De acordo com a sexta edição do estudo Atlas da Notícia, 2.712 cidades brasileiras com ao menos 26,7 milhões de habitantes contam com o denominado “deserto de notícias”, ou seja, quando não há presença de noticiário de imprensa local. O cenário, no entanto, é de redução destes índices, no Brasil e sobretudo na região Norte.
O atlas, do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), detectou que houve diminuição de 8,6% de “deserto de notícias” brasileiros, enquanto regionalmente, os números diminuiram 30%. Isso ocorreu, segundo o presidente do Projor, Sérgio Ludtke, em vista do avanço dos meios nativos digitais e pelo crescimento da produção de notícias por rádios comunitárias.
“Um total de 95 municípios da região Norte deixou de ser deserto de notícias. Muitos deles estão embalados pela cobertura ambiental. Isso foi possível devido à expansão dos meios digitais”, afirma.
Ele lembra que os dados são relevantes também porque a informação de qualidade potencializa a democracia. Ao todo, são 1.260 veículos jornalísticos distribuídos entre os sete estados do Norte. Das 450 cidades que se enquadram neste cenário, 189 não contam com nenhuma cobertura jornalística local.
“Com 78 novos registros, os veículos on-line seguem avanço apontado em levantamentos anteriores do Atlas da Notícia (2018 e 2021). A novidade é o mapeamento de 73 rádios nesta edição. Impresso teve apenas um novo registro e TV, dois. Todos os estados da região Norte, à exceção do Amapá, registraram pelo menos um município que deixou de ser deserto de notícias, chegando ao total de 95”, avalia a pesquisadora Jéssica Botelho, integrante do coletivo Centro Popular de Comunicação e audiovisual de Manaus.
Botelho destaca ainda, que o aumento da cobertura local na região é impulsionado pela cobertura ambiental, devido à Floresta Amazônica, bem como os contextos social e político, que envolve questões relacionadas ao garimpo ilegal, à causa indígena e às tensões políticas dos últimos anos.
“Outro dado importante desta edição é que nenhuma cidade nortista se tornou deserto de notícias. Ou seja, além de avançar na redução de desertos, não notamos retrocessos na classificação dos municípios quase desertos”, completa a pesquisadora, doutoranda em Comunicação e Cultura na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Deserto de notícias nacional
O estudo, publicado nesta quarta-feira (9), revelou que 271 localidades passaram a possuir pelo menos um meio de comunicação de alcance restrito, enquanto outros 15 retornaram à condição de áreas sem cobertura jornalística no Brasil.
O Projor afirma que esta é a primeira ocasião, desde 2017, em que o número de municípios com imprensa local (2.858) supera aquele das cidades desprovidas de meios de comunicação. Contudo, as regiões nordestinas são mais afetadas pela ausência de veículos de informação locais. “Há estados como o Piauí e o Rio Grande do Norte que têm quase oito em cada dez municípios com desertos de notícias”, declara Sérgio Ludtke.
O líder do Projor advoga por políticas públicas que possam fomentar o desenvolvimento do jornalismo como um meio de combate à desinformação. A pesquisa foi executada com a colaboração de 303 voluntários e estudantes provenientes de 80 instituições e universidades.
A coleta de dados aconteceu entre outubro do ano passado e julho de 2023. Os coordenadores do estudo vão fazer uma conferência online na próxima terça-feira (15), às 19h, na página do Observatório de Imprensa no YouTube.
Segundo Sérgio Ludtke, as informações do estudo vão possibilitar, por exemplo, que pesquisadores verifiquem os efeitos da falta de um jornalismo local e possam traçar paralelos com os dados sociais das cidades.