“Nós vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2,1-12). Os
magos levantam os olhos e veem a estrela. Viram uma estrela, que os pôs em
movimento, a caminho.
São João Crisóstomo diz que os Magos não se
puseram a caminho porque viram a estrela, mas viram a estrela porque se
tinham posto a caminho, isto é, levantar os olhos, o olhar se ergue e vê.
Levantam os olhos, estavam à procura, perscrutavam os céus e a estrela os
encontrou.
Mantinham o coração fixo no horizonte, podendo assim ver aquilo
que lhes mostrava o céu, porque havia neles um desejo que a tal os impelia:
estavam à procura: levantaram os olhos! Os magos levantaram os olhos,
viviam com os olhos levantados e perscrutavam, por isso viram!
Existem muitas estrelas, mas uma que ilumina o céu e a terra, guia
pelos desertos, as cidades, os descampados, os vales, as pobrezas, os
desvirtuamentos, as incertezas, os rumos, as destruições, as agressões à obra
criada por Deus. Para vê-la, os olhos devem buscar, abrir-se, na busca de ver.
Caminhantes, procurantes, guiados pela estrela, são tomados de
admiração quando entram na casa e veem o menino e sua mãe. Na estalagem,
na falta de quase tudo, na não casa, diante da simplicidade e pobreza:
admiração.
Admiração que se transforma em adoração. Deus pobre, envolto
em faixas não é apenas atrativo e admirável, é adorável. Depois de verem,
apalparem a presença despretensiosa, gratuita, inocente, reverente,
ajoelharam, o adoraram. E na adorar, de joelhos, oferecem ouro incenso e
mirra.
Abriram seus cofres: com o ouro reconhecem a dignidade e o valor
inestimável do ser humano: tudo deve estar subordinado à sua fidelidade; o
menino merece que se ponham a seus pés todas as riquezas do mundo: o
ouro. O incenso resume o desejo de que a vida desse menino desabroche e
sua dignidade se eleve até o céu: todo ser humano é chamado a participar da
vida de Deus, no Menino, é expressão de Deus. A mirra é medicamento para
curar a enfermidade e aliviar o sofrimento: o ser humano necessita de cuidados
e consolo, não de violência e agressão (cf. Pagola, J.A.).
Na manifestação do Senhor, admiramos que a criança de Belém reúna
todos os povos; que todos os povos participam da salvação; que todos fazem
parte do amor de Deus. Deus se revelou aos de perto e aos de longe. Como
nos ensina Santo Agostinho: amadíssimos, filhos e herdeiros da graça,
considerada vossa vocação e, uma vez manifestado Cristo aos judeus e aos
gentios, apegue-se a ele como uma pedra angular (cf. Ef 2,20) com um amor
que não conhece limites.
Com efeito, no limiar de sua infância Ele se
manifestou tanto aos que estavam próximos e aos que estavam longe (Ef
2,17). Aos judeus, nos pastores que se aproximaram e para os gentios, nos
magos que vieram de longe (cf. Sermão, 200).
Jesus veio para todos. Ninguém foi excluído! É uma bênção para todos,
todos! Derramou seu amor por todos, em todos!
Cardeal Leonardo Steiner