a euforia agrícola que o vasto território oferecia foi posta de lado com a descoberta de ouro “nas Gerais e em Goiás”. Teve início então o abandono em todo o Brasil das culturas agrícolas e o sonho de ficar rico com o ouro da noite para o dia tomou conta do povo. Chegou-se ao cúmulo de faltar alimentos em todo o território, porque os braços que antes cultivavam e colhiam agora lavravam o ouro.
Assim, um barrilete de 5 litros de vinho era vendido em Vila Rica por 700 gramas de ouro. O vinho acabou virando objeto de desejo e símbolo de riqueza.
O Renascimento
Em 1742, com a chegada de algumas famílias de açorianos e madeirenses, que se radicaram em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul, foi que a viticultura no Brasil começou a renascer.
Mesmo diante de tantas adversidades e imposições advindas da Coroa Portuguesa nas limitações e nos impedimentos de produção do vinho nacional, através da determinação da Rainha Dona Maria I que, em 5 de janeiro de 1785, proibiu toda e qualquer atividade manufatureira na colônia. Incluindo a viticultura.
O Caminho para a Independência e a ocupação do Sul
Com Napoleão infernizando a Europa, a família real portuguesa chega ao Brasil em 1808. Com ela, 90% da corte e mais centenas de pessoas letradas e profissionais liberais vieram também.
Os 13 anos de permanência de Dom João VI no País, com a sua corte e a abertura dos nossos Portos, trouxeram muitos vinhos para cá de todas as partes do mundo.
No entanto, não se pode esquecer que, a partir de setembro de 1756, Portugal nos impôs grandes cotas de Vinho do Porto, através dos escritórios sediados em Recife, Salvador e Rio de
Janeiro, da Companhia Geral da Agricultura dos Vinhos do Alto Douro. Todo Vinho do Porto que os ingleses não compravam, comprava o Brasil em 1821, com a partida da Coroa Portuguesa para Portugal, o caminho ficou aberto para D. Pedro I proclamar a Independência do Brasil em 7 de Setembro de 1822 e determinar inúmeras medidas que alteraram o curso do cultivo de uvas e da produção dos vinhos nacionais. Que ganhou força em 1824 ao ser determinado pelo Imperador D. Pedro I que realizassem uma ocupação em massa na região sul do País, em especial nas divisas com Argentina, Paraguai e Uruguai.
Com tais medidas, o governo criou margem para que várias pessoas fossem para o Sul, sendo a região primeiramente ocupada por algumas famílias alemãs, quando ocorreu o plantio bem sucedido da casta Isabel.
A casta desenvolveu muito bem e ganhou qualidade no produto final, sendo razão para disseminar a viticultura pelas colônias alemãs dentro da região de São Leopoldo, alcançando Pelotas, Gravataí, Montenegro, Viamão e municípios do Vale dos Sinos. Todo esse avanço entre 1840 e 1860.
Os Italianos
A Itália que hoje conhecemos, criada a partir de 1870, vivia dias de miséria, incertezas e amargura. Atravessar o Atlântico e ter um punhado de terra só seu – de onde pudesse tirar o sustento de sua família – era o sonho dourado de milhares de italianos. As duas necessidades se completaram entre os anos de 1870 e 1875. Assim, o exército brasileiro mapeia uma grande porção de terra na Serra Gaúcha, traça estradas, divide lotes com tamanhos diversos e inicia a venda desses lotes às famílias italianas, que tinham 12 anos para pagarem por essas terras.
Então, uma verdadeira odisseia implantou-se na Serra, abastecida de determinação e coragem desses imigrantes italianos nascidos no Vêneto, Lombardia e Trento. Um grande fluxo migratório perdurou por 10 anos e esse povo deu início ao que chamamos de “indústria vinícola brasileira”.
1920, nasce o olhar para a qualidade
A partir de 1920, o produtor, agora com mais experiência de campo, dá os primeiros passos na busca de maior qualidade para os seus vinhos. Ele começa a olhar para as uvas vitiviníferas, cujo rendimento na produção é menor, mas a qualidade do produto é muito maior. Em 1929, é fundada a Sociedade Vinícola Rio Grandense.
Como resultado positivo, a Sociedade estimulou muitos produtores e, assim, no início dos anos 30 a Serra Gaúcha assistiu ao nascimento de mais de 25 cooperativas, muitas delas resistindo bravamente até os dias de hoje e fazendo muita história com a gama de vinhos que disponibiliza no mercado.
O desafio nos dias atuais
Um dos principais desafios de hoje é aumentar o consumo per capita que hoje está em torno de 2litros/habitante (considerando a população acima de 18 anos).
Países que tem a cultura do vinho enraizada em sua história como Portugal, este consumo chega a 66litros/ habitante.
Vivemos o nosso melhor momento, novos terroirs sendo explorados, novas castas, Dos homologadas, modernização dos processos e profissionais capacitados nas melhores escolas do mundo.
Não há dúvida que o futuro do vinho Nacional é de fantástico. Já é uma realidade nos espumantes, que muito nos orgulham e logo seremos mundialmente reconhecidos também pelos nossos vinhos tranquilos.
E estaremos aqui, comemorando juntos quando este dia chegar. Um viva ao Vinho Nacional,
Feliz 04/06/2023.
Um abraço, um brinde e até a próxima!!