As movimentações de executivos brasileiros em Washington para tentar convencer autoridades americanas a abrir um canal de diálogo entre Trump e Lula foram intensas nos últimos meses.
Fontes do setor empresarial e diplomáticas afirmam que as investidas foram importantes para a mudança de tom do presidente dos Estados Unidos. Porém, auxiliares próximos ao presidente Lula minimizam a influência do setor privado brasileiro.
Segundo fontes diplomáticas, entre os empresários que teriam influenciado o distensionamento das relações com o governo Trump estariam os irmãos Batista, da JBS, e Ricardo Alban, presidente da CNI. Alguns teriam inclusive antecipado que Donald Trump anunciaria a disposição para um encontro com o presidente Lula antes da sua participação na Assembleia Geral da ONU.
Em agosto, empresários contrataram o escritório especializado em lobby de Brian Ballard, advogado próximo do presidente Donald Trump, para ajudá-los nas negociações contra o “tarifaço” dos Estados Unidos, enquanto se preparavam para visitar o país no começo de setembro.
No início de setembro, uma comitiva com mais de 100 líderes de associações e empresários desembarcou em Washington D.C. O grupo, liderado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), se encontrou com representantes dos departamentos do Tesouro e Estado americano e teve uma audiência marcada pela USTR (Representante Comercial dos Estados Unidos) para discutir o processo que investiga supostas práticas comerciais injustas e ilegais por parte do Brasil.
No Departamento de Estado, foram recebidos por Christopher Landau, número dois da diplomacia americana, que deixou claro aos executivos que o Brasil é o único país do mundo que não teria uma solução técnica ou econômica para as tarifas impostas.
João Camargo presidente do conselho da Esfera Brasil também afirmou que esteve na Casa Branca há uma semana para reuniões de alto nível com Kyser Blakely, assessor sênior de Políticas do Escritório do vice-chefe de Gabinete para Políticas, e com James Blair, vice-chefe de Gabinete. Na ocasião, ele afirmou que estava acompanhado dos irmãos Batista.
Ricardo Alban, presidente da CNI, afirma que a sinalização de Trump foi recebida com ânimo, mas nega que os empresários tenham recebido aviso prévio de que o republicano proporia a conversa com Lula.
“Essa manifestação na ONU do presidente Trump deixou a CNI animada. Sentimos que valeu a pena a missão em Washington e ficamos felizes que a iniciativa avançou. Mas nós não sabíamos nada sobre a intenção de Trump de se encontrar com Lula”, afirma Alban.
“No Departamento de Estado fomos recebidos por Landau, o número dois. No Tesouro também tivemos reuniões. Sempre nos pediam documentos, porque tudo passa pelo Departamento de Estado, já que tem a ver com política”, conclui.
O presidente da CNI afirmou ainda que os empresários sentiram dificuldade nas conversas com autoridades americanas, que foram francas e duras, mas destacou que o governo americano demonstrou interesse nos documentos posteriormente encaminhados, justificando a importância econômica de reverter as tarifas sobre produtos brasileiros.
Reservadamente, um executivo do setor de carnes comentou que, menos de meia hora depois do discurso de Trump, representantes de diversos frigoríficos fizeram uma videochamada.
Governo brasileiro minimiza atuação
Fontes do governo brasileiro não acreditam que empresários tenham sido determinantes para que Donald Trump mudasse de ideia. Auxiliares próximos a Lula avaliam que o republicano não tem perfil de se submeter a pressões, muito menos do setor privado brasileiro.
Interlocutores afirmam que agora todos vão querer “tirar sua casquinha”, mas Trump toma as decisões por conta própria e os empresários brasileiros não teriam toda essa influência.
O governo não nega que houve um esforço dos empresários, mas afirma que a mudança de tom de Trump foi algo espontâneo, e a reação do secretário de Estado Marco Rubio deixou claro que não era algo combinado.
Eles acrescentam que, se Trump quisesse evitar o encontro com Lula, teria se atrasado para a Assembleia Geral para não cruzar com Lula, e afirmam que uma coisa é encontrar e cumprimentar, outra é contar para todo o mundo. Também argumentam que o Departamento de Estado americano quer demonstrar que tem controle sobre tudo, para valorizar o seu trabalho, mas não controla Trump.
Da mesma forma, interlocutores afirmam que não foi feito nenhum esforço específico do governo Lula para que o aperto de mãos na ONU acontecesse, e a surpresa dos brasileiros quando Trump falou do encontro deixa isso claro.
Pessoas próximas ao presidente Lula também acreditam que Trump foi forçado a mudar de ideia para “salvar a cara”, já que não podia negar a reação negativa às tarifas. “Eles precisam dar uma interpretação que exclua a influência política e diplomática (e o carisma) do presidente”, disse um interlocutor.