O Palácio do Planalto confirmou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, propôs ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que os dois conversem na próxima semana.
A proposta foi feita nesta terça-feira (23), durante um breve encontro entre os dois mandatários no edifício-sede da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York (EUA), que não estava programado. Segundo o Planalto, a conversa foi proposta por Trump e imediatamente aceita por Lula.
Ainda segundo a assessoria do Palácio do Planalto, Lula e Trump conversaram rápida e amistosamente ao se encontrarem na ONU, onde participam da 80ª Assembleia Geral da entidade, junto com chefes de Estado e autoridades de outras 191 nações que integram a organização.
Agora, assessores dos dois presidentes devem tomar as providências necessárias, mas ainda não está certo se a futura conversa será presencial ou por telefone.
Ao discursar durante a Assembleia Geral da ONU, Trump revelou publicamente que pretende “se encontrar” com Lula na próxima semana.
“Encontrei o líder do Brasil ao entrar aqui e falei com ele. Nos abraçamos. As pessoas não acreditaram nisso. Nós concordamos que devemos nos encontrar na próxima semana. Foram cerca de 20 segundos. Conversamos e concordamos em conversar na próxima semana”, disse o presidente estadunidense, acrescentando que Lula “parece ser um homem muito agradável”.
“Eu gosto dele e ele gosta de mim. E eu gosto de fazer negócios com pessoas de quem eu gosto. Quando eu não gosto de uma pessoa, eu não gosto. Mas tivemos, ali, esses [20 ou] 30 segundos. Foi uma coisa muito rápida, mas foi uma química excelente. Isso foi um bom sinal”, acrescentou Trump, sinalizando que o Brasil pode “se dar bem” caso trabalhe de forma conjunta com os EUA. “Sem a gente, eles vão falhar como outros falharam.”
As declarações de Trump causaram surpresa por terem sido feitas em meio a uma crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos. Desde julho deste ano, o governo dos Estados Unidos vem em uma ofensiva comercial contra o Brasil, taxando a importação de produtos brasileiros, aplicando sanções contra autoridades brasileiras e tentando interferir em decisões do Poder Judiciário brasileiro.
Ao fazer o tradicional discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, pouco antes de Trump discursar, Lula não mencionou o encontro ou a possibilidade de uma nova conversa com o presidente estadunidense. Sem citar Trump, criticou as “sanções arbitrárias e unilaterais” dos Estados Unidos, afirmando que o mundo assiste a um crescimento do autoritarismo.
“O multilateralismo está diante de nova encruzilhada. A autoridade desta organização [ONU] está em xeque. Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por seguidas concessões a política do poder, atentados à soberania, sanções arbitrárias. E intervenções unilaterais estão se tornando regra”, disse Lula.
Cautela
Embora bem recebido pela diplomacia brasileira, o Itamaraty adotou um discurso de extrema cautela antes de dar qualquer próximo passo em relação à possibilidade de um distensionamento entre o presidente Lula e Donald Trump.
Sob reserva, diplomatas brasileiros relataram que um encontro bilateral entre ambos pode ocorrer — sempre foi considerado uma possibilidade —, mas que é preciso cautela para que o brasileiro não caia na mesma armadilha em que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, caiu em fevereiro deste ano.
O professor de Relações Internacionais da UFF, Vitelio Brustolin, avaliou que o momento exige moderação na análise. Ele destaca que os Estados Unidos acabaram de sancionar figuras públicas brasileiras, com indicativos do Departamento de Estado americano sobre uma possível agenda progressiva de sanções, que pode ficar suspensa até o encontro.
Brustolin ressalta que uma eventual reunião entre os líderes não seria necessariamente de apaziguamento, mas sim de demandas americanas ao Brasil. Trump já manifestou insatisfação com as tarifas e o que considera protecionismo brasileiro, defendendo um realinhamento do Brasil com os Estados Unidos.
Já parlamentares consultados apontam a imprevisibilidade de Trump como um fator de preocupação, especialmente considerando o histórico de volatilidade nas relações internacionais.
Há uma forte pressão dos setores produtivos para que Lula tome a iniciativa de buscar um diálogo mais aprofundado com Trump. Conforme apuração, o setor produtivo, particularmente o agronegócio, mantém reservas quanto à real possibilidade de avanços nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos.
Reação do mercado
Sem escalada de tom entre Brasil e Estados Unidos no púlpito da ONU — muito pelo contrário, como se veria —, o Ibovespa fechou pela primeira vez na casa dos 146 mil pontos, e renovou também o recorde intradia, superando marcas da última sexta-feira, nesta terça-feira na inédita casa de 147 mil durante a sessão.
No fechamento, o índice da B3 mostrava ganho um pouco mais acomodado, de 0,91%, aos 146.424,94 pontos, com giro a R$ 20,5 bilhões nesta terça-feira. Na semana, em duas sessões, agrega agora 0,38% após a leve correção do dia anterior. No mês, avança 3,54% e, no ano, a alta chega nesta terça a 21,73%.