Seja comercializando artesanatos, ervarias, itens da culinária regional ou para oferecer objetos de decoração e lembranças do Amazonas, além de disponibilizar simpatia e criatividade no atendimento, os produtores rurais que atuam nas feiras de produtos regionais da Associação da Feira Municipal de Artesanato, Trabalhos Manuais e Produtos do Amazonas dos Artesãos Expositores (AFMAPAEER) e da Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (ADS) costumam atrair desde turistas — interessados principalmente no artesanato — a moradores da cidade, que vão às feirinhas saborear o famoso café regional.
Nesta sexta-feira, dia 25 de agosto, é comemorado o Dia do Feirante. A data é uma homenagem à primeira feira livre que ocorreu no país, em 25 de agosto de 1914. Tal evento aconteceu no Largo General Osório, no bairro Santa Efigênia, em São Paulo. Algum tempo depois, o prefeito da capital paulista, Washington Luís, oficializou as feiras e mercados livres com o ato nº 625, em 28 de maio de 1934. Atualmente, a Lei nº 492, de 1984, rege os direitos e deveres das feiras livres em todo o território nacional.
Em comemoração à data, o Vanguarda do Norte esteve no Centro de Manaus, mais necessariamente na Feira da Eduardo Ribeiro e no Mercado Adolpho Lisboa, e também na feira do Manaus Plaza Shopping, para mostrar um pouco mais sobre esse profissional autônomo, que é muito importante para o dia a dia da população.
Feira da Eduardo Ribeiro
Há cerca de 23 anos, a Feirinha de Artesanato da Avenida Eduardo Ribeiro, localizada no Centro Histórico da capital amazonense, atrai um público cativo nas manhãs de domingo. A feira foi idealizada em 1999, a partir de uma parceria entre Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e Prefeitura Municipal.
A feira, que pega toda a extensão da Avenida Eduardo Ribeiro, conta com um setor de alimentação que oferece o melhor do café regional, lanches e até almoço. Para os turistas (e também para quem vive aqui na terrinha), é o prato cheio para se experimentar duas paixões dos amazonenses: as tapiocas (com tucumã e queijo são as mais procuradas) e o famoso X-Caboquinho, feito com pão francês, tucumã, banana frita e queijo coalho. A feira ocorre todos os domingos, das 6h às 14h.
Além da diversidade gastronômica, outro ponto alto da Feira da Eduardo Ribeiro são as histórias de quem trabalha lá há muito tempo e tem o lugar como a sua segunda casa.
Durante a visita, foi explorada um pouco da história da feirante Mariana Alfaia, de 24 anos, que trabalha no local, praticamente, desde que nasceu. Segundo ela, que é proprietária de uma grande barraca de café da manhã na Feira da Eduardo Ribeiro, o espaço já é de família, visto que começou com a avó de Mariana (que trabalhava desde o ano em que a feira surgiu), passando pela tia e pela mãe da feirante, até que foi dada a ela a responsabilidade de cuidar do negócio.
“Foi passando na família. Existem outras feiras aqui em Manaus, mas ficamos somente aqui na Eduardo Ribeiro. Sou somente um ano mais velha que a feira e é uma experiência muito interessante. Vem gente de todos os lugares, tanto do restante do nosso país, quanto de fora. Todos os domingos sempre tem alguém de um lugar diferente por aqui. Na Feira tem espaço para todo mundo, só não vende quem não quer. Se você tiver uma qualidade e uma comida boa, você vende super bem. Aqui tem concorrência, mas dá para todo mundo ganhar. A nossa feira tem uma variedade muito grande”, declara Mariana.
Trabalhando há 13 anos na Feira da Eduardo Ribeiro, o feirante Antônio Penha também vende o seu trabalho na tradicional Feira da Aparecida, que ocorre todas as terças-feiras e aos sábados, no bairro Cachoeirinha. De acordo com o trabalhador, a feira que ocorre aos domingos oferece um retorno muito positivo por ter uma clientela extensa e diversificada, além do contato com pessoas das mais variadas culturas.
“Vendo de tudo um pouco. Os carros-chefes da minha banca são os energéticos naturais e com itens da Amazônia, que são muito cobiçados pelos turistas, e agora o nosso ‘Café de Açaí’ que é um produto diferenciado aqui da região e as ervas regionais. Tenho uma clientela fixa aqui em Manaus. Inclusive, tem muitos turistas que vêm até aqui para comprar comigo”, relata o feirante.
