A primavera chegou à Amazônia, trazendo as primeiras chuvas que anunciam o fim de um verão escaldante. No entanto, este ano, ela nos encontrou envoltos em fumaça, com pulmões adoecidos. As queimadas atingiram níveis alarmantes, e o ar denso, carregado de fuligem, se espalha por vastas áreas, castigando as comunidades e os ecossistemas. O Alto Solimões, ainda assim, deu sinais de esperança com três horas de uma tromba d’água, que ecoou como uma sinfonia rara em meio ao caos.
É a Natureza pedindo clemência
Neste contexto, poucos eventos de chuva não são suficientes para apagar o rastro de destruição deixado pelo fogo. A seca de 2024 não foi um evento isolado. Ela repetiu e agravou os impactos de 2023, e já há previsões de uma seca ainda mais severa em 2025. O novo normal climático se instala rapidamente, e as consequências estão à nossa porta. É bem verdade que o fogo não é pesadelo apenas no país. Portugal arde assim como vários outros territórios. É a Natureza pedindo clemência.
Previsibilidade Fatal
Não há sinais de que os extremos climáticos, como ondas de calor e a falta de chuvas, diminuam em breve. Pelo contrário, enfrentaremos sua crescente intensidade e frequência. Para nos adaptarmos a essa nova realidade, será necessário repensar nossas estratégias de convivência com o meio ambiente, assim como nossas infraestruturas, que se mostram vulneráveis. A fumaça constante e as secas que desfiguram a floresta são um lembrete de que a nossa inação terá um preço alto para a vida e para a saúde.
BR-319 travada
A vazante histórica deste ano não apenas afetou as comunidades ribeirinhas, como também comprometeu atividades econômicas vitais, como o transporte fluvial de mercadorias e insumos. Os rios Purus, Madeira e Amazonas, cujos níveis caíram drasticamente, tornaram a navegação quase impossível. E a BR-319, que depende dessas águas para garantir as balsas, também ficou à mercê da natureza. Esse colapso logístico ameaça o abastecimento de várias regiões, mostrando como estamos despreparados para lidar com as forças climáticas.
Danos à saúde pública
A fumaça das queimadas, alimentada por práticas descontroladas e interesses econômicos, deixou um rastro de danos irreparáveis. As comunidades, especialmente crianças e idosos, sofrem com os pulmões intoxicados. Enquanto as populações indígenas usavam o fogo de forma controlada, os incêndios atuais destroem o bioma de maneira indiscriminada, amplificando a crise ambiental e de saúde pública.
Reconciliação com a Natureza
A Amazônia, o Cerrado e o Pantanal são biomas essenciais para a manutenção do equilíbrio ambiental do Brasil e do mundo. Mas esse equilíbrio está se desintegrando rapidamente. Precisamos de uma mudança profunda e imediata para reduzir o desmatamento e as queimadas, protegendo o que resta das nossas florestas. É uma responsabilidade coletiva garantir a continuidade dos serviços ambientais que esses biomas proporcionam — e a saúde das populações que dependem deles.
Decisões Corretas Agora
Neste cenário sufocante, com a primavera envolta em fumaça e os pulmões adoecidos, a única saída é uma reconciliação urgente com a natureza. É hora de assumirmos a responsabilidade de proteger os biomas que sustentam nossa vida e nossas economias. A natureza, se bem tratada, tem a capacidade de se regenerar. Mas para que isso ocorra, as decisões corretas precisam ser tomadas agora — antes que seja tarde demais.
Nelson Azevedo é economista, empresário e presidente do SIMMMEM, Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.