“Pinga”, “marvada”, “caninha”, “água que passarinho não bebe”, “birinaite, “danada”… quando se fala dela a criatividade do brasileiro vai longe. Com mais 500 anos de história e podendo ser considerada a primeira bebida destilada das Américas, a cachaça é um patrimônio do Brasil e também conhecida em todos os cantos do exterior.
Ela praticamente nasceu junto com o Brasil e tornou-se a mais nacional das bebidas. A origem da cachaça pode ser evidenciada por meio de duas vertentes históricas que tendem a voltar para uma mesma época: a do início da colonização efetiva do Brasil pelos portugueses.
No dia 13 de setembro de 1661, a rainha Luísa de Gusmão liberou a produção e a comercialização da bebida no Brasil. Nesta quarta-feira, dia 13 de setembro, é comemorado o Dia da Cachaça e a equipe de jornalismo do portal Vanguarda do Norte foi até a Cachaçaria do Dedé para saber um pouco mais sobre essa bebida.
Do pastel à cachaça
Em 1991, o amazonense chef André Parente, mais conhecido como ‘Dedé, empreendeu pela primeira vez e montou uma barraca de pastel no bairro Parque 10 de Novembro, na Zona Centro-Sul de Manaus. A barraca tinha o tamanho de 2x2m e ficava onde é hoje a Cachaçaria do Dedé do Parque 10. Depois da barraca, veio a Skina do Pastel, em um espaço muito maior, mas no mesmo local.
Logo depois veio também à diversificação de produtos no cardápio, com diversidade de petiscos, lanches, refeições, e a inclusão da culinária mineira por influência de grandes amigos. Dessa amizade com os mineiros, que incluiu a aquisição do exemplar da cachaça Anísio Santiago que custava em torno US$100, veio a “iluminação” para montar a Cachaçaria do Dedé. Ou seja, é possível dizer que a cachaça, praticamente, transformou a sua vida.
“A história da Cachaçaria com a Skina do Pastel completa 32 anos no dia 4 de outubro. Tem várias coincidências que fizeram com que a gente virasse a Cachaçaria do Dedé. Fiz uma grande amizade com um dentista mineiro que, infelizmente, morreu. Antes cheguei a visita-lo em Minas e com ele eu aprendi a gostar da verdadeira cachaça. Não tenho nada contra a cachaça industrial, mas tem uma diferença gigantesca com a artesanal. Depois surgiu outro mineiro em minha vida, que apareceu falando que existia uma cachaça que custava US$ 100 e na minha cabeça isso não entrava. Fui pesquisar e isso realmente existia. Ele falou que se eu conseguisse uma cachaça dessa, ele gostaria de presentear o pai dele. Eu encontrei e comprei, isso me animou bastante e ‘acendeu uma luz’. Comecei a trazer uma marca e outra e, ainda na Skina do Pastel, comecei a oferecer para os clientes. Dedé é um apelido meu, mas o ‘Cachaçaria do Dedé’ foi um nome que as pessoas que escolheram”, declarou.
Complementou ainda: “A cachaça tem um valor imensurável e gigantesco. É uma magia! O nome da empresa leva o ‘Cachaçaria’ e aqui temos um paredão com 12 mil garrafas, que impressiona as pessoas. Se você pensa em cachaça há 20 anos atrás, era um produto muito pejorativo e quem bebia cachaça eram pessoas com baixa renda. Hoje isso mudou. Tem cachaça que custa muito mais que um bom uísque. Graças a Deus o brasileiro incorporou isso, já que antigamente, quando oferecia cachaça para algumas pessoas, elas questionavam sobre o porquê de ela ser mais cara que o uísque. É um produto nosso e é o melhor, cachaça só é feita no Brasil. Ela não é o produto que mais vendo no Grupo, mas ela tem um valor imensurável e que não conseguimos precificar no final”.
Hoje em dia, a bebida é produzida em todo o país com muitas variações e toques regionais. No Brasil, a produção de cachaça é regulamentada por lei. O decreto publicado em 2003 determina que a bebida seja produzida com graduação alcoólica de 38 a 48% em volume, obtida pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar.
