Donald Trump disse que houve “grande progresso” em direção ao fim da guerra na Ucrânia após anunciar planos de encontrar o presidente russo, Vladimir Putin.
Mas estaria Putin apenas “enrolando” o presidente dos Estados Unidos, como o republicano já disse anteriormente?
A frustração fervilhante de Trump com Putin, que manchou as esperanças do chefe de Estado americano de se tornar um pacificador digno do Prêmio Nobel, evaporou após a reunião do enviado Steve Witkoff na quarta-feira (7) com o líder do Kremlin.
Trump previu que uma cúpula nas próximas semanas poderia interromper a guerra na Ucrânia, dizendo que havia uma “grande chance de que poderíamos estar chegando… ao fim desse caminho.”
Seu otimismo estava mais de acordo com seu caráter do que sua postura nas últimas semanas, quando criticou os “repugnantes” ataques aéreos de Putin contra a Ucrânia e chamou o líder que sempre tentou impressionar de “absolutamente louco.”
Trump advertiu ainda na quarta que não houve um avanço crucial na conversa com a Rússia, mas parecia impossivelmente otimista diante dos recentes ataques de drones e mísseis russos contra a Ucrânia — alguns dos mais intensos até agora — e a ausência de qualquer evidência ao longo de três anos de combate de que Putin tenha alguma intenção de encerrar a guerra.
Trump aposta em reunião presencial para mudar rumo da guerra
Trump tem repetido que um grande progresso é iminente nos esforços de paz para a Ucrânia desde que assumiu o cargo em janeiro — após prometer e depois falhar em encerrar a guerra em 24 horas.
Mas as razões de Putin para continuar a guerra são muito mais fortes do que qualquer incentivo que Trump possa oferecer para encerrá-la.
“Acho que nós em Washington às vezes subestimamos o quanto o Kremlin está investido nesta guerra”, disse David Salvo, especialista em Rússia e diretor-gerente da Aliança para Assegurar a Democracia no Fundo Marshall Alemão.
“A legitimidade e o destino de todo o regime de Putin se baseiam não apenas em concluir esta guerra nos termos russos, mas em continuar lutando-a no futuro previsível, toda a economia está sustentada em torno da guerra”, destacou.
Salvo, ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA, acrescentou: “Simplesmente não vejo nada que vá mover a agulha e mudar o cálculo do Kremlin”.
Ainda assim, a pacificação bem-sucedida frequentemente requer que os presidentes assumam riscos. E se Trump de alguma forma conseguisse iniciar um processo de paz genuíno, ele salvaria potencialmente milhares de vidas em uma guerra que devastou civis ucranianos.
Ele também alcançaria um marco importante para os EUA e para si mesmo.Donald Trump e Vladimir Putin no Vietnã • Jorge Silva/Reuters
Uma cúpula com Putin seria um grande momento de diplomacia e ofereceria a Trump um encontro esperado há muito tempo com o chefe de Estado russo e a chance de testar sua crença de que, pessoalmente, ele pode usar suas habilidades de negociação para encerrar a guerra.
Trump também está propondo uma reunião trilateral que reuniria Putin e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, o que seria o encontro diplomático mais significativo desde o início da invasão russa.
Mas as altas apostas de uma reunião presidencial poderiam pressionar Putin a entregar pelo menos algo que Trump possa chamar de vitória.
Isso pode incluir um acordo para interromper ataques aéreos contra civis, mesmo que um cessar-fogo completo e um acordo de paz possam levar muitos meses para serem fechados.
Mas as promessas russas de cessar-fogo frequentemente não valem o papel em que estão escritas.
Mudança de rota na relação com Putin ou enrolação?
Um progresso significativo também validaria a nova estratégia de Trump de tentar coagir Putin à mesa com punições em vez de bajulação.
Pode não ser coincidência que o aparente movimento na guerra tenha ocorrido em um dia em que Trump disse que vai impor pesadas tarifas à Índia — um dos principais compradores do petróleo russo que financia o esforço de guerra.
Além disso, o presidente dos EUA enfrenta seu próprio prazo para também impor novas sanções à Rússia por sua recusa às suas demandas de cessar-fogo.
