O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu nesta terça-feira (23) a 80ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, com um discurso de mais de 15 minutos que mesclou defesa da soberania nacional, recados à extrema-direita mundial, com destaque para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (embora sem nomeá-lo), e críticas diretas à condução de conflitos como o da Palestina.
O tom da fala foi marcado pelo embate com Washington. O governo americano aplicou novas sanções na segunda-feira (22), incluindo restrições contra familiares do ministro do STF Alexandre de Moraes. Lula não citou Trump nominalmente, mas criticou medidas unilaterais que, segundo ele, desrespeitam a soberania de países.
“Não há justificativa para medidas arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia. A agressão contra a independência do poder judiciário é inaceitável”, afirmou.
Defesa da soberania brasileira
Lula abriu sua fala destacando que o Brasil não aceitará ingerências externas em suas instituições. Sem citar diretamente os Estados Unidos, que anunciaram novas sanções contra o país na véspera, o presidente afirmou:
“Não há justificativa para medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia. A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável.”
O petista associou o enfraquecimento do multilateralismo ao avanço de ações autoritárias: “O autoritarismo se fortalece quando nos omitimos frente à arbitrariedade.”
Recado à extrema-direita
Em tom mais direto, Lula fez um alerta sobre a atuação de grupos políticos que tentam enfraquecer a democracia em diversas partes do mundo:
“Em todo o mundo, forças antidemocráticas tentam subjugar as instituições e sufocar as liberdades. Cultuam a violência, exaltam a ignorância, atuam como milícias físicas e digitais e cerceiam a imprensa.”
O presidente usou o exemplo brasileiro para mandar um recado aos chamados “candidatos a autocratas”: “Mesmo sob ataque sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia. Nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis.”
Julgamento de Bolsonaro
Lula fez menção indireta à condenação de Jair Bolsonaro pelo STF, lembrando que foi a primeira vez em 525 anos que um ex-chefe de Estado brasileiro foi responsabilizado judicialmente por atentar contra a democracia:
“Foi investigado, indiciado e julgado em um processo minucioso. Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas. Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos autocratas e àqueles que os apoiam.”
Conflito em Gaza
Um dos momentos mais aplaudidos do discurso foi quando Lula abordou a situação em Gaza. Ele condenou tanto os atentados do Hamas quanto a resposta de Israel:
“Os atentados terroristas perpetrados pelo Hamas são indefensáveis sob qualquer ângulo. Mas nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza. Ali, sob toneladas de escombros, estão enterradas dezenas de milhares de mulheres e crianças inocentes.”
O presidente ampliou a crítica, questionando a passividade das grandes potências: “Esse massacre não aconteceria sem a cumplicidade dos que poderiam evitá-lo. Em Gaza, a fome é usada como arma de guerra e o deslocamento forçado de populações é praticado impunemente.”
Combate à fome e desigualdade
Reforçando uma bandeira histórica de seus mandatos, Lula apontou a pobreza como ameaça à democracia:
“A pobreza é tão inimiga da democracia quanto o extremismo. A única guerra que todos podem sair vencedores é a que travamos contra a fome e a pobreza.”
Ele destacou que o Brasil saiu novamente do mapa da fome em 2025 e anunciou que 103 países já apoiam a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza lançada no G20.
Mudanças climáticas e COP30
O presidente também buscou projetar protagonismo do Brasil na agenda climática, ao mencionar a próxima COP30 em Belém:
“O ano de 2024 foi o mais quente já registrado. A COP30 será a COP da verdade, o momento de os líderes mundiais provarem a seriedade de seu compromisso com o planeta.”
Segundo Lula, o Brasil reduziu o desmatamento da Amazônia pela metade em dois anos e pretende lançar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, destinado a remunerar países que preservam seus biomas.
Reforma do sistema internacional
Encerrando o discurso, Lula voltou à defesa do multilateralismo e da reforma das instituições globais:
“O século XXI será cada vez mais multipolar. Para se manter pacífico, não pode deixar de ser multilateral. Nossa missão histórica é tornar a ONU novamente promotora da igualdade, da paz e do desenvolvimento sustentável.”