Das 1,7 milhão de vagas com carteira assinada criadas em 2024, 98,87% foram ocupadas por pessoas cadastradas no CadÚnico. Entre esses contratados, 75,5% eram beneficiários do Bolsa Família (1,27 milhão). E, com essa melhora da renda, 1,3 milhão de famílias deixaram o programa.
Os números evidenciam como políticas públicas integradas, como o Plano Brasil Sem Fome, não só tiraram o país do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2025, mas também estimularam renda, emprego e alimentação saudável.
Lançado em 2023 para recolocar o país na rota da segurança alimentar, a iniciativa retomou políticas públicas robustas que haviam sido interrompidas e conectou programas de impacto direto para os cidadãos, como o Bolsa Família, Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), cozinhas solidárias e Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Segundo a secretária nacional de Renda de Cidadania (Senarc), Eliane Aquino, “é a soma das políticas que faz a diferença. Sozinhos, esses programas seriam importantes, mas trabalhando em conjunto é que se gera transformação”.
O resultado foi a combinação de transferência de renda, incentivo à produção de alimentos saudáveis, fortalecimento da agricultura familiar e garantia de proteção social, levando a subalimentação a menos de 2,5%.
Refeição servida a preço acessível no Restaurante Popular de Ananindeua (PA), parte do Plano Brasil Sem Fome, que já comprou 288 mil toneladas de alimentos da agricultura familiar.
Histórias de transformação
“É um dia especial na minha vida”, ressalta Jaqueline Sousa, de 38 anos, moradora do Riacho Fundo (DF), ao lembrar da visita que fez ao Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) para solicitar o desligamento do Bolsa Família.
“Graças a uma oportunidade de emprego, hoje tenho renda e a tendência é melhorar. Não é uma perda, é uma conquista”, declara a ex-beneficiária que trocou o trabalho com materiais recicláveis por uma vaga com carteira assinada.
Priscila Taveira, de 31 anos, também deixou o programa. Hoje, ela retribui o que recebeu de outras pessoas trabalhando na Casa da Cidadania de Careiro da Várzea (AM), onde cidadãos fazem a carteira de identidade, registro no CadÚnico e inscrição no Bolsa Família.Vitor Vasconcelos/ Secom/ PR“Recebi o Bolsa Família durante 10 anos. Foi essencial na minha vida enquanto eu não conseguia um emprego. A bolsa me ajudou até que eu conseguisse o meu atual emprego. É motivo de orgulho ter chegado aqui”, afirma Priscila.
“Hoje me sinto feliz e grata pelo Bolsa Família ter feito parte da minha vida. Foi por meio dele que consegui arcar com os custos da minha família, dos meus filhos e consegui a independência. Espero que ajude outras famílias, assim como ajudou a minha”, relata Dayane Carvalho, de 30 anos, que se desligou do programa ao conseguir emprego em uma Unidade Básica de Saúde no interior do Amazonas.
Histórias como a de Dayane, Priscila e Jaqueline mostram como o Bolsa Família é mais do que transferência de renda, é um trampolim para a própria autonomia.
A base da proteção social e inserção no mercado
Aquino explica que esse é o objetivo do programa: criar condições para que famílias consigam se estabilizar e buscar melhores oportunidades. Por meio dele, cada beneficiário recebe valores ajustados à composição familiar, calculado de forma individual com prioridade para crianças de 0 a 6 anos, gestantes e famílias numerosas.
Funciona da seguinte forma:
- cada pessoa recebe a Renda de Cidadania de R$ 142.
- no caso de crianças de 0 a 6 anos, há um adicional de R$ 150.
- bebês de até 6 meses ainda recebem mais R$ 50 para garantir alimentação adequada nessa fase crucial da vida.
Para entrar no Bolsa Família, é preciso ter uma renda per capita de até R$ 218 e, para sair, é preciso que a renda de cada membro familiar seja no mínimo R$ 706.
