Os compromissos dos Estados Unidos com a defesa do Japão e das Filipinas permanecem “firmes”, disse o presidente Joe Biden na quinta-feira (11), ao receber os líderes desses países em meio às suas próprias disputas territoriais com a China.
Os comentários foram feitos no momento em que Biden organizou a primeira cúpula trilateral entre os três países, dando as boas-vindas ao presidente filipino Ferdinand Marcos Jr. na Casa Branca, um dia após a visita oficial do primeiro-ministro japonês Fumio Kishida.
“Quando somos um só, seremos capazes de criar um futuro melhor para todos”, disse Biden na Sala Leste da Casa Branca na quinta-feira.
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O Japão e as Filipinas têm ambos disputas territoriais separadas com a China, no caso do primeiro as Ilhas Senkaku no Mar da China Oriental e outras partes no Mar do Sul da China.
As tensões Filipinas-China se concentraram no Second Thomas Shoal, um banco de areia que fica a cerca de 200 quilômetros da costa da ilha filipina de Palawan. Na década de 1990, as Filipinas encalharam no banco de areia um antigo navio de transporte da Segunda Guerra Mundial, para ajudar a fazer valer sua reivindicação sobre a área. O navio agora é basicamente um destroço enferrujado e é tripulado por fuzileiros navais filipinos estacionados em esquema de escala.
Entretanto, a China reivindica o banco de areia, que se encontra na zona econômica exclusiva das Filipinas, como seu território soberano, tal como faz com grande parte do Mar do Sul da China, desafiando uma decisão de arbitragem internacional.
Conflitos recentes ocorreram quando tentativas filipinas de reabastecer as forças do navio foram recebidas por navios da Guarda Costeira da China disparando canhões de água contra os barcos de reabastecimento filipinos, resultando em ferimentos aos marinheiros filipinos e danos aos navios.
Referindo-se às tensões filipino-chinesas, Biden disse na quinta-feira que “qualquer ataque a aeronaves, navios ou forças armadas filipinas no Mar do Sul da China invocaria o nosso tratado de defesa mútua”.
O tratado de defesa mútua de 1951 entre os EUA e as Filipinas – o mais antigo pacto dos EUA na Ásia-Pacífico – estipula que ambos os lados ajudariam a se defender mutuamente se fossem atacados por terceiros.
A reunião de quinta-feira marca a mais recente tentativa da administração de lidar com esse tipo de agressão chinesa, e um funcionário do alto escalão da administração disse antes da reunião que a Casa Branca está muito preocupada com as ações chinesas no Mar do Sul da China.
“O que vocês verão é uma demonstração clara de apoio e determinação tanto do presidente Biden quanto do primeiro-ministro Kishida de que estamos lado a lado com Marcos, prontos para apoiar e trabalhar com as Filipinas em cada passo”, disse uma autoridade antes da reunião de quinta-feira.
Marcos disse na quinta-feira que as Filipinas, o Japão e os Estados Unidos “se encontram hoje como amigos e parceiros unidos por uma visão compartilhada na busca de um Indo-Pacífico pacífico, estável e próspero”.
Os três países, acrescentou Marcos, estão “ligados por um profundo respeito pela democracia, pela boa governança e pelo Estado de direito”.
A reunião ocorre em um momento em que a região se debate com a incerteza da postura agressiva da China em relação a Taiwan e ao Mar do Sul da China, juntamente com as provocações nucleares da Coreia do Norte e a sua crescente relação com a Rússia – preocupações que aproximaram os aliados regionais dos EUA.
O Japão tem estado no centro da construção da aliança de Biden no Indo-Pacífico, uma vez que as autoridades viram um parceiro disposto em Kishida, que mudou significativamente a postura de defesa do país nos últimos anos e forneceu apoio contínuo à Ucrânia no meio da invasão russa. Kishida se comprometeu a aumentar os gastos com defesa em 2% do PIB até 2037 e adquiriu mísseis American Tomahawk para aumentar as suas capacidades de contra-ataque.
Biden receu Marcos na Casa Branca no ano passado, mostrando a sua intenção de restabelecer laços fortes com Manila, que se desgastaram sob o governo do ex-presidente Rodrigo Duterte, que procurava relações mais estreitas com a China.
“Continuaremos a apoiar os objetivos de modernização dos militares das Filipinas”, disse Biden ao líder visitante na época, prometendo que as duas nações “não apenas compartilham uma parceria forte – compartilhamos uma amizade profunda, que foi enriquecida por milhões de filipino-americanos nas comunidades em todo os Estados Unidos”.
Um destaque da reunião de quinta-feira foram vários anúncios destinados a apoiar as Filipinas em meio a esses confrontos.
Um funcionário do alto escalão do governo também disse que na quinta-feira a Casa Branca anunciará um novo projeto de infraestrutura nas Filipinas. Foi informado no início dessa semana que um dos anúncios será o desenvolvimento de um novo corredor ferroviário e marítimo entre a Base Aérea de Clark, nas Filipinas, e a Base Naval de Subic, uma medida que visa enviar uma mensagem clara a Pequim.
Biden fez uma breve referência a esse corredor econômico na quinta-feira: “Significa mais empregos para as pessoas em toda a região”, disse ele. “Isso significa mais investimento em setores críticos para o nosso futuro – energia limpa, portos, ferrovias, agricultura e muito mais”.
Espera-se também que a Casa Branca aumente a capacidade militar filipina com um novo investimento em infraestruturas semelhante ao que os EUA anunciaram na Índia antes do G20.
Nos dias que antecederam a cúpula, os EUA, o Japão e as Filipinas – juntamente com a Austrália – conduziram exercícios militares marítimos perto da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) das Filipinas, depois de navios filipinos terem alegado “assédio” por navios chineses no Mar do Sul da China.
O funcionário do alto escalão acrescentou que a Casa Branca também fará anúncios sobre “tecnologia de rede aberta de acesso de rádio” e que tanto os EUA como o Japão fornecerão milhões de dólares em financiamento.
As autoridades também disseram que anunciarão uma próxima patrulha da Guarda Costeira no Indo-Pacífico que ocorrerá “no próximo ano”.