“O Reino dos Céus é como um homem que semeou boa semente no seu campo.Dormindo veio o inimigo, e semeou o joio no meio do trigo, e retirou-se.” (Mt 13,24-43).
Lançada na terra, a semente se aninha, lança raízes, apresenta lenta e silenciosa as suas folhas verdes. No campo aberto, sinaliza o dom de seu verdor, a vida que deseja multiplicar-se. Na alegria que a brisa oferece não se apercebe do incômodo e sofrimento que a rodeia.
Na mesma medida em que cresce, cresce também o joio. No campo aberto, o semeador percebe que cresce também o que não é trigo. Difícil distinguir! Só os cultivadores experientes percebem a sua presença-perigo. Essas gramíneas que prejudicam os trigais por serem parasitadas por fungo tóxico em suas sementes. Não é aconselhável consumir farinha desse grão ou farinha misturada dos grãos tóxicos.
Num mesmo campo trigo e joio. Num mesmo campo, o mesmo solo, o mesmo sol, a mesma chuva, mas frutos diversos. Um fruto saboroso quanto grão triturado: farinha e pão cozido; outro: fungos tóxicos que podem levar à morte.
A semente, a vida humana, não cresce e não chega à maturidade, à frutificação, à colheita, sem experimentar as contrariedades, as fraquezas, as desilusões, os desânimos, as frustrações. A mesma terra que nutre o pé de trigo, nutre o pé do joio.
O caminho da semente, da Palavra, às vezes é longo. Exige paciência, humildade, para perceber a transformação que pode ocorrer. Quanta desarmonia, discórdia, insatisfação, intriga, desconforto e ao mesmo tempo quanto desejo de amizade, de aconchego, de perdão, de reconciliação, de harmonia, de vida frutificada. Joio, cizânia: a discórdia, a briga, a rixa, a desavença, a falta de harmonia. Trigo: viço, força, graciosidade que vem à luz, vida-flor, florida; fruto saboroso.
Na escuta e palpabilidade, voltar o olhar para as limitações e fraquezas. No descuido e distração às vezes não nos damos conta da maior atenção à cizânia que ao trigo; e às vezes nos apercebemos cheios de desejos de eternidade, de cuidado, de entrega. Vamos caminhando e vamos tentando. Mas, o grande desejo seria arrancarmos de nós os conflitos, as contradições, as tentações, as fraquezas, a finitude. Essas nossas incapacidades, incompreensões, tensões que tiram a tranquilidade e levam ao quase ao desânimo.
E a tentação é de livrar-se da finitude humana carregada de fraqueza. Quantas vezes até promessas são feitas, para o livramento das fraquezas que afligem, e elas continuam. Quantos pensamentos, sentimentos, desejos contrários à vida do Evangelho. E luta para desfazer, superar, desvencilhar desses incômodos existenciais. E estarão conosco até a hora de nossa morte. Livrar, rejeitar a nossa finitude, a nossa humanidade frágil? Paulo tem uma frase que sempre encanta: “quando sou fraco, então sou forte”.
Deus paciente e maternalmente oferece as sementes do Reino de Deus, assim deveríamos nós, paciente e paternalmente, cultivar a graciosidade do Reino de Deus. Perseverar no caminho, deixar frutificar a vida do Reino de Deus com a simplicidade, a pequenez, a humildade e o vigor da semente de mostarda. Com a paciência e misericórdia do fermento que vai levedando a massa. Na finitude está a salvação: Cruz! Na graça e na confiança de que o Reino de Deus e sua justiça é a vida aqui e agora do Reino definitivo.