A queda inesperada de 2% do Índice de Atividade Econômica (IBC-BR), do Banco Central — um termômetro da atividade econômica e por isso considerado a prévia do PIB do IBGE — não tem um só motivo. Vários fatores explicam a desaceleração, inclusive a taxa de juros alta.
É verdade que o agronegócio influenciou. Maio é o último mês de colheita da soja. Portanto, o volume colhido é menor do que o do primeiro trimestre. O valor do grão no mercado internacional também caiu em maio, o que não ajudou.
A base de comparação alta do primeiro trimestre também explica essa queda. A super safra de soja e de milho puxaram o PIB do agronegócio para cima e com ele toda a economia. Em abril, o IBC-br havia mostrado um leve aumento de 0,56% em relação a março.
O que ninguém esperava era a queda de 2%. A maioria dos analistas acreditava em estabilidade, ou seja, em torno de 0%.
Mas tudo isso estava na conta das projeções de mercado feitas até então. O PIB do primeiro trimestre não foi surpresa, já se sabia que a base de comparação seria alta. E o fim da colheita de soja também não. O que muitos não esperavam foi a queda do varejo, que na última sexta mostrou baixa de 1%.
Nem o Dia das Mães ajudou a melhorar o resultado. A expectativa, também neste caso, era de estabilidade. A taxa de juros, em dois dígitos desde fevereiro de 2022, tem encarecido o crédito mês a mês.
Com a queda da renda média real de 1% no ano passado, o bolso apertou. Nesse período o preço dos alimentos subiu 11,64%.
Para este ano, apesar de quedas recentes no preço dos alimentos, a projeção é que ainda assim feche o ano positiva, em alta de 3%. Ou seja, o custo para trazer comida para casa não vai diminuir. Muita gente começou a fazer compras de itens básicos no crédito.
Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) 69% das compras feitas no cartão vão para compra de alimentação ou de supermercado, por exemplo.
A quantidade de compras parceladas cresceu tornando ainda mais difícil o controle financeiro. Praticamente metade dos consumidores (47%) não faz o planejamento das compras parceladas. A chance de se enrolar aumenta.
O crediário também ficou mais caro acompanhando o aumento da Taxa Selic. Em janeiro de 2021 ela estava em 2% ao ano. Em fevereiro de 2022, já havia pulado para 10,75% até chegar em agosto aos atuais 13,75%.
E isso se refletiu exponencialmente nas taxas de juros cobradas nos financiamentos. O resultado é a inadimplência recorde registrada mais uma vez pela Serasa: 72 milhões de consumidores na lista de nomes negativados.
Os livros de economia mostram que em média os efeitos da política monetária – neste caso dos juros sobre a atividade econômica – demoram 18 meses para aparecer. E são 18 meses desde que a nossa taxa básica pulou para os dois dígitos.
Ou seja, o desaquecimento que vemos na economia é em parte reflexo dos juros altos que temos desde o ano passado. Com inadimplência maior, muitos consumidores ficam à margem do mercado de consumo porque têm o crédito restrito. E, segundo o IBGE, o consumo das famílias é o grande motor da economia: representa 65% da composição do PIB.
Segundo economistas, esta queda de maio pode ter sido um ponto fora da curva. De qualquer maneira não se espera daqui para frente taxas de crescimento grandes. Ainda assim, as projeções são de aumento de cerca de 2% a 2,5% do PIB.
O primeiro trimestre forte garantiu o ano. O resultado do PIB medido pelo IBGE no segundo trimestre deste ano sai dia primeiro de setembro. Certamente será mais fraco do que o primeiro. Resta saber o quanto a economia está pisando no freio.
*Com informações CNN