Em nome da “fraternidade humana”, que abraça todos os homens, une-os e
torna-os iguais. Em nome desta fraternidade, dilacerada pelas políticas de
integralismo e divisão e pelos sistemas de lucro desmesurado e pelas tendências
ideológicas odiosas, que manipulam as ações e os destinos dos homens. Em nome
da liberdade, que Deus deu a todos os seres humanos, criando-os livres e
enobrecendo-os com ela. Em nome da justiça e misericórdia, fundamentos da
prosperidade e pilares da fé. É necessário adotar a cultura do diálogo como
caminho; a colaboração comum como conduta (cf. Papa Francisco, FT, 285); a
justiça como método e critério.
As palavras como democracia, liberdade, justiça, fraternidade, quase perderam
o seu sentido original. São, muitas vezes, manipuladas, desfiguradas e usadas como
instrumento de domínio, de imposição, de lucro. Acabam, desfigurando seu sentido,
justificando ações que não condizem com a democracia, a liberdade, a fraternidade.
Talvez, seja expressão do sentido diminuído de pertença à mesma
humanidade e o sonho de construir juntos a fraternidade. A indiferença, a desilusão,
a dominação, leva ao esquecimento de uma pertença, de todos estarem no mesmo
barco. O isolamento e o fechamento ou os próprios interesses nunca são o caminho
para dar esperança e realizar uma renovação, que possibilite a amizade social. O
isolamento, não; a proximidade, sim. Cultura do confronto, não; cultura do encontro,
sim (cf. Papa Francisco, Discurso ao mundo acadêmico e cultural, Cagliari, 2013).
Justiça é o fundamento do direito. A justiça é a base da lei. Tudo para da
equidade e liberdade na convivência em fraternidade. É o possibilitar a cada um o
que lhe é devido. Significa que nenhuma pessoa ou grupo humano está autorizado a
menosprezar, a pisar a dignidade e o direitos dos outros ou dos grupos sociais. A
dignidade que perpassa a economia, a política, o lazer. A justiça possibilita a
fraternidade quando não deixa explorar, descartar, mas protege, reinsere na
sociedade, oportuniza a liberdade, confere dignidade de vida.
O amor, a justiça e a solidariedade não se alcançam duma vez para sempre.
Necessitam de pessoas operativas e esperançosas, pois, para que a justiça possa
sustentar a fraternidade, necessita de dedicação, elucidação, fundamentação, busca
das raízes de si mesma. Ela necessita ser cultivada para ser fonte da fraternidade. A
justiça desperta para relações qualificadas e apropriadas, pois todos iguais na
dignidade.
Fraternidade e justiça! A justiça que suscita a fraternidade; a fraternidade que é
sustentada pela justiça. Fraternidade e amizade social são possíveis na graça da
justiça.
Cardeal Leonardo Steiner