Notei que a sala se ressentia da falta de um piano. Sim, porque um piano, de cauda ou não, mas daqueles se possível, de origem alemã proporcionariam ao recinto ares da modernidade. Aqueles ares do século vinte a produzir em nossa Manaus a imagem da “Paris das Selvas”. Produziram palacetes, os sobrados, os casarões, os monumentos, o Teatro Amazonas, o Palácio da Justiça, as pontes romanas e a de ferro, foram os frutos do “boom” da modernidade auxiliada pela economia gomífera em ascensão e pela ação de governantes como diria meu pai “desassombrados”. Vivendo apenas o presente das moedas rutilantes. Falava eu no primeiro parágrafo da carência do piano na grande sala. Falava em modernidade, pois a pós-modernidade acabou. Assim o quis no agora, a crise econômica mundial. Com ela termina o culto ao individualismo, à cobiça especulativa, ao imediatismo. Revive-se os clássicos valores. Volta-se à era moderna. Aos valores perenes que o século vinte nos obsequiou, trazendo em seu bojo os sons melodiosos dos pianos. É a neomodernidade. Com o ar renovado, pedindo o reinado da solidariedade, do esforço, da responsabilidade e compromisso com a comunidade. Na década de vinte (já em decadência a borracha) os pianos encontravam-se seguros no “cine theatro Alcazar” (depois Guarany) para o primeiro concerto da então menina Lindalva Cruz. Ela propiciava sonoridade ao Cinema Mudo. Na época da Grande Depressão Mundial com a quebra da bolsa de valores de Nova York em 1929, há muito, instalara-se nos íntimos a grande depressão econômica do “débâcle” da borracha, que nos levou do ápice da riqueza ao poder caótico de Leviatã de modo inesperado. Aqui, quedaram-se altaneiros, os fortes. Os criativos. Os indomáveis. E os fiéis pianos. Às senhoras e senhorinhas na maioria estavam destinadas suas teclas musicais. Tivessem ou não talento para tal. Era um culto européico as notas musicais de mazurcas, valsas e tarantellas percorerrem diariamente o caminho do vento da Manaus anos cinquenta. Principalmente das treze às quatorze horas. Horário de aula. Nas escolas de piano ou nas próprias residências em ensino particular. O som pianístico dominava os ares vespertinos. Sobressaíram-se grandes musicistas, como. Jerusa Mustafá, Ilcia Cardoso (minha mestra, para uma não talentosa aluna) Ivete Ibiapina, Isabel Desterro, Arnaldo Rebelo, Lindalva Cruz e Cláudio Santoro (os três últimos buscaram o aprimoramento no Sul em oportunidades raras). Quase todos possuíam escolas musicais. Estas, tinham como meta a integral formação pianística. Era uma festa o exame final de cada ano efetivado ou nas escolas ou nas residências. Ali em apresentação musical o aluno galgava ou não mais um ano do curso. Tudo debruado no final a doces, salgadinhos, guaraná e … muito som de piano. Como esquecer aqui de citar o virtuose Camilo? Um pianista da gratuidade. Do coletivo. Aparecia na casa de nossa vizinha de belo piano e ali encetava superlativo recital às noites pequenas, para uma plateia de crianças, jovens e adultos que se acotovelavam nos parapeitos dos janelões abertos da casa já apinhada de gente em sua sala. A melodia fugia dali sinuosa refugiando-se nos recantos longínquos da cidade quieta. Esse era um dos pré-requisitos para o primado dos pianos na Manaus da era moderna: A falta de ruídos. Inexistia a poluição sonora de comércio e trânsito. É a linguagem dos teclados (que a pós-modernidade afugentou) que se tenta resgatar como precisão do equilíbrio entre o Ter e o Ser. É necessária a cultura da dignidade não arrogante nestes tempos de crise e pouco ternos… P.S: Em Nova Iorque o prefeito instalou na Madison Square Garden um piano. Na Espanha, existe um itinerante que se desloca de praça em praça para usufruto de quem quiser sob o título “Barcelona, a capital do piano” e percorrendo sempre os lugares mais emblemáticos que não deixarão nunca de serem ternos… na estação da luz em São Paulo existe um piano para quem quiser ser um “virtuoso”, Isso existe em todos os lugares do mundo, e SANTO AFONSO DE LIGÓRIO disse que dom musical se consegue através da oração, “Salve Rainha… musicada… Este santo foi o fundador da congregação dos redentoristas que no hoje fazem a comemoração de 80 anos do santuário de Aparecida em Manaus. Este ano é dedicado ao poeta de maria com seu livro o ”LIVRO GLORIA DE MARIA” ternura plena.
Confira Também
Related Posts
Add A Comment