A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) esclareceu, durante uma entrevista coletiva nesta segunda-feira (2), que o caso de violência infantil em São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros de Manaus) não fazia parte de um ritual satânico. Dois homens, de 37 e 42 anos, foram presos preventivamente por tortura, omissão de socorro, maus tratos e estupro de vulnerável contra duas crianças na zona rural daquele município.
O delegado Paulo Mavignier, diretor do Departamento de Polícia do Interior (DPI), afirma que os crimes aconteceram em uma comunidade indígena distante aproximadamente 100 quilômetros de São Gabriel da Cachoeira, informações que indicam ser a Terra Indígena Balaio. Segundo o diretor do DPI, os suspeitos são pai e tio das vítimas, da etnia Kubeo. Eles embriagavam-se e faziam menções a rituais satânicos enquanto agrediam o filho mais velho.
“Ao interrogar o pai, ele relatou que o filho tinha problemas de saúde e levava a uma espécie de curandeiro para fazer orações. Verificamos que na verdade não existia situação de rituais satânicos, mas que o pai se embriagava de uma forma muito elevada com o irmão e, naquele momento, passava a agredir fisicamente esta criança de 12 anos, privava de alimentação, de sono e as agressões culminaram na formação de um coágulo na cabeça do jovem”, explica.
As investigações começaram justamente para averiguar a origem de diversas agressões contra a criança de 12 anos, até que descobriram que a irmã dele, de 8 anos, havia sido vítima de abuso sexual do pai. A denúncia chegou à PC-AM por meio do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de São Gabriel da Cachoeira e, segundo o delegado da DPI, o boletim médico informava que o jovem perdeu a visão e está paraplégico.
“No ato da prisão, avançamos nas investigações, interrogando a família e soubemos também que a irmã desta criança teria sofrido abusos sexuais do pai. Foi feito a perícia de danos sexuais e confirmado que ela estava com violações no hímen, indicando que tinha sido vítima de relação sexual forçada”, explica Paulo Mavignier.
A Polícia Civil afirma ainda que investiga uma possível conivência da mãe, uma vez que as crianças moravam com ela e passavam os fins de semana na casa do pai. De acordo com o relato da vítima de 12 anos, as agressões aconteciam também com uma barra de ferro e com tijolos.
“A criança era vítima daquela agressão tão intensa por conta da embriaguez do pai e do tio e usavam este artifício, de que o garoto estava envolvido em alguma situação obscura, maligna e que as agressões justificariam a libertação da criança. Mas era uma coisa do pai e acontecia enquanto estava embriagado”, completa o delegado.
A partir da constatação dos crimes, os policiais prenderam os suspeitos, que não assumiram a autoria dos delitos. Ambos são professores e o pai das vítimas foi preso ainda dentro de uma escola, enquanto o tio foi abordado no perímetro urbano do município.
Os suspeitos foram encaminhados à audiência de custódia em São Gabriel da Cachoeira, a prisão preventiva foi homologada e eles estão à disposição da Justiça naquele município. O filho mais velho segue no hospital, mas a filha mais nova está sob custódia da família da mãe.