O encontro realizado nesta sexta-feira (15/8) em Anchorage, no Alasca, entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente russo Vladimir Putin, terminou sem acordo em relação à guerra na Ucrânia.
Em um pronunciamento conjunto após quase três horas de reunião, Trump disse que os dois lados haviam feito “progresso”, mas que não haviam chegado a um consenso em relação a todos itens que estiveram em pauta durante a conversa.
Sem dar detalhes sobre o que foi discutido, o presidente americano declarou ter considerado o diálogo “extremamente produtivo”, acrescentando que alguns pontos ainda precisavam ser decididos e que avaliava haver uma “chance muito boa” de mais avanço.
Trump concluiu sua fala afirmando que faria ligações na sequência aos aliados dos EUA da Otan e ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. As conversas aconteceram na manhã deste sábado (16).
O presidente americano também confirmou que se reunirá com o líder ucraniano em Washington na segunda-feira (18/8).
O pronunciamento no Alasca terminou sem que os líderes respondessem a perguntas da imprensa e com um comentário de Putin, que disse, em inglês: “Próxima vez em Moscou”.

De Anchorage, o correspondente para América do Norte da BBC, Anthony Zucker, avaliou que o desfecho do encontro fere o “prestígio doméstico e internacional” de Trump, “após promessas de que a reunião teria apenas 25% de chance de fracasso”, referindo-se a um comentário feito no dia anterior pelo presidente americano à Fox News Radio.
Trump declarou durante a campanha eleitoral à Casa Branca que acabaria com a guerra na Ucrânia em até 24 horas após assumir o cargo, o que não aconteceu, e vem tentando, sem sucesso, encerrar o conflito.
O encontro no Alasca foi anunciado em 8 de agosto, na data em que se esgotou o prazo estabelecido por ele para que o líder russo aceitasse um cessar-fogo imediato ou enfrentasse sanções mais duras dos EUA, que acabaram não sendo impostas até o momento.
“Para o homem que gosta de se autopromover como pacificador e negociador, parece que Trump deixará o Alasca sem nenhum dos dois”, diz Zucker em sua análise.
O correspondente da BBC acrescenta que, apesar da ausência de um acordo, “os aliados europeus dos EUA e as autoridades ucranianas devem ter ficado aliviados por Trump não ter oferecido concessões unilaterais ou acordos que pudessem dificultar futuras negociações”.
Putin tem exigido controle de regiões atualmente ocupadas pela Rússia como condição para discutir um cessar-fogo, enquanto a Ucrânia reitera que não tem intenção de ceder os territórios que foram invadidos.
Logo antes da reunião, Trump havia destacado a expectativa pelo encontro em um post na sua rede social Truth Social que dizia: “HIGH STAKES!!!” (algo como “muito em jogo”, em tradução livre).

Tom caloroso e troca de elogios
Trump e Putin pousaram por volta de 11h do horário local (16h no horário de Brasília) na instalação militar americana de Elmendorf-Richardson, localizada na região norte de Anchorage, a cidade mais populosa do estado.
Em um tapete vermelho estendido entre os aviões dos dois líderes, eles caminharam em direção um ao outro e se cumprimentaram de forma calorosa com um aperto de mão.
A limusine da comitiva russa esperava por Putin na pista pouso, mas ele decidiu entrar no veículo presidencial de Trump e ir com ele ao local da reunião.
O editor do BBC Monitoring, Vitaliy Shevchenko, destacou o simbolismo do gesto, visto como uma sinalização de que o presidente russo confiava em seu homólogo americano, e destacou o semblante sorridente de Putin, “um forte contraste com os muitos anos de animosidade entre os dois países”.
No encontro, que durou cerca de duas horas e meia, Trump foi acompanhado do Secretário de Estado americano, Marco Rubio, e do enviado especial Steve Witkoff. Putin levou seu ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, e o conselheiro de política externa Yuri Ushakov.
No pronunciamento após a reunião, os dois líderes trocaram elogios e mantiveram o tom amigável.
Putin ressaltou as várias conversas “francas” por telefone que ele e Trump tiveram nos últimos meses e descreveu o encontro como “o ponto de partida para a resolução do conflito”.
Disse estar “sinceramente interessado” em por fim à guerra, que descreveu como uma “tragédia”, emendando, contudo, que a Rússia precisaria eliminar as “causas primárias” do conflito.
Shevchenko, do BBC Monitoring, chamou atenção para essa última fala de Putin, ressaltando que ela indicava que o líder russo “ainda está determinado a perseguir o objetivo original de sua ‘operação militar especial’, que é desmantelar a Ucrânia como um estado independente”.

Tanto a Rússia quanto a Ucrânia afirmam há muito tempo querer o fim da guerra, mas os objetivos de cada lado colidem diretamente.
Putin não abre mão de suas exigências sobre o controle de regiões ocupadas, a neutralidade da Ucrânia e a limitação do tamanho de seu exército.
Kiev, por sua vez, rejeita categoricamente qualquer cessão de território, incluindo a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.
No início da semana, Trump havia dito que pretendia “recuperar parte do território [ocupado pela Rússia] para a Ucrânia”, alertando, contudo, que poderia ser necessário “trocar ou ajustar áreas de terra” para que isso acontecesse.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky rechaçou a ideia de “trocas” territoriais: “Não vamos recompensar a Rússia pelo que ela cometeu”, declarou há alguns dias.
Segundo analistas, a invasão em grande escala lançada pela Rússia em 2022 foi motivada, em parte, pela percepção de Putin de que a Otan usava a Ucrânia como base para aproximar tropas das fronteiras russas.
Para a especialista Tatyana Stanovaya, o “objetivo central” do líder russo é garantir a “neutralização geopolítica” da Ucrânia.
“É extremamente difícil transmitir o que está realmente em jogo… as pessoas muitas vezes não aceitam que Putin possa querer tanto — e que fale sério sobre isso. Infelizmente, ele quer”, afirmou.

Por que o encontro foi no Alasca
O Alasca foi comprado pelos EUA da Rússia em 1867, o que deu um peso histórico à reunião. O território se tornou Estado americano em 1959.
Antes do encontro, o conselheiro de política externa russo Yuri Ushakov havia destacado que os dois países eram vizinhos, ressaltando que, tomando como referência o Alasca, eles estavam separados apenas pelo Estreito de Bering.
Putin fez uma referência nesse sentido ao caminhar no tapete vermelho para cumprimentar Trump, chamando-o de “vizinho”.
Durante seu discurso apontou que as duas nações eram “separadas por apenas quatro quilômetros”. E lembrou que o Alasca já foi parte do território russo, mencionando a presença de igrejas russas ortodoxas atualmente no Estado americano.
“Tenho certeza de que essa herança nos ajudará a reconstruir e promover laços mutuamente benéficos e igualitários”, declarou.