O mercado de índices e ativos de renda variável tem performado bem nas últimas semanas, impactado pela expectativa de juros em queda nos Estados Unidos e dólar mais fraco. Mas um metal específico vem conquistando a atenção dos investidores em 2025: o ouro.
O ouro atingiu o patamar de US$ 3.815,70 por onça troy nesta terça-feira (23), mais de 43% de alta anual – renovando o maior valor desde 1979, quando as inseguranças geopolítica e geoeconômica ocasionadas pela crise do petróleo alimentaram a demanda pela commodity metálica.
A nebulosidade atual devido às guerras e às políticas econômicas da principal potência mundial têm trazido volatilidade ao mercado, que busca proteger seu portfólio. Na outra ponta, a expectativa de juros menores nos EUA e a perda de força do dólar contribuem para a diversificação dos investimentos em ativos que oscilam conforme a oferta e a demanda.
“A preocupação com o fiscal dos Estados Unidos fez com que alguns países trocassem parte de suas reservas de valor, que geralmente são Treasuries americanas [títulos de dívida do Tesouro dos EUA]. O que tem acontecido é a mudança da busca dos bancos centrais por outros ativos para diversificarem suas reservas, e aí eles têm procurado o ouro”, explicou Caio Camargo, estrategista de investimentos do Santander, em entrevista ao CNN Money nesta quarta-feira (24).
“O ouro acaba sendo procurado porque os juros e o dólar em queda tiram o apetite por esses títulos, além da questão fiscal. O enfraquecimento da moeda americana perante as outras já estava acontecendo antes do corte do Fed, por conta da política protecionista de Trump. As tarifas fazem com que o fluxo comercial reduza e enfraqueça a demanda por dólar. Além disso, elas trazem um componente inflacionário pois incorporam no preço dos bens o custo dessas tarifas e, assim, é preciso de uma alternativa para proteger o poder de compra, que é encontrada no ouro”, elucidou Patricia Palomo, economista na Arau Consultoria.
A tempestade perfeita pode durar mais um pouco. Para o alemão Deutsche Bank, os preços do metal dourado podem chegar a US$ 4 mil por onça troy em 2026.
“A perspectiva do mercado, e a nossa, é de manutenção de ouro. Ainda vemos bastante espaço [para os preços subirem]. Ele [ouro] segue na nossa recomendação para o próximo mês, e sempre por ETF, pois alguns produtos estruturados são o caminho mais interessante para os investidores brasileiros”, disse Camargo.
ETFs (Exchange Traded Fund) são fundos negociados em bolsa que buscam replicar certos índices de mercado, como o Ibovespa, ou uma cesta de ativos. No Brasil, o mais conhecido e com maior visibilidade que investe em ouro é o GOLD11, que teve alta de 36,6% no ano até o momento e de 6,38% em setembro, segundo dados da B3, sendo negociado a R$ 20,83 nesta quarta-feira (24).
O poder do ouro
Não é de hoje que o ouro é procurado. O metal tem dois fatores importantes que constituem o seu valor: escassez e estrutura. Como conta Alexandre Versignassi em Crash – uma breve história da economia, todo o volume minerado na história equivale a um prédio de sete andares.
E não é só a beleza que chama a atenção, mas também a estrutura do metal, que é o mais maleável e não corrói, garantindo o valor industrial mesmo com o passar de épocas e gerações. A partir daí, a confiança foi estabelecida em torno das negociações com a commodity.
“O ouro tem uma representação, acaba trazendo uma simbologia de riqueza, e essa percepção de reserva de valor tem de estar atrelada a um ativo valorizado. Além de ser escasso e ter as jazidas já mapeadas, ele é durável e amplamente aceito. Onde você for as pessoas negociam ouro, é um dos ativos de maior liquidez do mundo até hoje”, afirmou Patricia Palomo.
Em razão disso, o ouro é utilizado como fator de reserva há milênios, desde civilizações antigas como egípcias e romanas, até se consolidar no mundo como forma monetária universal no século XIX, quando os países adotaram o “padrão ouro”.
O próximo passo se deu em 1944, em New Hampshire, nos EUA, com o chamado Acordo de Bretton Woods. Após a Segunda Guerra Mundial, os países se reuniram para definir o dólar como moeda central no sistema monetário internacional. Ou seja, as outras moedas seriam praticamente lastreadas em dólar, com câmbios fixos ou flutuantes a partir da divisa americana.
Mas e o dólar? Seria lastreado em quê? Em ouro! O metal foi o ativo escolhido para garantir a credibilidade da moeda americana e o seu poder monetário. Na época, os EUA fixaram a paridade do dólar em 35 por onça troy de ouro.
Nos anos subsequentes o ativo foi perdendo o lastro por culpa da má administração monetária e fiscal dos governos, mas ainda assim serve como fonte de confiança em tempos de crise, oferecendo segurança às administrações federais, instituições financeiras e pessoas físicas que buscam proteger seu patrimônio durante turbulências econômicas.
“É natural que busquemos ativos reais em tempos de incerteza e inflação, como imóveis, em que acabamos repassando os preços no aluguel, mas também os metais, em especial o ouro, pela solidez e a confiança construída ao longo do tempo. O ouro é muito acessível tanto para pessoas físicas quanto para institucionais”, concluiu a economista.