Aquino destaca que o novo desenho do Bolsa Família, que hoje atende mais de 19 milhões, garante mais justiça social ao considerar a realidade de cada membro da família.
“Antes, tanto fazia se a família tinha uma ou dez pessoas: o valor era R$ 600. Agora, olhamos um por um, o que faz o benefício chegar de forma mais justa e com mais segurança para quem mais precisa”, explica a secretária.
O Bolsa Família também garante que, em caso de perda do emprego ou da renda, a família volte automaticamente a receber o benefício. Já quando o beneficiário consegue um trabalho formal, mas a renda por cada indivíduo da família continua entre R$ 218 e R$ 706, entra em vigor a Regra de Proteção.
A Regra de Proteção garante que quem sai do Bolsa Família receba metade do benefício por até um ano ou até 24 meses para casos anteriores a julho de 2025, assegurando uma transição segura para a autonomia financeira.
“Essa renda é uma renda básica que chega na vida delas, e contribui muito para melhorar a alimentação. E mais do que isso: mostra que as pessoas querem trabalhar, mas querem empregos que permitam viver com dignidade”, afirma a secretária.
Para saber se tem direito, procure o Cras, acesse a página do programa ou ligue 121 (Disque Social).
A desinformação e o desafio de chegar em quem mais precisa
Apesar dos avanços, Eliane Aquino alerta que a desinformação ainda dificulta o acesso ao Bolsa Família em certas localidades. Mesmo com esforços em divulgação, localizações remotas acabam marginalizadas do benefício.
“As famílias que vivem nas localidades mais vulneráveis e mais distantes têm muito mais dificuldades de receberem as informações corretas. Muitas vezes são famílias com pouco ou nenhum acesso à internet ou que trabalham tanto que não possuem tempo para acompanhar”, explica.
Esse desafio é um dos pontos centrais do Plano Brasil Sem Fome para os próximos anos: fortalecer a rede de assistência social, especialmente o CRAS, integrando as políticas entre o Governo do Brasil, estados e municípios, para que a população mais vulnerável seja informada sobre os critérios de acesso, os novos valores e normas como a Regra de Proteção.
Como os programas se conectam
O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) adquiriu mais de 288 mil toneladas de alimentos da agricultura familiar e anunciou R$ 1 bilhão em investimentos em 2025, garantindo renda no campo e comida de qualidade para quem mais precisa.
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) reforça esse ciclo ao destinar pelo menos 30% do orçamento à compra de produtos da agricultura familiar para melhorar a qualidade nutricional das escolas. Assim, refeições nutritivas entram na rotina de milhões de estudantes por meio do estímulo à economia local.
Da mesma forma, com investimentos e ações estratégicas, as cozinhas solidárias se expandiram para além dos centros urbanos, alcançando bairros periféricos, assentamentos e povoados. Mais de 2 mil cozinhas distribuíram milhões de refeições em 2024.
Juntas, essas ações integradas criaram um ciclo de proteção social, geração de renda e acesso a alimentos, contribuindo diretamente para que o Brasil reduzisse a subalimentação e saísse do Mapa da Fome.
Impacto social do Plano Brasil Sem Fome
Entrega de refeições feitas com alimentos do PAA pelo Instituto CEU Estrela Guia para a população em vulnerabilidade no centro de São Paulo.
Aquino reforça que o Plano Brasil Sem Fome, não apenas retirou milhões da situação de subalimentação, mas também promoveu inclusão social, cidadania e desenvolvimento econômico. Contudo, apenas com a integração entre os programas sociais, agrícolas e educacionais foi possível ajudar famílias a terem crianças mais saudáveis, acesso à educação e inserção no mercado formal.
“Se fosse só o Bolsa Família, talvez o resultado não teria sido esse. Talvez nós demorassemos muito mais tempo. Isso tudo fez do resultado um resultado positivo para todo o Brasil, e não só para uma determinada área”, frisa.