A Liga Acadêmica de Saúde Mental do Amazonas (Lasmam), a Liga Acadêmica de Psiquiatria do Amazonas (Lapam) e a Liga Amazonense de Medicina de Família e Comunidade (Lamfac) promovem o “I Simpósio Amazonense de Valorização da Vida”. O evento acontece no próximo sábado (23), na Escola Superior de Ciências da Saúde (Esa) da Universidade do Estado do Amazonas (Uea), às 13h.
A proposta faz parte da campanha Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o número de pessoas que tiraram a própria vida no Brasil cresceu 11,8% em 2022, na comparação com 2021. No ano passado, mais de 16 mil casos foram contabilizados, o que dá uma média de 44 por dia.
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Por conta destes índices, a iniciativa do simpósio foca na abordagem multidisciplinar da prevenção ao suicídio. O evento vai contar com palestras curtas, com profissionais das áreas de psicologia, psiquiatria e medicina de família e comunidade. “Além disso, a mesa redonda será pautada na conversa conjunta da atuação dos profissionais na abordagem ao suicídio, estando aberta a perguntas e interações com a plateia”, destaca a organização.
Abordagem multidisciplinar
A abordagem da temática do suicídio relaciona-se historicamente à psiquiatria, com foco na institucionalização e no tratamento medicamentoso. A proposta do Simpósio Amazonense de Valorização da Vida, por conta disso, é promover uma abordagem multidisciplinar para tratar de uma questão complexa e sensível.
Com foco inicialmente na capacitação e no amparo dos profissionais da Saúde em formação, o evento busca dar ferramentas aos participantes para identificarem ideações suicidas em fases preliminares, ainda na atenção básica, sem necessariamente depender de consulta dos pacientes com psicólogos ou psiquiatas, segundo a vice-presidente da Lapam, Everlândja Almeida, de 28 anos.
“À priori, todo mundo acha que a psiquiatria vai intervir mais na questão do suicídio, mas muitas vezes tem sinais pequenos, de pacientes que só passam por médico da saúde básica com outras patologias e desenvolve um quadro depressivo, ansioso, que pode levar a uma ideação suicida. A ideia é guiar os futuros profissionais a entenderem em que momento procurar ajuda e entender como funciona o papel de cada profissional”, explica.
Para exercer a multidisciplinaridade proposta para o simpósio, os organizadores acreditam que a troca de informações entre diferentes profissionais atuantes e a comunidade acadêmica possa contribuir com a instituição de novas perspectivas sobre o tema.
“A abordagem multidisciplinar é importante, é um tema complexo e precisa de profissionais diferentes e visões diferentes”, argumenta Ângelo Abner, de 31 anos, presidente da Lamfac.
“Às vezes, lidamos com profissionais que vão com uma ideia mais técnica, medicamentosa, pra lidar com isso. Com o simpósio, conseguimos uma sensibilidade maior, que vai além. Demonstrar na prática, com vários profissionais que lidam com isso. A mesa redonda vai ser muito útil para todo mundo que está assistindo”, completa Everlândja Almeida.
Saúde mental e os profissionais da saúde
Para Ângelo Abner, os próprios estudantes reconhecem a pressão de lidar com o tema e, por muitas vezes, não conseguem dedicar atenção suficiente para lidar com as próprias questões, ao conciliar as demandas acadêmicas e a autocobrança.
“Tratar sobre a valorização da vida é importante em qualquer ambiente da nossa sociedade, porém dentro do ambiente acadêmico, é mais preocupante, a gente acha isso assustador. Entende-se que o acadêmico está em uma fase de muitos sonhos, idealizações, mas quando esse processo de formação é muito pesado — o que pode ser um gatilho — o tema ganha mais importância”, comenta, sobre os altos índices de suicídio entre universitários.
Neste primeiro evento, o Simpósio de Valorização da Vida vai focar na comunidade acadêmica que lida diretamente com a prevenção do suicídio, mas a expectativa é promover a discussão do tema mais amplamente. ” Já entramos em contato para trabalhar, na próxima edição, com a Liga de Saúde Mental em Enfermagem e conversar com alguém da Assistência Social”, conta o presidente da Lamfac.
Everlândja Almeida pontua ainda que a proposta inicial, na idealização, era de promover a interlocução entre as ligas, que são associações de universitários das redes privada e pública, tanto federal, quando estadual. A iniciativa saiu do papel, após a percepção de que muitos dos alunos dos cursos de psicologia, medicina e enfermagem estavam com altos índices de depressão e ansiedade, protagonizando inclusive alguns dos mais recentes casos comoventes de suicídio em Manaus.
“Vemos muitos alunos com acompanhamento psiquiatrico e muitos com ideações suicidas, alguns que até efetivam de fato e acho que aqui é um cenário particular, por ter alunos de fora, que tem toda uma adaptação. Esse ano o evento tem mais o foco de profissionais da área da saúde, mas os próximos devem ser abertos à sociedade. Claro que temos que manter o perfil mais técnico, mas a os próximos devem ser com dois dias e com alcance maior”, projeta a idealizadora e vice-presidente da Lapam.
Setembro Amarelo
A campanha Setembro Amarelo surgiu nos Estados Unidos, em 1994, quando a família de um jovem suicida distribuiu, em seu velório, cartões amarrados em fitas amarelas com frases de apoio para pessoas que estivessem enfrentando problemas emocionais. O amarelo fazia alusão à cor de um carro que o jovem tinha.
Por iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Centro de Valorização da Vida (CVV), em 2014 a campanha chegou ao Brasil. A intenção principal é informar que o suicídio pode ser evitado e de que maneira isso pode ser feito, enfatizando os cuidados com a saúde mental. Este ano, o lema é “Se precisar, peça ajuda!”.
O CVV também realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.
A depressão, considerada o “Mal do Século” pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma doença psiquiátrica recorrente que afeta o humor, caracterizando-se por profunda tristeza, sentimentos de dor, angústia e desesperança.
A Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) participa da campanha “Setembro Amarelo” por meio da criação de leis que auxiliam os residentes do Amazonas que enfrentam transtornos relacionados à saúde mental, bem como pela organização de ações de prevenção.
Em 28 de setembro, terá início o “Encontro Parlamentar de Políticas Públicas sobre Saúde Mental”, seguido pelo “3° Simpósio: Prevenção é a Solução” em 29 de setembro. Esses eventos ocorrerão em São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros de Manaus), devido aos altos índices de suicídio entre indígenas na cidade.
Adicionalmente, uma campanha denominada “Basta: Autolesão, Depressão e Suicídio” será promovida nesse contexto. Essa iniciativa é da Frente Parlamentar de Cuidados e Prevenção à Depressão, Suicídio e Drogas (Fenapred) e da Comissão de Prevenção à Depressão e Drogas da União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais (Unale).
Como parte das ações relacionadas à campanha Setembro Amarelo, os Centros Estaduais de Convivência da Família (CECFs), administrados pelo Governo do Amazonas por meio da Secretaria de Estado da Assistência Social (Seas), realizam atividades de sensibilização e prevenção ao suicídio durante este mês. Essa programação engloba palestras, rodas de conversa, apresentações, abordagens de sensibilização e outras atividades para valorizar a vida.