Os bombeiros que realizaram o socorro do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas levaram o jovem a uma emergência que sabiam estar fechada, segundo a ficha médica do atendimento. Marco morreu em novembro do ano passado ao ser baleado por um policial militar, na zona Sul de São Paulo.
Segundo o documento, todas as equipes da corporação já tinham conhecimento que a emergência estava fechada por superlotação e que o equipamento de tomografia (que precisava ser usado para atender o estudante) estava “inoperante há uma semana”.
“[…] Equipe dos bombeiros trouxe paciente mesmo sabendo da superlotação e ausência de tomógrafo”, especificou a descrição da ficha médica.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que “o atendimento à vítima foi realizado respeitando integralmente os protocolos de emergência.”
Versões do policial
A cnn teve acesso às imagens das câmeras corporais dos policiais Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho do Prado e que filmaram o momeneto da abordagem e o socorro prestado ao estudante.
Em um dos vídeos, Guilherme aparece contando uma primeira versão à outra policial e afirma que teria sido encurralado por Marco. “Ele veio para cima, deu um tapa na viatura e eu sai correndo atrás dele. Ali ele encurralou a gente, ele veio e o Prado foi pra cima dele e derrubou o Prado, e nisso ele veio pra cima de mim e eu efetuei o disparo. Quando eu efetuei o disparo, ele parou”, explicou o PM.
No entanto, em uma segunda versão apresentada pelo policial, ele relatou que já conhecia o estudante quando o abordou, além de ter omitido as ameaças e os xingamentos que teria dito ao jovem.
“Eu conheço esse maluco, já tinha visto ele outras vezes. Aí a gente subindo [a rua], falei pro Prado dar uma ‘segurada’ pra ver o que ele ia fazer. Aí ele subiu, deu um tapa no supervisor da viatura e saiu correndo. No que ele saiu correndo, entrou aqui pra dentro, ‘tá ligado’? No que eu falei pra ele vir, eu coloquei a mão nele e ele veio partindo pra cima. Aí o Prado tomou a frente, ele veio pra cima do indivíduo. O maluco jogou o Prado longe e tentou vir pra cima de mim, foi a hora que eu dei o disparo”, disse o PM.
Já em um terceiro relato, Guilherme apontou que, entre a queda do colega de trabalho e o tiro em Marco Aurélio, ele teria tentado conter o estudante “de outra maneira”, mas que a tentativa não funcionou. A versão contada pelo PM, no entanto, não condiz com as imagens das câmeras de segurança do hotel, que mostram que o jovem não tentou pegar o revólver do policial.
Em janeiro deste ano, a Polícia Civil de São Paulo pediu a prisão preventiva de Guilherme, soldado da Polícia Militar que atirou no estudante no momento da abordagem. No entanto, dias depois, a Justiça de São Paulo negou a solicitação.
Relembre o caso
Segundo o boletim de ocorrência, os policiais atenderam uma chamada no local e relataram que Marco Aurélio, conhecido como “Bilau”, estava “bastante alterado, agressivo, e resistiu à abordagem policial, entrando em vias de fato com a equipe.”
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Durante o confronto, ainda segundo o documento, Marco teria tentado pegar a arma de um dos policiais. O soldado, então, disparou contra o estudante.
Marco Aurélio foi socorrido ao Hospital Ipiranga, mas não resistiu aos ferimentos. Os policiais foram afastados de suas funções.
Em agosto deste ano, a Justiça de São Paulo negou o pedido de medida protetiva contra o pai do estudante. Os policiais Bruno e Guilherme haviam pedido medidas cautelares contra o pai da vítima, Julio Navarro, o acusando de agressão verbal.
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De acordo com a defesa dos réus, a medida protetiva serviria para preservar a integridade física de seus clientes. Á época do caso, o pai da vítima demonstrou indignação à solicitação, ao afirmar que esse é o “final dos tempos.” Ele ainda pediu solidariedade para entender o ataque ao policial.
Nota – SSP-SP
“A Polícia Militar esclarece que os diálogos descritos não representam o posicionamento institucional do Corpo de Bombeiros, tampouco condizem com as diretrizes e protocolos adotados pela Instituição.
Os fatos relacionados à morte do estudante foram rigorosamente investigados pelas polícias Civil e Militar. As imagens registradas pelas câmeras operacionais portáteis (COPs) foram anexadas aos procedimentos conduzidos pela Corregedoria da PM e pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). O policial militar envolvido foi indiciado por homicídio doloso no Inquérito Policial Militar (IPM) e permanece, desde o ocorrido, afastado de suas atividades operacionais. A Instituição aguarda a conclusão do processo criminal e a manifestação do Poder Judiciário.
Importante destacar que o atendimento à vítima foi realizado respeitando integralmente os protocolos de emergência. O jovem foi encaminhado prontamente ao Hospital Ipiranga, após contato com o médico regulador que atua no Copom. Esse profissional acompanha, em tempo real, a disponibilidade hospitalar, incluindo leitos, equipamentos e especialidades médicas, garantindo que a vítima seja levada ao local mais adequado para o atendimento.”