Na manhã de 15 de novembro de 1889, a então capital do Brasil assistiu a uma das mais importantes viradas políticas de sua história. Sem derramamento de sangue e quase sem resistência, militares liderados pelo marechal Deodoro da Fonseca puseram fim a 67 anos de monarquia e deram início à República.
O movimento, que ficaria conhecido como Proclamação da República, foi resultado de uma crescente insatisfação com o governo de Dom Pedro II. Setores do Exército, cafeicultores do Oeste paulista e grupos urbanos intelectuais se uniram em torno da ideia de uma mudança profunda na estrutura política do país.
O clima de tensão
Desde a Guerra do Paraguai, muitos militares se sentiam desvalorizados pelo Império. Além disso, a assinatura da Lei Áurea, em 1888, embora celebrada socialmente, aumentou o descontentamento entre grandes proprietários rurais que perderam sua principal fonte de mão de obra.
Ao mesmo tempo, ideias republicanas ganhavam força nas cidades. Clubes e jornais defendiam maior participação política, federalismo e o fim da centralização administrativa da monarquia.
O levante militar
Nas primeiras horas daquele 15 de novembro, oficiais republicanos convenceram o marechal Deodoro — inicialmente hesitante — a assumir o comando da ação. Tropas seguiram até o Quartel-General do Exército, no Campo de Santana, onde exigiram a queda do gabinete do Visconde de Ouro Preto, chefe de governo do imperador.
Pouco depois, o governo imperial foi deposto, e o próprio Dom Pedro II, surpreendido com a rapidez dos acontecimentos, aceitou a situação para evitar uma guerra civil.
O início da República
À tarde, em um ato formal, foi proclamada a República e instaurado um Governo Provisório, liderado pelo próprio Deodoro da Fonseca. O novo regime adotou o modelo federativo, separou Igreja e Estado e iniciou a reorganização institucional do país, que culminaria na Constituição de 1891.
Dom Pedro II e sua família foram exilados horas depois, embarcando para a Europa.
Legado e controvérsias
Apesar de celebrada oficialmente como marco da modernização brasileira, a Proclamação da República foi um movimento articulado por elites militares e políticas, com pouca participação popular. Ainda assim, ela abriu caminho para a redefinição das relações de poder no país e para a construção de uma identidade política nova, baseada em valores republicanos.
Mais de um século após o episódio, historiadores continuam debatendo seus impactos, suas motivações e o próprio caráter do movimento, considerado por muitos como uma “revolução sem povo”.

