Os líderes do grupo Brics de nações em desenvolvimento se preparavam para abordar os desafios comuns da mudança climática na segunda-feira (7), último dia de sua cúpula no Rio de Janeiro, pedindo que os países ricos financiem a mitigação global das emissões de gases de efeito estufa.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a importância do Sul Global no combate ao aquecimento global, enquanto se prepara para sediar a cúpula climática das Nações Unidas em novembro.
Ainda assim, um comunicado conjunto dos líderes do Brics, divulgado no domingo, argumentou que os combustíveis fósseis continuarão a desempenhar um papel importante na matriz energética global, principalmente nas economias em desenvolvimento.
“Nós vivemos um momento de muitas contradições, e o importante é que estamos dispostos a superar essas contradições”, disse a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, à margem da cúpula, quando questionada sobre os planos de extração de petróleo na costa da floresta amazônica.
Em comunicado conjunto, os líderes do Brics ressaltaram que fornecer financiamento climático “é uma responsabilidade dos países desenvolvidos para com os países em desenvolvimento”, que é a posição padrão das economias emergentes nas negociações globais.
O comunicado também mencionou o apoio do grupo a um fundo que o Brasil propôs para proteger florestas ameaçadas — o Tropical Forests Forever Facility — como uma forma de as economias emergentes financiarem a mitigação das mudanças climáticas além dos requisitos obrigatórios impostos às nações ricas pelo Acordo de Paris de 2015.
China e Emirados Árabes Unidos sinalizaram em reuniões com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Rio de Janeiro, que planejam investir no fundo, disseram duas fontes com conhecimento das discussões à Reuters na semana passada.
O comunicado conjunto dos líderes do Brics também criticou políticas como impostos sobre as fronteiras de carbono e leis antidesmatamento, adotadas recentemente pela Europa, por imporem o que chamaram de “medidas protecionistas discriminatórias” sob o pretexto de preocupações ambientais.
Defesa da diplomacia multilateral
A abertura da cúpula do Brics no domingo apresentou o bloco como um bastião da diplomacia multilateral em um mundo fragmentado e ressaltou a influência das 11 nações integrantes que representam 40% da produção global.
Os líderes também criticaram indiretamente a política militar e comercial dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que pressionaram pela reforma das instituições multilaterais, hoje dirigidas em grande parte por norte-americanos e europeus.
Em seu discurso de abertura na reunião de domingo, o presidente Lula traçou um paralelo com o Movimento Não-Alinhado da Guerra Fria, um grupo de nações em desenvolvimento que resistiu a se juntar a qualquer um dos lados de uma ordem global polarizada.
“O Brics é herdeiro do Movimento Não-Alinhado. Com o multilateralismo sob ataque, nossa autonomia está novamente em xeque”, disse Lula.
A cúpula do Rio, a primeira a incluir a Indonésia como membro, mostrou a rápida expansão do Brics, mas levantou questões sobre os objetivos compartilhados dentro de seu grupo diversificado.
Em uma nota conjunta publicada no domingo, os Brics condenaram os ataques militares ao Irã e a Gaza, mas não chegaram a uma posição unificada sobre quais países deveriam ter assentos em um Conselho de Segurança das Nações Unidas reformado.
Somente a China e a Rússia apoiaram a inclusão do Brasil e da Índia no conselho.
Líderes como o primeiro-ministro indiano Narendra Modi e o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa se reuniram no Rio para discutir as tensões econômicas e geopolíticas. Mas o peso político da reunião foi reduzido pela decisão do presidente chinês Xi Jinping de enviar o premiê Li Qiang em seu lugar.