A combinação dos efeitos climáticos com a ação do fenômeno El Niño tem provocado eventos extremos em várias partes do mundo. No Amazonas, muito provavelmente, tenha contribuído bastante para a vazante que vem ocorrendo em níveis históricos.
O Rio Negro, que junta-se ao Solimões formando o Rio Amazonas, atingiu a cota mais baixa já registrada, ultrapassando a marca de 13,63 metros da estiagem de 2010. O índice, no dia 16 deste mês, chegou a 13,59 metros e, dia 18, atingiu a cota de 13,38 metros, algo sem precedentes. Os números apontam que a queda está sendo não somente maior, este ano, mas também acontecendo de forma mais rápida.
Esta, que já é a pior seca desde quando o nível do rio começou a ser monitorado, promete se agravar nos próximos dias. A previsão é de que continue nesse ritmo acelerado, uma vez que o período de estiagem se prolonga, normalmente, até o final de outubro e com o El Niño poderá até se estender ainda mais. Até então, as secas mais severas haviam ocorrido em 2010 (13,63m), 1963 (13,64m) e 1906 (14,20m).
Para minimizar os impactos da seca, o Governo do Amazonas vem atuando em várias frentes. Tem enviado ajuda humanitária para as famílias afetadas – com cestas básicas, kits de higiene, água potável e medicamentos – e adotado uma série de providências que envolvem apoio financeiro e reforço de pessoal, inclusive para as áreas de registro de focos de incêndio, problema potencializado com a estiagem.
No dia 12 de setembro, o governador Wilson Lima assinou decreto de Situação de Emergência Ambiental, abrangendo municípios do Sul do Amazonas e da Região Metropolitana de Manaus. O decreto vale para os municípios de Apuí, Novo Aripuanã, Manicoré, Humaitá, Canutama, Lábrea, Boca do Acre, Tapauá e Maués, no sul do estado. Na Região Metropolitana de Manaus, alcança a capital e mais Iranduba, Novo Airão, Careiro da Várzea, Rio Preto da Eva, Itacoatiara, Presidente Figueiredo, Manacapuru, Careiro Castanho, Autazes, Silves, Itapiranga e Manaquiri.
O Governo lançou, também, a Operação Estiagem 2023, com várias medidas para atenuar os efeitos da vazante histórica, e com investimentos na ordem de R$ 100 milhões. Criou, ainda, o Comitê Intersetorial de Enfrentamento à Situação de Emergência Ambiental.
Aos produtores rurais, duramente atingidos e sujeitos à perda de safra, autorizou a renegociação de dívidas com a Agência de Fomento do Amazonas (Afeam), a suspensão de cobranças e envio dos nomes dos credores aos órgãos de restrição ao crédito.
Calcula-se que, hoje, cerca de 112 mil famílias, em torno de 451 mil pessoas, estejam sendo afetadas pela seca dos rios ou pelas queimadas. A estiagem, que atinge rios e afluentes, já provoca o isolamento de comunidades de 38 municípios amazonenses, onde o acesso fluvial ficou impraticável. Para garantir o abastecimento de produtos essenciais para esses locais mais críticos, o Governo do Estado está fazendo parceria com empresas de táxi aéreo.
Toda ajuda tem sido bem-vinda. Para reforçar o combate às queimadas na Região Metropolitana de Manaus, o estado recebeu brigadistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em atenção ao pedido expresso feito pelo governador Wilson Lima.
O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) está atuando forte nessa região, onde 60 pessoas já foram autuadas. O Corpo de Bombeiros também está com o seu efetivo na linha de frente, tanto na Região Metropolitana como no Sul do Amazonas. A Companhia de Saneamento do Amazonas (Cosama), que é vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano (Sedurb), também está envolvida nas ações, no controle do abastecimento e da qualidade da água, e no envio de caminhões pipa para regiões críticas.
O monitoramento das áreas está sendo realizado por satélite e drones e as equipes têm se desdobrado para atender onde houver necessidade. Todos os órgãos do Governo do Amazonas estão em alerta para ajudar no que for preciso, dentro das suas áreas de atuação. A orientação do governador é para total proteção às pessoas e ao meio ambiente.
Os eventos, cada vez mais extremos, tendem a se repetir daqui para frente e precisamos estar preparados, permanentemente, para enfrentá-los da melhor forma possível. Mais do que tudo, exigirão um esforço conjunto, um olhar sensível de todos, em especial dos países mais ricos e das entidades de proteção ao meio ambiente, para com as populações mais vulneráveis, incluindo as que vivem nessa região do planeta. É um trabalho que envolve várias mãos e que depende do esforço de cada um, cidadãos, Governos, ONGs, empresários, instituições.
Marcellus Campêlo é engenheiro civil, especialista em saneamento básico; exerce, atualmente, o cargo de secretário de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano do Amazonas.