A análise das necessidades de refugiados e migrantes, da Plataforma de Coordenação Intergerencial para Refugiados e Migrantes da Venezuela (R4V), aponta que cinco em cada dez famílias venezuelanas no Brasil afirmaram ter tido dificuldades para obter alimentos suficientes em agosto, segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). De acordo com a Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), pelo menos 40 mil venezuelanos vivem no Amazonas.
A insegurança alimentar implica diretamente no trabalho de jovens e crianças, visto que os membros destas famílias venezuelanas precisam procurar empregos, mesmo que na informalidade, cada vez mais cedo. O relatório também aponta que 70% das crianças resgatadas do trabalho infantil no Brasil, em 2022, eram da Venezuela.
“A mais recente Análise das Necessidades de Refugiados e Migrantes (RMNA) para 2023 mostra que muitas pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela na região não têm oportunidades estáveis de subsistência, o que dificulta sua integração efetiva e sua contribuição para as comunidades de acolhida”, informa o estudo, coliderado pela Agência da ONU para as Migrações (OIM) e ACNUR.
Durante a atualização do Plano Estadual de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Atenção a Migrantes, Refugiados e Apátridas do Amazonas, em maio, a Associação de Venezuelanos do Amazonas (Assoveam) destacou justamente que a empregabilidade é um dos principais desafios.
“Nosso apelo é pela solidariedade. Fazer que eles [migrantes e refugiados] consigam se inserir na sociedade, no campo de trabalho. Se conseguirmos isso, será um benefício para todos porque nossa sociedade precisa dessa mão de obra qualificada. Queremos ajudar, trabalhar juntos com órgãos governamentais para conseguir avançar”, afirmou a presidente da Assoveam, Solange Blanco.
Segundo a R4V, mais de quatro milhões de pessoas ainda enfrentam dificuldades na América Latina e na região do Caribe. Além disso, aproximadamente 19% das crianças refugiadas e migrantes não frequentam a escola, mas trabalham em empregos informais e de baixa remuneração para sustentar as famílias.
“O fato de que metade dos venezuelanos na região está enfrentando barreiras para receber assistência médica e não pode pagar três refeições por dia ou ter acesso à moradia adequada, como aponta a RMNA, destaca a necessidade urgente de apoio internacional, para que eles tenham oportunidades de ser autossuficientes, integrar-se efetivamente às comunidades que os acolhem e contribuir para o desenvolvimento dos países da região”, afirma Eduardo Stein, representante especial conjunto da OIM e do ACNUR para Refugiados e Migrantes da Venezuela.
De acordo com dados oficiais e estimativas fornecidas pelos países anfitriões e compilados pela plataforma R4V, em agosto de 2023 havia mais de 7,7 milhões de refugiados e migrantes da Venezuela em todo o mundo. Mais de 6,5 milhões deles estão vivendo em 17 países da América Latina e do Caribe.