O inesperado encontro Lula-Trump, na sede da ONU (Organização das Nações Unidas) em Nova York, foi celebrado por empresários brasileiros como uma oportunidade de romper com o isolamento imposto pelos Estados Unidos ao Brasil e de avançar nas negociações comerciais entre os dois países.
Reservadamente, um executivo do setor de carnes comentou que, menos de meia hora depois de encerrado o discurso de Trump, representantes de diversos frigoríficos fizeram uma videochamada.
A reunião virtual já estava previamente agendada e trataria de outros assuntos, mas acabou sendo dominada pela repercussão da fala do presidente norte-americano.
Os produtores brasileiros de carnes não foram contemplados com exceções ao tarifaço e estão pagando uma sobretaxa de 50% para entrar nos EUA.
Segundo relatos, a avaliação consensual foi de que o Brasil “saiu do 8 para o 80”, de um diálogo inexistente com a Casa Branca para uma posição em que será possível ter uma conversa delicada, mas necessária para restabelecer um canal diplomático de altíssimo nível.
Para a CNI (Confederação Nacional da Indústria), a retomada das conversas abre caminho para negociações que possam aliviar o impacto das sobretaxas adotadas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros.
“A fala do presidente Trump, sinalizando uma abertura para o diálogo com o presidente Lula, aumenta a esperança para que os dois governos iniciem uma mesa de negociação para rediscutir as pesadas tarifas impostas pelos Estados Unidos”, disse em nota o presidente da CNI, Ricardo Alban.
“Sabemos que não é uma tarefa fácil, mas temos confiança de que, por meio da conversa e da diplomacia, o Brasil conseguirá reverter esse cenário. Afinal, Brasil e Estados Unidos mantêm uma relação propositiva de mais de 200 anos, com economias complementares”, afirmou.
Um alto executivo brasileiro, que tem ido com regularidade a Washington depois de anunciado o tarifaço de Trump em julho, vê boas perspectivas com o início do diálogo, mas observa que o norte-americano fez uma “inflexão súbita” e “rolou a bola” para o brasileiro.
Caberá agora a Lula, na avaliação desse representante do setor produtivo, encaminhar uma conversa construtiva e de negociações francas.
Ele minimiza o risco de “armadilha”, o risco de um efeito Volodymyr Zelensky, em que Trump poderia eventualmente acuar Lula. Para o executivo, “o mundo todo virou uma armadilha constante e é preciso encarar isso com maturidade”.
No início de setembro, a CNI coordenou uma missão empresarial à capital norte-americana, reunindo cerca de 130 empresários de diversos setores, além de encontros com autoridades do governo e congressistas.
“Essa reunião entre os presidentes pode representar uma oportunidade de reaproximação estratégica, capaz de reduzir barreiras, ampliar a cooperação em áreas de inovação e sustentabilidade e reforçar a segurança jurídica para investimentos de longo prazo. O comércio bilateral é vital para a competitividade da indústria brasileira e só pode avançar com base no diálogo e na construção de soluções negociadas”, concluiu Alban.