O vice-presidente Geraldo Alckmin ouviu, nesta quarta-feira (16/7), da Câmara de Comércio Americana (Amcham), que interferências políticas em questões tarifárias não são interessantes. “É um precedente que não é bom”, destacou o também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. A reunião com representantes norte-americanos vem em um contexto de guerra comercial deflagrada pelo presidente Donald Trump contra o Brasil.
Na semana passada, o republicano revelou que pretende sobretaxar os produtos brasileiros em 50% e alegou que um dos motivos é a suposta perseguição que o ex-presidente Jair Bolsonaro tem sofrido no Brasil. Ele definiu a situação como “caça às bruxas”. Desde então, o clima esquentou entre os dois países.
Várias reuniões têm sido conduzidas por Alckmin ao longo da semana, na tentativa de reverter a medida, marcada para vigorar a partir de 1º de agosto. Ele já se encontrou com representantes da indústria e do agronegócio brasileiro, além da cúpula do Congresso Nacional. Por fim, teve conversas, nesta terça, com representantes do setor comercial dos EUA.
O vice-presidente destacou que a Amcham está favorável às reivindicações do Brasil. A entidade também disse a ele entender que questões políticas podem estabelecer um precedente preocupante de questões outras interferirem em questões de natureza tarifária.
“Queremos trabalhar unidos com empresários e trabalhadores para resolver essa questão, e as empresas têm papel importante, tanto as brasileiras – que algumas possuem indústria nos EUA – quanto as americanas”, avaliou Alckmin, que voltou a dizer que a prorrogação de prazo é uma alternativa que está sendo avaliada pelo governo.
“O importante é resolver, buscar uma solução, é o sentimento geral de que vamos trabalhar juntos. As empresas americanas estão preocupadas, mas o cidadão também, amanhã, vai encarecer o café, suco de laranja, carne, produtos que o Brasil vende aos EUA”, disse.
Interlocutores afirmaram que a ideia do governo brasileiro é mobilizar a população norte-americana sobre os efeitos econômicos que poderão ser percebidos no país, como o aumento no preço do café.
Alckmin também ressaltou que o Brasil enviou, no dia 15/5, uma proposta confidencial aos Estados Unidos (EUA), mas até o momento não houve uma resposta. De acordo com ele, o documento foi enviado como forma de buscar uma negociação para as tarifas anunciadas pelo presidente americano.
Receba no seu email as notícias Boletim Metrópoles
Participaram da reunião
Do lado do governo:
- Guilherme Mello, Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
- Embaixador Philip Fox-Drummond Gough, Secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores (MRE).
- Embaixador Fernando Meirelles de Azevedo Pimentel, Diretor do Departamento de Política Comercial do MRE.
- Olavo Noleto, Secretário-Executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Secretária Institucional da Presidência da República (SRI).
- Emilio Chernavsk, Assessor Especial da Área Econômica da SRI.
- Joao Brant, Secretário de Políticas Digitais da Secretária de Comunicação Social da Presidência da República.
- Márcio Elias, Secretário-Executivo do Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comércio (MDIC).
- Pedro Guerra, Chefe de Gabinete do MDIC e da vice-presidência da república.
- Tatiana Lacerda Prazeres, Secretária de Comércio Exterior do MDIC.
- Rodrigo Zerbone, Secretário-Executivo do Conselho de Comércio Exterior.
- Uallace Moreira, Secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do MDIC.
- Embaixador Celso de Tarso, Chefe de Assessoria Diplomática da Vice-presidência da República.
- Vilma Conceição, Assessoria Econômica da Vice-Presidência.
Representantes americanos:
- Abrão Neto, Presidente da Câmara Americana de Comércio para Brasil (AMCHAM Brasil).
- Alexandre Luque, CEO da General Manager Brasil da J&J MedTech Brasil.
- Ligia Dutra, Vice-Presidente Adjunta de Relações Governamentais da Cargill.
- Mariana Orsini, Diretora de Relações Institucionais da Brazil Country Leader da Dow.
- Gustavo Bonora Biscassi, Diretor Sênior Relações Governamentais, Comunicação e Sustentabilidade América Latina Cone Sul da Coca-Cola.