Houve uma rara nota de otimismo na Ucrânia na quarta-feira. “A Rússia agora parece estar mais inclinada a um cessar-fogo — a pressão está funcionando”, afirmou Zelensky em discurso.
Nos primeiros sete meses do segundo mandato de Trump, Putin ignorou seus esforços de paz. Até o presidente americano, que tem um longo histórico de genuflexão ao líder russo, parece ter percebido que foi feito de tolo.
Mas Putin poderia estar enrolando Trump novamente após encontrar Witkoff, que saiu de reuniões anteriores no Kremlin amplificando pontos de discussão russos e cujo histórico até o momento na pacificação no Oriente Médio e na Ucrânia é insignificante.
O presidente admitiu que não sabe qual é o jogo de Putin.
“Eu não posso responder essa pergunta ainda”, ele disse aos repórteres na quarta-feira. “Vou informar em algumas semanas, talvez menos”, pontuou.
Trump pode tentar apresentar qualquer reunião com Putin como uma vitória por si só. Mas ele estaria concedendo um prêmio ao líder russo sem garantir um preço.
O ex-tenente-coronel da KGB no Kremlin pode estar contando com o amor de Trump por encontros teatrais que frequentemente não rendem muito. Suas cúpulas do primeiro mandato com o tirano Kim Jong-un, por exemplo, não conseguiram encerrar o programa nuclear da Coreia do Norte.
Putin há muito tempo diz estar disposto a se encontrar com Trump quando o momento for apropriado, e tal encontro — que evocaria ecos das famosas cúpulas EUA-URSS da Guerra Fria — representaria um retorno de um líder pária ao principal palco diplomático mundial.
E qualquer reunião reacenderia memórias da cúpula de Helsinque no primeiro mandato do republicano, quando o presidente russo foi surpreendentemente bem-sucedido em manipular seu homólogo americano.
“Acho que Putin verá isso como uma oportunidade”, ressaltou o ex-conselheiro de segurança nacional de Trump, John Bolton, à Kaitlan Collins no programa “The Source” na quarta-feira.
“Acho que ele sabe que, deliberadamente ou inadvertidamente, pressionou Trump um pouco demais, e terá algumas ideias sobre como trazer as coisas de volta para sua direção”, comentou.
Afinal, qual será o resultado da cúpula?
A questão crucial é o que os russos ofereceriam como resultado concreto da cúpula.
Os EUA tentaram no passado um acordo para interromper ataques aéreos de ambos os lados. Isso poderia permitir que os ucranianos deixassem seus abrigos antiaéreos.
Mas as chances de um cessar-fogo mais amplo parecem remotas. Avanços importantes parecem prováveis na ofensiva de verão de Moscou.
Então, por que parar de lutar agora? Putin pode ver esse novo engajamento com Trump como uma forma de ganhar mais tempo para conquistar territórios estratégicos importantes no leste da Ucrânia.
Outra possível abordagem seria a Rússia atrair Trump com incentivos para desviar sua atenção da Ucrânia — talvez uma promessa de negociações sobre um acordo de controle de armas nucleares que aumentaria seu legado, ou alguma cooperação econômica significativa que despertaria os instintos transacionais do líder americano.
A Ucrânia também precisa ser ouvida, e estará cautelosa com Trump retornando a um plano de paz pró-Rússia que atenderia às demandas de Moscou de reter todo o território que conquistou na Ucrânia, bem como para que a adesão de Kiev à Otan, a aliança militar ocidental, seja definitivamente descartada.
Moscou há muito tenta explorar o ceticismo de Trump sobre a guerra, incentivando divisões entre os EUA e os aliados europeus de Kiev. Portanto, foi significativo que líderes europeus participaram de uma ligação com Trump e Zelensky na quarta-feira.
A máxima do presidente Ronald Reagan sobre lidar com Moscou durante a Guerra Fria — “Confie, mas verifique” — parece antiquada diante do histórico de duplicidade de Putin em relação à guerra.
Zelensky teve um aviso mais apropriado: “O fundamental é garantir que eles não enganem ninguém nos detalhes — nem a nós, nem aos Estados Unidos”.