A Cúpula da Carne Brasileira pode se tornar um evento fixo na China pelos próximos cinco anos, com o objetivo de expandir a presença da carne bovina nacional no maior mercado comprador do planeta.
A proposta partiu do governo da província de Henan, que convidou o Brasil a realizar o encontro anualmente em Zhengzhou — cidade que se consolidou como um dos principais polos logísticos do país e porta de entrada para produtos importados destinados ao interior chinês.
O presidente da ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), Roberto Perosa, disse à imprensa que o convite representa um avanço na estratégia brasileira de diversificar mercados e reforçar o relacionamento com o país asiático.
“Fomos convidados pelo governador e pelo prefeito de Zhengzhou para voltarmos aqui todo ano e realizarmos, nessa mesma data, dois dias da carne brasileira durante cinco anos. Eles querem que a gente assine um acordo de cooperação para fazer esse movimento da chamada Cúpula da Carne aqui”, afirmou Perosa.
Segundo ele, o evento deverá fazer parte do projeto Beef and Road que, em parceria com a Ápex e o governo brasileiro, promove a carne nacional no exterior e busca consolidar o selo Brazilian Beef como referência de qualidade e sustentabilidade.
Nesta edição, cerca de 30 empresas brasileiras participaram de rodadas de negócios com mais de 50 importadores chineses, além de um jantar que combinou cortes brasileiros à culinária local.
“É uma visita com saldo muito positivo. As empresas estão se conectando com novos compradores, não apenas grandes importadores, mas também pequenos, o que dá mais capilaridade. Estamos muito animados com a possibilidade de manter essa presença constante aqui na China”, afirmou o presidente da ABIEC.
Entre janeiro e setembro de 2025, o Brasil exportou à China 1,15 milhão de toneladas de carne bovina, com faturamento de US$ 6,06 bilhões — altas de 38,7% em volume e 75,8% em valor em relação ao mesmo período de 2024, segundo dados da ABIEC. A China segue como destino de mais da metade dos embarques brasileiros.
A proposta para institucionalizar a Cúpula da Carne conta com o apoio da Henan Dingshenghe International Trade Co., parceira da ABIEC na organização do evento. A expectativa é que Zhengzhou se torne um centro permanente de negócios e promoção da carne brasileira no país.
“Nós vamos conversar isso com o nosso conselho e com os associados, para avaliar a viabilidade comercial e de presença. Mas estamos muito otimistas de que vai dar certo”, afirmou Perosa.
Importadores reforçam interesse na carne brasileira
Para Kelvin Hu, Ceo da MJ Group, um dos maiores importadores de carne bovina brasileira na China, o mercado chinês está em plena transformação e oferece espaço crescente para produtos de maior valor agregado.
“Começamos a importar carne bovina do Brasil em 2018, e já se passaram quase oito anos. Atualmente, mantemos um volume de importação mensal de cerca de 300 contêineres, totalizando aproximadamente 4 mil por ano. Compramos muitos cortes dianteiros e traseiros, além de produtos de músculo bovino, e temos grandes expectativas em relação à carne brasileira”, afirmou a imprensa.
Segundo Hu, o consumo local de proteína está em rápida evolução e deve absorver cada vez mais cortes premium e carne de gado confinado (grain-fed).
“Os hábitos alimentares na China estão em constante melhoria. A proteína de alta qualidade da carne bovina brasileira é indispensável para nós. Pretendemos aplicá-la em mais segmentos da alimentação e levar produtos novos e de qualidade para as mesas chinesas”, disse.
Ele destacou ainda que a produção doméstica de carne na China é limitada e que a cooperação bilateral pode fortalecer não apenas o comércio, mas também o intercâmbio tecnológico.
“O rebanho bovino na China ainda é insuficiente, e a indústria local não tem a escala e o nível tecnológico do Brasil. Acredito que, com o esforço de ambos os lados, teremos mais oportunidades de cooperação em agricultura e pecuária”, acrescentou.
Kelvin Hu também reforçou o potencial do evento criado em Zhengzhou.
“Espero que a ABIEC e a carne bovina brasileira venham todos os anos a Zhengzhou para realizar um evento como este. Assim como o Beef and Road de hoje, que é uma feira profissional repleta de compradores prontos para fechar negócios, é uma oportunidade para que os consumidores chineses conheçam melhor a carne brasileira e ela chegue mais diretamente às suas mesas”, frisou.

