“Eu deixo aqui meu apelo. Apelo de 200 mil indígenas que habitam, lutam pela sua sobrevivência nesse país tão grande e tão pequeno para nós, Santo Padre. Depositamos no senhor, como representante da Igreja Católica, chefe da humanidade, que leve nossa voz para que ainda a nossa esperança encontre repercussões no mundo internacional. Esta é a mensagem que deixo para o senhor” (Marçal de Souza Tupã’i para Papa João Paulo II, 1980, Manaus).
Constatamos um aumento e acirramento da violência contra os povos indígenas dentro de seus territórios. Grupos convocam por redes sociais à população, a grupos armados e, em alguns casos, com a conivência de representantes das forças de segurança, para promover ataques violentos e ameaças contra os povos indígenas. Alguns deles se organizam no que chamam agora de “Movimento Invasão Zero”. Entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024, oito ataques foram realizados contra comunidades indígenas no sul e extremo sul da Bahia.
Outros ataques foram perpetrados no Tekoha Guasu Guavirá, do povo Avá Guarani, no Paraná; e em outros povos nos estados de Mato Grosso, Rondônia e Mato Grosso do Sul, com a criminosa queima de Casas de Reza.
A discussão em torno do chamado Marco Temporal, continua a levar violência contra os povos indígenas. Aceitar o marco temporal é tornar lei a invasão e destruição de terras indígenas. A insegurança jurídica sobre as terras indígenas é palco para o aumento do racismo e da morte em relação aos indígenas. Muitas comunidades permanecem vivendo em acampamentos improvisados, à beira de estradas, sob lona preta, sem nenhuma segurança e sem condições dignas de vida. Comunidades permanecem ameaçadas dentro de seus próprios territórios retomados, à mercê de ameaças de despejo, de ataques armados ou de decisões injustas de reintegração de posse. Em territórios, inclusive já homologados, persiste a invasão de grileiros, madeireiros, caçadores e pescadores ilegais, garimpeiros ou grupos vinculados ao tráfico de drogas, o crime organizado e outros grupos.
Os 305 povos que resistem no Brasil, com suas diversas formas de ser e de estar no mundo, responsáveis por mais de 270 línguas vivas e por sistemas culturais extremamente ricos, que vivenciam diversas formas de profunda espiritualidade e expressão do Sagrado, ajudam a acreditar que é possível um mundo mais justo e sustentável, rico na diversidade, onde “todos tenham Vida, e Vida em abundância”.
“Devemos escutar mais os povos indígenas e aprender com seu modo de vida, a fim de compreender adequadamente que não podemos continuar devorando avidamente os recursos naturais, porque a terra nos foi confiada para que seja mãe para nós, a mãe terra, capaz de dar o necessário a cada um para viver” (Papa Francisco).
Caminhar na esperança, na busca da justiça, da fraternidade e da dignidade dos povos indígenas!