Os Estados Unidos começaram a conduzir ataques contra alvos no Iraque e na Síria, provavelmente marcando o início de uma ofensiva em grande escala contra milícias apoiadas pelo Irã responsáveis por ataques contra tropas dos EUA no Oriente Médio, de acordo com duas autoridades dos EUA.
Os ataques americanos deixaram várias pessoas mortas e feridas, informou a TV estatal síria na noite desta sexta-feira (2), sem dar mais detalhes.
A ação acontece em resposta a um ataque com drones realizado por grupos apoiados pelo Irã contra um posto militar dos EUA na Jordânia no domingo (28), que matou três militares americanos e feriu mais de 40.
Além disso, os ataques foram feitos pouco tempo depois de o presidente Joe Biden ter participado de uma transferência digna dos corpos dos soldados mortos e ter se encontrado com seus familiares.
As autoridades sinalizaram que a ofensiva provavelmente será mais significativa do que as feitas anteriormente contra milícias apoiadas pelo Irã nas últimas semanas, que se concentraram principalmente no armazenamento de armas ou em instalações de treino.
Assim, o governo americano quer dissuadir e impedir novos ataques, ao mesmo tempo que evita que um conflito em grande escala com o Irã irrompa em uma região já agitada pela guerra entre Israel e o Hamas.
Resposta “em vários níveis”
A administração Biden sinalizou que poderá haver mais ações nos próximos dias. O secretário de Defesa, Lloyd Austin, afirmou na quinta-feira (31) que a resposta dos EUA seria “em vários níveis”.
“Temos a capacidade de responder várias vezes, dependendo da situação”, destacou em entrevista coletiva no Pentágono.
Biden está sob pressão crescente para responder às mortes dos soldados de uma forma que interrompa definitivamente os ataques das milícias, informou anteriormente a CNN.
Militantes apoiados pelo Irã atacaram instalações militares dos Estados Unidos no Iraque e na Síria mais de 160 vezes desde outubro, e vários legisladores republicanos pediram que os EUA ataquem diretamente o Irã para enviar uma mensagem clara.
Mas autoridades do governo deixaram claro que qualquer resposta seria proporcional para não agravar ainda mais a situação na região.
“Não procuramos uma guerra com o Irã. Não procuramos um conflito mais amplo no Oriente Médio”, ponderou John Kirby, coordenador de comunicações estratégicas do Conselho de Segurança Nacional, à CNN na segunda-feira (29).
EUA acusam combatentes islâmicos
Na quarta-feira (30), a Casa Branca disse que um conjunto de grupos chamado Resistência Islâmica no Iraque estava por trás do ataque de drones na Jordânia.
“Acreditamos que o ataque na Jordânia foi planejado, financiado e facilitado por um grupo guarda-chuva denominado Resistência Islâmica no Iraque, que contém vários grupos, incluindo o Kata’ib Hezbollah”, anunciou Kirby.
Ele não chegou a atribuir culpa ao Kata’ib Hezbollah, a milícia mais poderosa apoiada pelo Irã no Iraque, ressaltando que esse não era o único grupo responsável por ataques anteriores a bases dos EUA.
“Isso certamente tem as características dos tipos de coisas que o Kata’ib Hezbollah faz”, pontuou, acrescentando: “A atribuição com a qual nossa comunidade de inteligência se sente confortável é que isso foi feito pelo grupo guarda-chuva chamado Resistência Islâmica no Iraque”.
Os militares dos Estados Unidos realizaram vários ataques contra depósitos de armas de representantes iranianos no Iraque e na Síria desde outubro, mas nenhum deles dissuadiu os militantes, cujos 165 ataques feriram mais de 120 militares dos EUA em toda a região.
O Irã passou anos investindo nestes grupos, informalmente conhecidos como o “eixo da resistência”, fornecendo dinheiro, armas e treino, enquanto Teerã procurava aumentar sua influência no Oriente Médio e pressionar os Estados Unidos a saírem da região.
No entanto, nenhum dos outros ataques dos grupos armados desde outubro havia resultado na morte de militares dos EUA. O ataque de domingo marcou uma escalada significativa, à qual Biden e sua equipe de segurança nacional acreditaram que foram obrigados a responder com força.
Irã não procura conflito, mas revidará
Ainda assim, o Irã tem dito que não procura conflito. Nesta sexta-feira (2), o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, afirmou que o país não iniciará nenhuma guerra, mas “responderá fortemente” aos agressores.
“Já dissemos muitas vezes que não iniciaremos nenhuma guerra; mas se um país ou força opressiva quiser nos intimidar, a República Islâmica do Irã responderá fortemente”, ressaltou em discurso televisionado.
No entanto, houve mensagens contraditórias por parte das milícias.
Em um sinal de um possível esforço para acalmar as tensões, o Kataib Hezbollah anunciou na terça-feira a suspensão das suas operações militares contra as forças dos EUA na região.
“Estamos anunciando a suspensão das operações militares e de segurança contra as forças de ocupação [tropas dos EUA] a fim de evitar constrangimentos ao governo iraquiano”, anunciou o Kataib Hezbollah em comunicado.
“Continuaremos defendendo o nosso povo em Gaza de outras maneiras e recomendamos aos corajosos Mujahideen das Brigadas Livres do Hezbollah que [realizem] defesa passiva [temporariamente] se ocorrer qualquer ação hostil dos EUA contra eles”, adicionaram.
Entretanto, nesta sexta-feira (2), o líder do grupo militante Al-Nujaba, Akram Al-Kaabi, ressaltou que continuará atacando alvos norte-americanos.
Fonte: CNN