Em Manaus, muitas crianças se encontram em situação de desamparo, precisando de um “olhar maternal” que forneça cuidados especiais, que vão desde carinho, afeto, moradia e alimentação. Já ouviu aquele ditado: “Um simples gesto faz muita diferença”? Agora, imagine várias pessoas ajudando a quem precisa? Esse é o trabalho do Educandário Gustavo Capanema, uma organização não governamental criada, inicialmente, para cuidar de filhos saudáveis de pais hansenianos.
Atualmente, a instituição — que fica localizada na rua Filismino Soares, n° 230, bairro Colônia Oliveira Machado, zona sul de Manaus — atende um total de 130 crianças, na faixa etária de três a 12 anos. O local funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h, e oferece três refeições diárias, além de fardamento e materiais didáticos, tudo gratuitamente.
Maria do Carmo Pinheiro Teixeira, 62, atua como secretária executiva na instituição há 31 anos. Ao Vanguarda do Norte, ela explica como é a rotina de trabalhar com os pequenos que chegam ao Educandário.
“Elas [crianças] chegam até nós por indicação de alguém que já conhece o nosso trabalho. Às vezes, é o conselho tutelar que encaminha. São crianças vulneráveis, de famílias desestruturadas. Mas posso afirmar que é uma alegria muito grande trabalhar diariamente com elas. Me sinto honrada e muito orgulhosa em fazer o que eu faço, de fazer parte disso”, declara Maria do Carmo.
Ao Vanguarda do Norte, ela ressalta que, além de secretária executiva, também exerce outras funções no Educandário. “Minha função [fixa] é esta, mas também faço outras coisas, como dirigir, costurar, dar medicamentos, fazer curativos, além de outras funções”, relata. “Inclusive, temos [aqui] uma oficina de costura, onde confeccionamos roupas e fardas para as crianças, além de tapetes também, que são feitos no local para serem vendidos em nosso bazar”, acrescenta.
Bazar da Solidariedade
No decorrer da entrevista, Maria do Carmo fala sobre o ‘Bazar da Solidariedade’, que funciona de segunda a sexta-feira, das 7h até às 16h, no próprio terreno da instituição. Segundo ela, o Educandário Gustavo Capanema recebe todos os tipos de doações, desde alimentos a materiais de higiene, vestuários (roupas e calçados), materiais escolares, etc.
“Disponibilizamos também o pix da instituição [CNPJ: 04.392.668/0001-82] para aqueles que quiserem fazer alguma doação em dinheiro ao Educandário. A nossa maior necessidade, atualmente, é a reforma do prédio, para oferecermos uma estrutura melhor para as nossas crianças”, informa.
O presidente do Educandário Gustavo Capanema, Nivelle Daou Junior, frisa que o objetivo maior da instituição é fornecer acolhimento e suporte, além de dar um norte para que essas crianças tenham um futuro melhor.
“É muito importante vermos os sorrisos desses meninos e meninas. A grande maioria vive em situação de carência. Aqui, essas crianças têm atendimento, refeição, atividades de lazer. Chegará ao ponto em que elas terão aula de informática, esporte, cultura e dança. Nossa maior pretensão é que elas saiam daqui com algum encaminhamento na vida”, pontua Nivelle Daou Junior.
As educadoras Cleisilene Sousa de Castro, 55, e Santina Mesquita da Silva Oliveira, 56, expressam a satisfação de trabalhar com as crianças do Educandário.
“Atuo há 19 anos [como educadora] no Gustavo Capanema. Trabalho com muito amor e carinho, faço isso com muito prazer e dedicação. Aqui, inclusive, somos bem tratadas pelos nossos surpervisores e pelo presidente. Sempre que precisamos de algo, eles estão prontos para nos atender”, elogia Santina.
“Trabalho no Educandário há 11 anos. E para mim, é um prazer, uma sastifação enorme fazer parte dessa família. Só aprendo com essas crianças”, reforça Cleisilene.
A equipe do Educandário Gustavo Capamena conta com a atuação de duas assistentes sociais, seis educadoras, uma cozinheira, uma costureira e três auxiliares de serviços gerais. Também conta com o presidente da instituição, secretária executiva e tesoureira, conselheiros todos voluntários.
Interessados em fazer doações, podem entrar em contato por meio das redes sociais: @egmanaus (Instagram) e Educandário Gustavo Capanema (Facebook), ou pelo telefone (92) 3624-0751.
Sobre o Educandário Gustavo Capanema
Em Manaus, a partir de 1930, foram intensificadas as retiradas de crianças, filhos e filhas de pais doentes de lepra (como era conhecida a doença na época), hoje hanseníase. Essas crianças, então, eram retiradas do seio familiar — por conta do perigo de contágio — e levadas para viver em pequenos abrigos na capital.
Em meados de 1940, é construído na cidade o preventório com melhor estrutura para fazer esse acolhimento aos pequenos. Por ação conjunta entre a iniciativa privada da Sociedade Amazonense de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra, juntamente com o Governo do Amazonas, União e Município, é construído e inaugurado o Educandário Gustavo Capanema, que existe desde 1942.
A instituição iniciou atendendo crianças e adolescentes. Atualmente, o Educandário assiste apenas crianças de três a 12 anos, e é mantido pela Sociedade Eunice Weaver, de Manaus, uma entidade beneficente, sem fins lucrativos, fundada em 17 de fevereiro de 1932, da qual tinha em sua gênese o objetivo social de ajudar, abrigar e educar filhos de hansenianos. Ao longo de sua história, a instituição chegou a atender cerca de 350 crianças.
Desde 1976, com a implementação de política de não segregação de portadores de hanseníase, o Educandário Gustavo Capanema vinha trabalhando com crianças em situação de vulnerabilidade social, em situação de abondono e negligência familiar.