Uma delegação de especialistas da Ucrânia em direitos humanos está visitando o Brasil esta semana para pedir o apoio do governo e da sociedade civil contra as ações militares e supostos abusos cometidos pela Rússia na guerra entre os dois países.
A delegação é composta por três ativistas ucranianos e por Ida Sawyer, diretora da Divisão de Crise e Conflitos da Human Rights Watch (HRW), uma das mais importantes organizações internacionais de defesa dos direitos humanos. Eles vão se encontrar com representantes de alguns ministérios, como Direitos Humanos, e dos poderes Judiciário e Legislativo.
O diretor jurídico da ONG Truth Hounds e membro do conselho consultivo internacional da Procuradoria Geral da Ucrânia, Dmytro Koval, disse à CNN que a viagem é importante para tentar conseguir o apoio do Brasil em algumas ações contra a Rússia.
“Em primeiro lugar, a Ucrânia e os ucranianos precisam do apoio de países que não são nossos aliados habituais. Uma coisa é sermos apoiados pela Europa e pelo ocidente, e isso é definitivamente importante, mas é completamente diferente sentirmos o apoio de outros países também, incluindo e talvez até em primeiro lugar, o Brasil e a América Latina”, disse ele.
“Necessitamos desse apoio por inúmeras razões. É importante do ponto de vista moral e também é importante para diferentes iniciativas contra a Rússia que a Ucrânia está começando a adotar na ONU. É preciso isolar a Federação Russa, o que talvez a empurre para negociações para a paz. Ou pelo menos para aumentar o cerco às suas atividades ilegais na Ucrânia”, disse ele.
O peso do Brasil no tabuleiro internacional aumenta ainda mais, segundo ele, por estar na presidência do G20 e ser parte dos BRICS, o grupo das grandes nações em desenvolvimento – o qual também inclui a Rússia.
Um dos fatores de preocupação do governo ucraniano com relação ao G20 é a possibilidade de o presidente russo, Vladimir Putin, comparecer à cúpula de líderes do grupo, em novembro, no Rio de Janeiro.
“Há o aspecto da importância da presidência do Brasil no G20. Achamos que essas visitas, claro, não podem realmente mudar a política e a abordagem do governo brasileiro em relação à questão do convite para a participação da delegação russa (na cúpula) do G20. Mas pelo menos é uma contribuição para esta discussão crítica sobre como e quando receber a Rússia”, disse ele.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, no ano passado, que iria convidar Putin para o encontro do G20. Lula disse também que, se dependesse dele, o líder russo não seria preso no país – apesar de um mandado de prisão contra ele ter sido expedido por crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
Como o Brasil reconhece o TPI, teria a obrigação de cumprir o mandado e prender Putin. O líder russo já deixou de comparecer à cúpula dos BRICS no ano passado, na África do Sul, pelo mesmo motivo.
Logo depois, o presidente e o governo reconheceram que essa era uma questão do Judiciário, caso Putin de fato vá ao Rio para o encontro.
Já a diretora da HRW Ida Sawyer afirmou que a visita da delegação também tem o objetivo de “encorajar o presidente Lula e o governo brasileiro a desempenharem um papel de liderança na defesa dos direitos humanos, na proteção de civis e no apoio à justiça internacional”.
A diretora da HRW disse que “o Brasil tem um papel fundamental a desempenhar para ajudar a impedir novas atrocidades em massa e fazer justiça às vítimas, inclusive como membro do Tribunal Penal Internacional, do Conselho de Direitos Humanos da ONU e como anfitrião da cúpula do G20 no final deste ano”.
Com relação ao convite a Putin para participar do G20, Sawyer afirmou que “o Brasil tem a obrigação de cooperar com o TPI, inclusive na execução de mandados de prisão pendentes. Isto significa que, caso Putin viaje ao Brasil para a próxima cúpula do G20, ou para qualquer outra ocasião, o Brasil tem a obrigação de prendê-lo e entregá-lo ao Tribunal”.
Procurado pela imprensa, o Itamaraty lembrou que a Rússia é um país membro do G20 e, nesta condição, é natural que seja convidada para a cúpula. A diplomacia brasileira também afirmou que o próprio governo russo decidirá quem vai representar o país no encontro do Rio de Janeiro.
Apesar de algumas declarações controversas do presidente Lula sobre o conflito, o Brasil condenou a invasão russa e defendeu a integridade territorial da Ucrânia em todas as votações ocorridas desde o início da guerra na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança da ONU.
Fonte: CNN.