No decorrer da entrevista, Antônio não poupou palavras ao falar sobre o momento mais marcante que a Feira já lhe proporcionou: formar o seu filho em Medicina.
“Pude proporcionar a formação do meu filho primogênito através do meu trabalho. [Hoje] ele é médico, e foi através disso aqui. A feirinha me deu tudo o que tenho e sou muito grato pelo o que ela tem me proporcionado, tanto ao ganhar o meu dinheiro, pois eu vivo disso aqui, quanto a eu ter conseguido formar um filho em uma profissão de elite que um pobre jamais sonhou algum dia”, pontua.
O feirante complementou ainda: “Eu faço um convite que as pessoas daqui do Amazonas, e quem nos visita, tire um domingo para vir tomar um café da manhã e conhecer a diversidade de produtos que nós temos. Sou muito grato. Devo a Deus e às feiras o que eu tenho na vida. Fiz o ser feirante e autônomo como a minha opção de vida e de trabalho. Faz mais de 35 anos que trabalho autonomamente e sou muito grato por isso”.
São diversos setores de exposição: de cama, mesa e banho; de confecções em geral; de peças de madeira, arte, decoração e bichos de pelúcia; de sebos e arte indígena; de produtos infantis, como roupas e brinquedos; de bijuterias, biojoias e artesanato; além de acessórios como bolsas, cintos, chapéus, chinelos, sapatos, e até mesmo itens que nem se imagina serem encontrados por lá.
Grande apreciadora e colecionadora de itens do universo numismático, Cristiane Andrade vê na Feira da Eduardo Ribeiro a oportunidade perfeita para mostrar ao público e vender seus itens de colecionadora. Integrante de um grande grupo de colecionadores, sua banca reúne cédulas, moedas, miniaturas, selos e tudo que faz parte do colecionismo. Há dois anos trabalhando na Feira, ela ressalta que se considera uma colecionadora nata desde que era criança.
“Sempre colecionei algo, seja álbuns de figurinhas ou moedas. São mais de 25 anos que estou nesse segmento. A Feira é algo muito bom. É uma porta aberta para o colecionismo. Tem muita gente que coleciona, mas não se conhece. Aqui, a gente tem contato e troca material com muitos outros colecionadores. Conhecemos pessoas que colecionam de tudo, tampa de garrafa, caixa de fósforo… coisas que você acha que não existe quem colecione. Todos os domingos, acordamos bem cedo para vir para a Feira e é sempre muito gratificante. Aqui tem de tudo um pouco”, comenta Cristiane.
Trabalhando na Feira há 22 anos, Raimundinho, que é proprietário de uma barraca de guaraná, começou a frequentar o local para ajudar o tio e acabou gostando do ramo. Assim como outros trabalhadores, ele destaca o contato com o público como a melhor parte de trabalhar na Feira da Eduardo Ribeiro.
“Eu gosto muito desse contato com as pessoas, sejam turistas ou pessoas que vivem aqui e nos visitam com uma certa frequência. Tenho clientes certos que já se tornaram amigos e todos os domingos estão por aqui conosco”, conta Raimundinho.
Mercado Adolpho Lisboa
Inaugurado em 1883, o nome do Mercado Municipal Adolpho Lisboa é uma homenagem ao prefeito de Manaus da época. Atualmente, o mercado reúne cerca de 175 permissionários distribuídos em quatro pavilhões: carne, peixe, hortifruti e pavilhão central. No pavilhão central, os manauaras e turistas podem encontrar artesanatos, ervaria e uma variedade de itens. É o local perfeito para provar aquela comida regional, conhecer os produtos típicos da região, comprar objetos de decoração e lembranças do Amazonas.
O Mercado funciona de segunda a sábado, das 6h às 17h. Aos domingos e feriados, o Mercadão abre das 6h às 12h.
Durante o passeio, a equipe de reportagem aproveitou para conversar um pouco com o comerciante Lucas Azevedo, que tem uma relação com o Mercadão desde criança.
“Venho com o meu pai desde cedo e sempre gostei muito, ficou no meu sangue ser vendedor e, Graças a Deus, consegui o meu espaço aqui. Lembro que, quando me formei na escola, passei a vir todos os dias para cá. A melhor parte de trabalhar aqui é conhecer pessoas novas todos os dias, de diferentes culturas, sotaques e, claro, vender para ganhar o nosso ganha-pão”, frisa.
