A plataforma de streaming HBO Max traz à tona um dos casos mais marcantes dos anos 1990: o escândalo conhecido como “Pílula de Farinha”, episódio que impactou a vida de milhares de mulheres no Brasil. A produção é dirigida por Cassia Dian e Jana Medeiros, apoiada por Adriana Cechetti (por parte da Warner Bros. Discovery) e Guilherme Vieira (por parte da Agência Farra), que falaram mais sobre a produção à cnn.
Revisitar a história das pílulas de farinha foi um movimento natural. “O true crime é um gênero muito importante para a plataforma. E esse era um caso que precisava ser contado agora”, disse Adriana Cechetti.
Jana Medeiros complementou, ressaltando que o impacto social e humano foi determinante: “Falamos de um episódio que marcou muitas mulheres e que ainda reverbera até hoje. Havia uma urgência em dar visibilidade a essa história“.
Em 1998, cerca de 600 mil comprimidos sem efeito do anticoncepcional Microvlar foram parar nas farmácias do país após o uso de placebos em testes de embalagem realizados pelo laboratório Schering do Brasil. O resultado: incontáveis gestações inesperadas e o que ficou marcado como um dos maiores escândalos da indústria farmacêutica nacional.
Até hoje, a empresa nega que tenha distribuído as embalagens, alegando que estas seriam de descarte. Além disso, a venda, segundo eles, teria acontecido de maneira irregular.
O processo judicial e, consequentemente, uma indenização por parte da empresa, demoraram anos para serem concluídas.
Uma das grandes questões da produção foi o esforço em equilibrar diferentes pontos de vista — vítimas, representantes da farmacêutica e jornalistas que cobriram o caso. Jana explicou que o processo exigiu um trabalho cuidadoso de pesquisa e escuta.
“Tudo começa com uma base muito forte de investigação. Antes de chegar aos personagens, já sabíamos exatamente o que abordar com cada um deles. Tratamos o tema com acolhimento, respeito e sensibilidade, porque estamos falando de feridas abertas até hoje.”
“Tem muito material disponível para isso e a gente conseguiu entender que tinha formas de construir uma história em três episódios que abrangesse toda a complexidade do caso. Não só no âmbito das mulheres e de todas as questões que viveram — que causam essa indignação —, mas também do ponto de vista jurídico, dos filhos que hoje têm 25 anos e de como tudo isso impactou suas famílias. É um projeto com muitas camadas, muito interessante mesmo dentro do gênero true crime”, destacou Gui Vieira.
Cassia reforça que a série não quis ser “maniqueísta”, ou seja, sem conceder “vitória” para algum dos envolvidos.
“Não poderíamos trazer uma história como essa sem dar oportunidade a todos os lados envolvidos. Não buscamos uma narrativa de vilões ou heróis, e sim uma trama complexa que precisava ser retratada com seriedade.”
Entre os personagens centrais, a equipe destaca ainda a trajetória de Paloma. Vítima direta do escândalo, ela decidiu cursar Direito para entender por que perdeu na Justiça um benefício que havia conquistado. A retomada de sua luta, agora em 2025, tornou-se um dos pilares emocionais da série.
“Existe uma jornada de superação não só diante das câmeras, mas também nos bastidores. Esse vínculo de confiança que construímos com as personagens foi fundamental para que o documentário tivesse profundidade”, afirma Jana Medeiros.
A série documental apresenta as primeiras denúncias e os relatos de mulheres que foram surpreendidas por gestações imprevistas. Paloma, Silvana, Meire, Maria Lúcia e Inês são personagens, expondo a misoginia que permeou a condução das investigações e a tentativa de responsabilizar as vítimas.
O segundo episódio será lançado em 7 de outubro, enquanto o terceiro e último chega à HBO Max em 14 de outubro.