- Monica Melo, Diretora Jurídica, Compliance e Assuntos Corporativos da Sylvamo.
- Alfredo Miguel Neto, Diretor de Assuntos Corporativos, Comunicações & Cidadania, América Latina da John Deere.
- Andrea Zámolyi Park, Diretora de Assuntos Governamentais e Corporativos da Caterpillar.
- Fabrizio Sardelli Panzini, Diretor de Políticas Públicas e Relações Governamentais da AMCHAM Brasil.
- Nayana Rizzo Sampaio, Head Public Policy Brazil da Amazon Web Services Brasil (AWS).
- Pedro Palatnik, Head de Relações Governamentais e Institucionais da Corteva Agriscience.
- Bruno Boldrin Bezerra, Líder de Relações Governamentais da J&J MedTech Brasil.
- Daniel Caramori, Líder de Relações Governamentais da General Motors.
Encontros com o setor produtivo
Na segunda, Alckmin se reuniu com membros do setor produtivo e do agronegócio brasileiros para ouvir e entender as demandas dos setores. Na ocasião, ele voltou a criticar a taxação e disse que a medida é inadequada.
“Elas são absolutamente inadequadas. Os Estados Unidos têm déficit na balança comercial com boa parte do mundo, mas têm superávit na balança comercial com o Brasil, tanto no setor de serviços quanto no de bens. Tem superávit há 15 anos na balança comercial com o Brasil”, declarou.
Alckmin disse, ainda, que o governo vai trabalhar para resolver a questão até o dia 31 de julho.
Lei da Reciprocidade
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou, na segunda (14/7), o decreto que regulamenta a Lei de Reciprocidade Econômica, que estabelece critérios para suspensão de concessões comerciais, de investimentos e de obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual, em resposta a medidas unilaterais adotadas por países ou blocos econômicos que impactem o Brasil.
O decreto também formaliza a criação do Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais, responsável por deliberar sobre a aplicação de contramedidas provisórias e acompanhar as negociações sobre as medidas unilaterais impostas contra o país. Integram o comitê os ministros do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, que o presidirá, da Casa Civil da Presidência, da Fazenda e das Relações Exteriores.
Fontes ouvidas pela reportagem afirmam que o governo deve seguir os protocolos estabelecidos e pedir a revisão da tarifa. A ideia é seguir um roteiro com diálogo e negociação para que não seja necessário utilizar a Lei de Reciprocidade.
Crise com EUA
- Trump tem ameaçado o mundo com um tarifaço e dá atenção especial ao grupo do Brics e ao Brasil.
- A ofensiva se deu principalmente após o encontro de cúpula do Brics no Brasil, no início de julho, quando Lula defendeu moedas alternativas ao dólar e fez discursos pelo multilateralismo.
- O presidente norte-americano já ameaçou aplicar taxas de 100% aos países membros do bloco que não se curvassem aos “interesses comerciais dos EUA”.
- Após sair em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, Trump ameaçou aumentar as tarifas sobre exportações brasileiras logo após o fim da reunião do Brics. De acordo com o líder norte-americano, o Brasil não está “sendo bom” para os EUA.
- Lula informou que a resposta brasileira à taxação será por meio da lei brasileira de Reciprocidade Econômica.
- Ao anunciar tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, Trump indicou que pode rever a medida se o Brasil abrir seu mercado e remover barreiras comerciais.
- Setores nacionais, como a indústria e o agronegócio, se posicionaram contra o anúncio de tarifaço feito por Trump, somando-se aos discursos governistas nesse sentido.
- O vice-presidente Geraldo Alckmin tem sido o porta-voz do movimento de aproximação com os setores. O agro, até então, vinha se mantendo distante do governo.
Governo envia carta aos EUA
O governo brasileiro comunicou que enviou uma nova carta à Casa Branca cobrando respostas para avançar nas negociações com os norte-americanos no âmbito da imposição de tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras.
A carta, enviada nessa terça-feira (15/7), foi assinada pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. O texto é endereçado ao secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e ao representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer.
O governo federal reforçou que “permanece pronto para dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral, com o objetivo de preservar e aprofundar o relacionamento histórico entre os dois países e mitigar os impactos negativos da elevação de tarifas em nosso comércio bilateral”, diz o texto.