Jambucana
Com o objetivo principal de homenagear a típica bebida brasileira, o Grupo Dedé desenvolveu uma variação do destilado que leva um sabor muito conhecido pelos amazônidas. A Jambucana, cachaça criada com jambu, já tem conquistado o mercado amazonense e visa o internacional. O produto foi desenvolvido em parceria com o Engenho Buriti (Papagaios/MG) ao longo de dois anos de pesquisa e foi produzido artesanalmente do início ao fim.
A Jambucana leva em sua composição o jambu (erva amazônica exótica que adormece os lábios), melado de cana, cravo, canela e gengibre. O produto possui 40% de teor alcoólico. O Grupo Dedé oferece várias opções de cachaças criadas pelo chefe Dedé. Diante da admiração pela bebida e com o propósito de deixar uma marca registrada com os ingredientes da Amazônia, o chef lançou a Jambucana, em 2015, em uma edição da Feira Internacional da Gastronomia Amazônica (FIGA).
“Eu já fazia algumas misturas lá no Parque 10. Tem até uma que misturei e é a Melaço do Dede, no qual misturei mel de cana com a cachaça e tem todo um processo. Vendia ela só no balcão e depois veio a história do jambu. A Jambucana não foi a primeira cachaça feita com jambu, mas foi a primeira com registro no MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária). Essa bebida é uma mistura danada de boa. Manaus não fabrica cachaça, e eu a levei para fabricar em Minas. Passamos três anos para legalizar pois as pessoas não tinham ciência do que era o jambu e toda vez que estava próximo de conseguir a licença, o processo voltava para trás. Tenho muito orgulho da Jambucana, ela não é um produto do Dedé, é um produto da Amazônia. Isso me dá muito orgulho”, disse.
Dedé também lançou outros rótulos de diferentes sabores que têm conquistado o paladar do público no cenário nacional e internacional.
Contexto Histórico
Quando se trata da cachaça, chega a ser coincidência, mas tudo o que envolve a sua proibição e também a liberação gira em torno de um dia 13 de setembro. Já nos tempos coloniais, a produção de cachaça era uma importante atividade econômica no Brasil, levando a redução do consumo da bagaceira importada de Portugal. Preocupados com o sucesso da aguardente, os portugueses, através de uma Carta Real de 13 de setembro de 1649, proibiram a fabricação e a venda da cachaça em todo o território brasileiro.
Os proprietários de cana-de-açúcar e alambiques, indignados com as constantes cobranças de impostos ao longo dos anos e perseguidos por vender a bebida, se revoltam no dia 13 de setembro de 1661 e tomam o poder no Rio de Janeiro por cinco meses resultando em um dos primeiros movimentos de insurreição nacional, a Revolta da Cachaça.
Apesar de não existir um registro preciso sobre o verdadeiro local onde a primeira destilação da Cachaça tenha sido iniciada, pode-se afirmar que ela se deu em algum engenho de açúcar situado no litoral do Brasil, de forma intencional, entre os anos de 1516 e 1532, sendo, portanto, o primeiro destilado da América Latina, antes mesmo do aparecimento do Pisco, da Tequila e do Rum.
Em cinco séculos de História, serviu como combustível para os bandeirantes suportarem as longas e insalubres viagens aos sertões, foi utilizada como moeda de troca de escravos na África, desencadeou revoltas contra a Coroa portuguesa e tornou-se símbolo de nacionalidade em momentos políticos e culturais importantes, como a Independência do país e a Semana de Arte Moderna de 1922.
Apesar de tudo, é quase impossível falar de cachaça, sem falar da movimentação econômica, já que esse é o terceiro destilado mais consumido no mundo e movimenta R$ 15,5 bilhões anualmente no Brasil – montante que poderia ser ainda maior se o país explorasse, ao máximo, a capacidade produtiva da bebida.
Segundo o Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), o Brasil tem capacidade para atingir um volume de produção de 1,2 bilhão de litros por ano. Atualmente, são cerca 800 milhões de litros. No último anuário da cachaça divulgado pelo Mapa em 2021, 936 produtores formalizados eram responsáveis por 4.969 rótulos.
O valor exportado em 2022 foi de US$ 20,08 milhões, segundo dados do Comex Stat (sistema de consultas de dados sobre exportação), por meio do Ministério da Economia, compilados pelo Ibrac, o que representa um aumento de 52,8% em relação a 2021.