Os prejuízos da seca severa somada às queimadas ainda são estimados no setor agrícola. Analistas do mercado financeiro estimam que os impactos diretos recaem mais sobre os produtores rurais do que em empresas agrícolas.
Os impactos estimados podem ser verificados principalmente em dificuldades logísticas às empresas, aponta João Daronco, analista da Suno Research. Já os produtores rurais são mais afetados porque trabalham diretamente no campo.
“As queimadas tendem a apresentar um impacto maior nos produtores do que propriamente nas empresas”, afirma. “Eu não vejo grandes impactos nas companhias do agro listadas, como Kepler, Boa Safra e 3Tentos.”
Em setembro, quase 60% do território brasileiro ficou sob risco de queimadas, conforme a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva. Enquanto isso, o o levantamento do Mapa do Fogo do MapBiomas apontou que a área total queimada no país foi 150% maior do que ano passado.
As regiões mais afetadas foram aquelas com produção agrícola, como Mato Grosso, Pará e Tocantins. No mês de setembro, a área queimada foi de 3.138.508, 2.999.074 e 1.342.628 milhões de hectares, respectivamente, mostra o Mapa do Fogo.
Já o bioma mais impactado pelas queimadas foi a Amazônia, com 5.578.921 milhões de hectares em setembro, seguido do Cerrado (4.371.1786) e Pantanal (317.949).
Para além do estado do Pará e a região do Pantanal, Gabriel Boente, da Options Research, destaca o estrago causado no interior de São Paulo.
“Para as empresas listadas interessa mais o que acontece em São Paulo. No norte e noroeste do estado é melhor para plantar cana-de-açúcar, então, com a queimada se perde muita produção porque a cana fermenta e se alastra muito fácil, ainda mais com a seca”, observa.
Ele ainda conta que algumas empresas já estimaram os impactos na próxima safra. “Temos a Raízen dizendo que 2% da safra foi afetada, a São Martinho dizendo que teve 20%. O reflexo disso vemos no preço do açúcar e do etanol. Menos oferta e a demanda se mantém a mesma, o que acaba tendo reflexo no preço e isso gera inflação”.
Nos estados líderes em exportação de commodities, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, as queimadas podem atrasar o plantio de soja e milho, segundo Boente. Porém, o atraso não está acima do esperado, mas dentro da margem de tolerância dos produtores.
“Estamos entrando na safra agora, final de setembro e início de outubro, porque no cerrado usamos o sistema de agricultura de sequeiro, ou seja, não irrigamos, usamos chuva para fazer plantar e brotar a soja. Quando tem atraso perdemos essa janela, e a soja pode não ter tempo para se desenvolver. Assim como a safra passada, que teve replantio e atrasou”, analisa.