O Uruguai se despede de José Pepe Mujica em um cortejo fúnebre emocionante pelas ruas de Montevidéu. O ex-presidente, falecido na terça-feira (13) aos 89 anos, recebe as últimas homenagens da população em um percurso que marca pontos cruciais de sua trajetória política.
O cortejo teve início na sede da presidência uruguaia, onde o atual presidente Luis Lacalle Pou colocou a bandeira nacional sobre o caixão de Mujica, em um gesto solene e comovente.
A caravana segue um roteiro cuidadosamente planejado, passando por locais emblemáticos que refletem a vida e a carreira do líder político.
Pontos marcantes do percurso
Entre os locais de destaque no trajeto, está a sede do Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, organização guerrilheira da qual Mujica fez parte em sua juventude.
O cortejo também passa pela sede do Movimento de Participação Popular, partido político fundado por Mujica após a redemocratização do país, e pela sede da Frente Ampla, coalizão de esquerda que o levou ao poder.
Ao longo do caminho, cidadãos emocionados se aglomeram para prestar suas últimas homenagens.
Bandeiras do movimento LGBT são vistas entre a multidão, lembrando o papel de Mujica na legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo no Uruguai.
O destino final do cortejo é a sede do Legislativo uruguaio, onde será realizado um velório aberto ao público.
Espera-se a presença de chefes de Estado e líderes políticos internacionais para se despedirem deste ícone da política latino-americana e da esquerda mundial.
Relembre a vida do ex-presidente do Uruguai
Em abril, ele revelou em coletiva de imprensa ter sido diagnosticado com tumor no esôfago quando foi fazer um check-up. Ele já lidava com uma doença auto-imune, que afetou seus rins.
Fundador do principal grupo guerrilheiro do Uruguai, ficou preso mais de uma década, foi torturado pela ditadura e acabou chegando ao poder décadas depois.
Mujica se tornou o um dos presidentes mais queridos internacionalmente e colocou o Uruguai, o segundo menor país da América do Sul, na lupa mundial.
Seu estilo pouco afeito a luxos, com jeito simples de se vestir – para críticos, desleixado – que manteve inclusive durante a presidência, a defesa de uma existência menos consumista e as iniciativas progressistas que apoiou durante seu mandato, como a legalização do aborto, da maconha e do casamento entre pessoas do mesmo sexo, lhe renderam fama e admiração ao redor do mundo, e o posicionaram como uma das principais referências da esquerda latino-americana.
Mujica nasceu em 1935, em Montevidéu, onde morou ao longo de toda a vida. Começou na política no Partido Nacional, um dos mais tradicionais do Uruguai, onde foi secretário-geral da Juventude.
Nos anos 1960, foi um dos fundadores do Movimento de Liberação Nacional – Tupamaros, a guerrilha mais famosa do país. O grupo atuava com o roubo de locais para se autofinanciar, sequestros – inclusive do então cônsul brasileiro em Montevidéu, Aloysio Dias Gomide – e antentados contra autoridades e colaboradores da ditadura uruguaia (1973-1985).
Com a redemocratização, ele fundou o Movimento de Participação Popular (MPP), sigla que passou a integrar a Frente Ampla, única coalizão de esquerda do país. Em 1994, Mujica foi eleito deputado por Montevidéu, e em 1999, senador. Em 2004, reeleito, ele se tornou o senador mais votado da história do país.
Nas eleições seguintes, aos 75 anos, Mujica venceu o ex-presidente Luis Alberto Lacalle Herrera, com 52,59% dos votos no segundo turno. À diferença de seu antecessor, que vetou a lei de descriminalizacao do aborto que tinha sido aprovada por ambas câmaras do legislativo em 2008, Mujica defendeu, durante a campanha, a laicidade do Estado e disse que não se oporia à lei se a interrupção voluntária da gestação fosse votada novamente.