Quem também aproveitou para compartilhar um pouco da própria história foi Antônio José da Trindade, mais conhecido como ‘Antônio Jacaré’, que trabalha no Adolpho Lisboa há mais de 22 anos.
“Amo meu trabalho. Trabalho com artesanato indígena e regional. Sou ex-funcionário da Funai, sou de Belém do Pará, mas amo essa terra e tenho Manaus no meu coração. O artesanato, para mim, é a minha grandeza, principalmente dos índios do Alto Rio Negro, Alto Solimões e daqui da cidade. A melhor parte é receber o turista que vem de fora, do Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo, que vem conhecer o nosso calor humano, ser bem recepcionado por cada um de nós ou pelos indígenas, seja por onde for passear”, conclui Antônio Jacaré.
Feiras da Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS)
Semanalmente, a Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS) realiza dez feiras regionais em Manaus, como a feira que ocorre todas as terças e quintas-feiras, das 14h às 19h, no Manaus Plaza Shopping, localizado na avenida Djalma Batista, zona centro-sul da cidade. Atualmente, a ADS conta com 58 edições de Feiras Regionais no Amazonas, sendo 14 na capital e 44 no interior do estado, em 37 municípios.
As Feiras de Produtos Regionais da ADS garantem a comercialização de parte da produção rural do Estado, gerando benefícios para cerca de 600 famílias de produtores rurais e agricultores familiares. As edições funcionam de terça a domingo, em espaços com áreas estruturadas pelo Governo do Amazonas em diferentes zonas da capital.
O feirante Igor de Souza Galvão é conhecido nas feiras itinerantes da ADS por trabalhar com pé de moleque e com o famoso “tapiocão” do município de Rio Preto da Eva (a 79 quilômetros de Manaus). Feirante há pouco mais de 10 anos, ele cuida da barraca “Tapiocão do Rio Preto da Eva” ao lado da esposa Francisca. O empreendimento funciona às terças e quintas-feiras, no Manaus Plaza Shopping, e aos sábados na feira do Centro Cultural Povos da Amazônia.
“A feira é muito importante para a minha família e também por dar espaço ao agricultor familiar. Esse contato com o público também é muito bom e acredito que seja uma das melhores partes da feira. Quando chegamos em casa, já sentimos saudades, não apenas para vender, mas para conversar e estarmos juntos [com os clientes]. O cliente é amigo. Deixando um recado para os colegas feirantes, é sempre bom ressaltar que todos devem procurar o seu espaço, as feiras estão aí para lhe socorrer, tem espaço, você não está sozinho, vai dar certo e não desista. A agricultura não é uma perda de tempo, é um incentivo. Eu vim do Pará e a minha esposa veio do Ceará, moramos em Rio Preto da Eva com o nosso filho de apenas três anos”, conta Igor.
As feiras da ADS estão presentes nos municípios de Alvarães, Amaturá; Autazes; Apuí; Barcelos; Barreirinha; Boa Vista do Ramos; Boca do Acre; Canutama; Careiro Castanho; Envira; Humaitá; Iranduba; Ipixuna; Itacoatiara; Japurá; Jutaí; Manacapuru; Manicoré Nhamundá; Novo Airão; Maués; Nova Olinda do Norte; Novo Aripuanã; Parintins; Presidente Figueiredo; Rio Preto da Eva; São Gabriel da Cachoeira; São Sebastião do Uatumã; São Paulo de Olivença Santo Antônio do Iça; Tabatinga; Pauini; Tapauá; Tonantins; Tefé; e Urucará.
A primeira Feira de Produtos Regionais da ADS foi implantada em 2008, no Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs), localizado na Avenida São Jorge, zona oeste de Manaus, com a participação de 107 produtores rurais da região metropolitana da capital. A Feira funcionou por seis anos no Cigs.
Em 2014, a Feira foi desativada, passando a funcionar na sede da Agremiação de Sargentos da Amazônia (Asa), na Avenida Coronel Teixeira, no bairro Dom Pedro, zona oeste, no dia 22 de novembro.
Em 2018, a Feira do ASA passou a funcionar no estacionamento do Shopping Ponta Negra. Desde então, a Feira é realizada toda quarta-feira, das 15h às 19h.
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