Pela oitava vez consecutiva, o Ibovespa renovou as máximas e encerrou o dia acima dos 153 mil pontos, enquanto o dólar caiu 0,7%, valendo R$ 5,36. Ao encerramento, o índice avançou 1,72%, aos 153.294 pontos.
A expectativa dos investidores para as sinalizações futuras do Comitê de Política Monetária (Copom), que decide o juro logo mais, contribuíram com mais uma rodada de positividade nos indicadores. Este é o maior ímpeto de dias de recordes para o índice desde dezembro de 1999.
A mediana das estimativas das instituições financeiras compiladas pelo Valor Data é de que o Banco Central mantenha a taxa Selic em 15%, mas os olhos estarão voltados ao comunicado. Para Matheus Amaral, do Banco Inter, a nova alta do principal índice da Bolsa brasileira correspondeu às expectativas sobre a sinalização dos futuros passos da autoridade monetária:
“Hoje o mercado espera manutenção, mas que o comunicado indique um próximo ciclo de cortes. A perspectiva macro, do Copom, ajuda, pois é menos uma pressão”, diz o especialista em renda variável.
“Talvez estejamos à beira de uma decisão mais dovish (suave), e o mercado começa a incorporar algo nesse sentido. A produção industrial comprovou isso mais cedo e desde última reunião tivemos dados mais acomodatícios, podendo entrar no preço a partir desse momento”, afirma Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, associando às chamadas “reancoragens” das expectativas para a inflação em 2025, divulgadas no Boletim Focus.
O documento do Banco Central que resume as expectativas do mercado financeiro para os principais indicadores mostrou, na última segunda-feira, que as instituições veem o IPCA alcançando a proximidade do teto da meta definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em 4,5% ao ano.
Preços atraentes
A tese que vem sendo associada por diversos analistas para os últimos recordes segue válida, para além da perspectiva de redução do juro americano. A rotação de carteira do investidores nos Estados Unidos para países emergentes e os chamados múltiplos baratos contribuem para o apetite à Bolsa brasileira:
— Quando a taxa cair, os múltiplos da Bolsa devem se expandir. Há exposição a recursos naturais, bancos e uma crescente demanda doméstica. E valuation (avaliação) em termos de preço/lucro é mais barato que a média dos outros mercados emergentes — diz Daniel Balaban, broker da XP em Nova York, associando ao comparativo que é lido de perto pelos investidores.
Ele faz referência à relação entre preço e lucro, que seria a capacidade de retorno em anos para o pagamento do investimento inicial apenas com o recebimento de lucro pelas empresas. De acordo com um relatório de outubro do Santander, esta relação registrou, 8,4x, ou seja, em cerca de oito anos e meio o retorno seria alcançado.
A média histórica da Bolsa brasileira é de 11x, isto é, hoje os papéis estão “descontados”. Nos Estados Unidos, a média de preços é de 22,5x.
A temporada de balanços do terceiro trimestre, que tem demonstrado resultados positivos, também contribui com as seguidas valorizações do índice, diz Amaral, do Inter:
“Com resultados positivos e resilientes, mesmo com cenário de juro extremamente elevado, é um fator que contribui também. Mas há também o ânimo dos estrangeiros com as negociações de EUA e China, que foi menos uma incerteza”, afirma.
Dólar fecha em queda
O dia também foi positivo para o câmbio. O dólar encerrou a quarta-feira em desvalorização de 0,7%, cotado a R$ 5,36. O real teve o melhor desempenho da sessão entre as 31 moedas mais líquidas do mundo na comparação com o dólar.
Para analistas, contribuem com o desempenho a reunião de logo mais do Copom, que deve manter o juro em 15%, e pesquisas eleitorais, além do aumento à busca por risco em emergentes:
“É um dia de apetite a risco. Observamos moedas emergentes performando de forma similar, como peso mexicano e peso colombiano”, disse Gustavo Okuyama, gestor de renda fixa da Porto Asset.
Para Vinicius Alves, estrategista-chefe da Tullet Prebon, a pesquisa apontando enfraquecimento da popularidade do governo, também contribuiu com a redução no câmbio.
“Acho que está ligado a isso (pesquisa). Fora os trackings que o mercado acessa, podem mostrar algo nesse sentido”, afirmou Alves.

