Clube tradicional do município de Manacapuru (localizado a 68 quilômetros de Manaus), o Princesa do Solimões Esporte Clube completa 52 anos de existência nesta sexta-feira (18). Vencedor do Campeonato Amazonense em 2013, o Tubarão do Norte, como é conhecido, acumula ainda seis vice-campeonatos do Estadual e, em 2023, disputou a Série D do Campeonato Brasileiro.
Ao lado do Penarol, de Itacoatiara (a 176 quilômetros da capital), o Princesa do Solimões é consolidado como o principal time do interior do Amazonas, com uma torcida que contribui com médias de público de dar inveja a clubes da capital. Com esta disputa da Série D, que por pouco não contou com a classificação para a fase de oitavas-de-final, o clube some quatro participações na competição nacional, mesmo número de vezes que jogou a Copa do Brasil.
Além disso, apenas dois anos depois da estreia profissional, disputou a Série B do Brasileirão, tornando-se o primeiro time do interior da região Norte a jogar a segunda divisão do futebol nacional, em 1989. Foi também o primeiro clube do interior do Amazonas a alcançar uma final de Estadual, em 1995, que foi vencido pelo Nacional FC. Segundo a Federação Amazonense de Futebol, conquistou ainda quatro títulos da Taça Estado do Amazonas, em 1995, 1997, 2013 e 2014.
Dentre os personagens históricos, destacam-se Michel Parintins (maior artilheiro, com 29 gols) e Júnior Baé (mais jogos disputados, 89). Não dá para falar do Tubarão do Norte, no entanto, sem pontuar as contribuições de Sandra Galvão, torcedora ilustre, e Rildo Teles, ex-ponta direita e integrante do primeiro time a disputar um Campeonato Amazonense.
Quinto maior artilheiro do clube e segundo jogador com mais partidas disputadas, quatro a menos que o recorde, o atacante Edinho Canutama, de 32 anos, afirma que o sentimento de fazer parte da história do Tubarão é de gratidão, tanto por compor uma trajetória de disputas acirradas, quanto pela confiança no trabalho dele em campo, em 85 jogos.
“Pretendo sim em voltar, mas tudo depende da vontade de Deus. Tenho um carinho enorme pelo clube, quero quebrar o recorde de gols e partidas, mas isso só depende de Deus, que sabe todas as coisas. Avalio minha passagem pelo Princesa do Solimões como um clube que me dediquei bastante e pude ser feliz. Foram praticamente cinco finais com o time e avalio como um momento forte do clube, só tenho a agradecer pela confiança”, afirma o jogador, que atualmente defende o Inter de Lages (SC).
Amor de mãe
Há 34 anos, Sandra Galvão vai ao Estádio Olímpico Municipal Gilberto Mestrinho (Gilbertão) para apoiar o Princesa do Solimões, seja em momentos de destaque ou de baixa da equipe. “Sou tão fanática que Deus me livre, não tem comparação, temos três cirandas [em Manacapuru], mas quero saber do meu Princesa, é um amor infinito”, conta a torcedora.
Sandra Galvão revela que começou a frequentar os jogos sozinha incentivada pelo pai, que apesar de torcer para o Corinthians, deu apoio, mesmo que indireto, ao futebol regional. Com a torcida da família ao time paulista, ela destaca que não dá apoio “terceirizado”, como é comumente dito, aos times de fora da cidade.
“Vou há muitos anos no estádio, sempre gostei de futebol, desde os 15 anos. Comecei a assistir o Princesa, conheci os jogadores, comecei a ir [ao Gilbertão] e criei amor, gosto da cor e não torço pra nenhum time de fora. De início ficava lá sentadinha, quietinha, só depois que fui me envolvendo e nunca mais parei. Amor como eu tenho pelo meu Princesa, não tem. Ganhando ou perdendo, estou lá”, afirma Galvão.
Dentre as “loucuras de amor”, a torcedora cita a confecção de seis uniformes para frequentar a academia, um para cada dia. Fala também sobre viagens de moto, durante a primeira gestação, para a acompanhar o time em Manaus. Mais recentemente, começou a difundir o amor pelo time aos filhos e às mulheres do município, por meio da criação da Torcida Organizada Movimento 1971 Feminino, que começou em 2023 e já conta com 56 integrantes. O apoio, apesar de grande, não foi suficiente para evitar a eliminação do time na Série D, que está recente e ainda deixa as emoções à flor da pele.
“Me arrepio todinha falando disso, chega dá vontade de chorar, fico emocionada, era para a gente ter ganhado. Foi maravilhosa [a campanha], mostrou que nosso time estava firme e forte. O Princesa hoje, se tivesse mais investimento, teria chegado. No último jogo não tínhamos nem banco e jogamos muito bem, com raça, os jogadores vestiram a camisa mesmo e não desistiram”, revela, às lágrimas, a torcedora.
Dentre os momentos memoráveis destes 15 anos de torcedora fanática, reconhecida inclusive pela diretoria do Princesa do Solimões, Sandra destaca a vitória sobre o Nacional, no Estadual de 2013. Com os dois filhos prestes a concluir o Ensino Superior, ela diz ainda que a filha mais velha vai usar vestido vermelho, em homenagem ao time, no momento da graduação. E confirma que a paixão pelo Tubarão do Norte vai continuar nas próximas gerações.
Do campo à história
O Princesa começou a atuação futebolística a partir de Antônio Ribeiro da Silva (Coan) e Francisco Bezerra, em 1970. O nome do clube remete à alcunha da cidade de Manacapuru, que é conhecida como a “Princesa do Solimões”, fato comum no Amazonas, onde cidades ribeirinhas são intituladas com nobreza relacionada aos rios que as margeiam.
Segundo o fundador, Francisco Bezerra, o início da história oficial do Tubarão do Norte data de 1971, a profissionalização aconteceu em 1986 e a estreia no Campeonato Amazonense, em 1987.
Rildo Teles, ex-ponta direita do Princesa do Solimões, faz parte da história como um dos atletas que estiveram em campo no primeiro campeonato profissional que o clube disputou, inclusive marcando gol na primeira partida oficial. Ele jogou 16 anos pelo Tubarão, foi artilheiro do Estadual em 1988, com seis gols, e em 1993, pelo time de Manacapuru.
“Atualmente, me orgulho muito de ser torcedor do Princesa, vou ao estádio, vejo os jogos. Estou presente em todos os jogos em Manacapuru. No primeiro ano, todo mundo ficou espantado com o nosso time. Fomos campeões do primeiro turno e isso espantou todo mundo. Pena que não conseguimos chegar na final, mas todo mundo ficou admirado. Era uma equipe formada com jogadores amadores, praticamente toda formada por filhos de Manacapuru. A partir daí, foi quando os torcedores começaram a ver um time promissor, formado 99% por jogadores da cidade”, conta o ex-jogador.
Após o bom desempenho na temporada 2023, sob o comando de Aderbal Lana, velho conhecido da torcida amazonense, o Tubarão do Norte não disputa competições neste segundo semestre. A história, por sua vez, vai continuar sendo escrita, de forma a difundir não só o esporte amazonense, mas o futebol de Manacapuru.