Seis pessoas foram ouvidas nesta terça-feira (2) pela Polícia Civil na investigação da morte de Benício Xavier, de 6 anos, ocorrida em 23 de novembro. Prestaram depoimento os pais da criança, um médico e três enfermeiros que estavam de plantão na UTI do Hospital Santa Júlia no dia do óbito.
Benício morreu após receber uma dosagem incorreta de adrenalina entre os dias 23 e 24 de novembro. A médica Juliana Brasil Santos, responsável pela prescrição, admitiu o erro em documento enviado à polícia. O caso segue sob investigação da Polícia Civil e do Ministério Público do Amazonas (MPAM).
O delegado Marcelo Martins, responsável pelo caso, explicou que os depoimentos têm como objetivo esclarecer a dinâmica do atendimento e confrontar versões apresentadas pelas equipes de saúde.
“Estamos avaliando as circunstâncias do tratamento do Benício, o estado de saúde dele quando entrou na UTI, se estava grave e quais medidas foram adotadas durante o atendimento, incluindo qualquer auxílio prestado por outros investigados. Todas essas situações estão sendo questionadas e trazem fatos importantes para a investigação. Vamos reunir tudo para compor o relatório final”, disse.
Os pais da criança foram chamados para confirmar algumas informações já recebidas pela polícia. Uma das enfermeiras que atuou no plantão chegou à delegacia acompanhada de advogado, mas preferiu não comentar o caso.
Todas as testemunha foram ouvidas no 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP). Por mais de duas horas, outra enfermeira, que não teve o nome divulgado, relatou o que observou no momento em que profissionais tentavam salvar a criança.
“Foram ouvidos profissionais da equipe médica da UTI que atenderam o Benício no dia do fato. Os objetivos consistem em entender o estado de saúde em que ele chegou e como a overdose de adrenalina repercutiu em sua condição”, acrescentou o delegado.
Sexta testemunha sobre o caso Benício é ouvida pela polícia nesta terça
Conforme o delegado, ainda devem ser ouvidas mais quatro pessoas na quarta-feira (3).
Na segunda-feira (1º), a Polícia Civil ouviu o médico Henryko Garcia, que confirmou troca de mensagens com a médica Juliana Brasil, e o enfermeiro Tairo Neves Maciel, que confirmou a versão da enfermeira de ter ficado sozinha no atendimento, contrariando o relato da médica. A defesa dos profissionais não foi localizada pela imprensa.
Uma acareação entre a médica e a técnica de enfermagem está marcada para quinta-feira (4), quando a polícia tentará esclarecer contradições.
Investigação
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Benício Xavier, de 6 anos, morreu após receber dose incorreta de adrenalina em hospital de Manaus. — Foto: Redes sociais
No dia 26 de novembro, o Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CREMAM) informou que instaurou processo ético, em caráter sigiloso, para apurar a conduta da médica Juliana Brasil Santos. O Hospital Santa Júlia também disse que afastou, além da médica, a técnica de enfermagem, Raiza Bentes.
No relatório do hospital enviado à Polícia Civil, ao qual a imprensa teve acesso com exclusividade, Juliana reconhece que errou ao prescrever adrenalina na veia de Benício Xavier.
No documento enviado, a médica narra que comentou com a mãe da criança que a medicação deveria ser administrada por via oral. Ela afirmou também ter se surpreendido por a equipe de enfermagem não questionar a prescrição.
Já a técnica de enfermagem Raiza Bentes, que atendeu a criança, disse que apenas seguiu a prescrição médica ao aplicar a dose de adrenalina.
Segundo o delegado Marcelo Martins, o caso é investigado como homicídio doloso qualificado. A investigação, que já colheu depoimentos e analisou prontuários, avalia a possibilidade de que o episódio seja tratado como homicídio doloso qualificado pela crueldade.
Apesar do pedido de prisão preventiva da médica pelo delegado, a Justiça negou por entender que não há, até o momento, “fundamentos suficientes” para manter a prisão. A profissional segue respondendo o processo em liberdade.
O caso
Benício foi levado ao Hospital Santa Júlia, no dia 22 de novembro, com tosse seca e suspeita de laringite, após apresentar dois episódios de febre.
A família disse que a criança foi atendida por uma médica, que prescreveu lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa de 3 ml a cada 30 minutos. A aplicação foi feita por uma técnica de enfermagem de plantão.
“Meu filho nunca tinha tomado adrenalina pela veia, só por nebulização. Nós perguntamos, e a técnica disse que também nunca tinha aplicado por via intravenosa. Falou que estava na prescrição e que ela ia fazer”, relatou o pai.
Segundo os pais, Benício apresentou uma piora súbita: ficou pálido, com membros arroxeados e relatou que “o coração estava queimando”. A saturação de oxigênio caiu para cerca de 75%. Ele foi levado para a sala vermelha e, em seguida, intubado na UTI, por volta das 23h.
Segundo o pai, a intubação provocou as primeiras paradas cardíacas. O menino sofreu seis paradas consecutivas, todas com tentativas de reanimação. A última foi fatal. Benício morreu às 2h55 do dia 23 de novembro.

