“E vós, quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. É Pedro que se adianta e confessa que Jesus é o Messias, o Filho de Deus vivo. Ele pronto a responder, mas também frágil e inseguro. O pescador de uma noite inteira sem fruto de pesca; o recolhedor das redes vazias: “Senhor nada pescamos”. E diante da tensão do julgamento, da condenação, a traição, três vezes nega a Jesus. Um homem frágil, indeciso, às vezes tomado de medo e temor. “Jesus amou-o desinteressadamente e apostou nele. Encorajou-o a não desistir, a lançar novamente as redes ao mar, a caminhar sobre as águas, a olhar com coragem para a sua própria fraqueza, a segui-lo pelo caminho da Cruz, a dar a vida pelos irmãos, a apascentar as suas ovelhas. Deste modo libertou-o do medo, dos cálculos baseados apenas nas seguranças humanas, das preocupações mundanas, infundindo nele a coragem de arriscar tudo e a alegria de se sentir pescador de homens” (Papa Francisco, São Pedro e São Paulo, 2021). Pedro o discípulo que ofereceu sua vida por Jesus. Depois de libertado de sua fraqueza, depois de confirmar os irmãos deixou-se crucificar por amor a Jesus. Nas suas idas e vindas, nas afirmações e negações, foi sendo libertado. A ele Jesus entregou as chaves para abrir as portas para a fraternidade e a bondade, a ligar os irmãos e irmãs a Cristo e desatar os nós e as correntes das vidas sofridas e desconsoladas.
“Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. O Senhor esteve a meu lado e me deu forças; ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão” (2Tm), escreveu São Paulo. Um homem que olha para os últimos dias com o olhar da história, da sua pregação, da sua dedicação. Um homem libertado, a serviço da pregação do Evangelho. Uma vez convertido tudo fez para que Jesus fosse conhecido, amado e fosse o Senhor da vida e da morte para todos. Perseguido, atacado, levado ao tribunal, sofreu tribulações, mas não deixou de pregar o Evangelho, a Boa Nova de Jesus. Libertado do zelo religioso fariseu que o tornara fanático na defesa das tradições recebidas e violento ao perseguir os cristãos, Paulo foi imbuído do Crucificado Ressuscitado. A observância formal da religião e a defesa implacável da tradição, o abriu ao amor de Deus insaciável e gratuito e ao cuidado dos irmãos. Ele sentiu-se libertado! Deus que o libertou, não o poupou das fraquezas e das dificuldades. Elas tornaram mais fecunda a sua missão evangelizadora: canseiras do apostolado, enfermidade física. As violências e perseguições, os naufrágios, a fome e sede, e um espinho que o atormentava na carne o fez seguidor, imitador de Jesus (cf. Papa Francisco, São Pedro e São Paulo, 2021).
“Num só dia celebramos o martírio dos dois Apóstolos. Na realidade, os dois eram como um só; embora tenham sido martirizados em dias diferentes, deram o mesmo testemunho. Pedro foi à frente; seguiu-o Paulo. Celebramos a festa deste dia, para nós consagrado com o sangue dos dois Apóstolos. Amemos e imitemos a sua fé e a sua vida, os seus trabalhos e sofrimentos, o testemunho que deram e a doutrina que pregaram” (Santo Agostinho, Sermão 295)
Cardeal Leonardo Steiner
Arcebispo de Manaus