Autoridades de imigração dos EUA prenderam um professor brasileiro após ele ter o visto revogado por disparar uma arma de pressão perto de uma sinagoga em Massachusetts, na véspera do Yom Kippur.
A prisão foi informada pelo Departamento de Segurança Interna americano na quinta-feira (4).
Carlos Portugal Gouvêa, cidadão brasileiro, foi preso na quarta-feira pelo ICE (Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos) após seu visto temporário de não imigrante ter sido revogado pelo Departamento de Estado americano.
Gouvea lecionou como professor visitante da Faculdade de Direito da Universidade de Harvard durante o semestre de outono. Ele também é livre-docente em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo).
O governo do presidente Donald Trump revogou o visto do professor por conta do que classificou como um “incidente de tiro antissemita” – uma descrição que diverge da versão apresentada pelas autoridades locais.
Segundo o Departamento de Segurança Interna, Gouvêa concordou em deixar o país. Não foi possível contatá-lo imediatamente para comentar o assunto e a Universidade de Harvard não quis fazer comentários.
A polícia de Brookline, Massachusetts, chegou a prender Gouvêa em 1º de outubro, após atender a uma denúncia de uma pessoa armada perto do Templo Beth Zion na véspera do feriado judaico de Yom Kippur.
Segundo o boletim de ocorrência, Gouvêa afirmou que estava usando uma espingarda de chumbinho para caçar ratos nas proximidades.
No mês passado, ele chegou a um acordo para resolver a acusação de disparo ilegal de uma arma de pressão, pelo qual cumprirá seis meses de liberdade condicional antes do julgamento e pagará US$ 386,59 em indenização.
Outras acusações que ele enfrentava por perturbação da paz, conduta desordeira e vandalismo foram retiradas como parte do acordo.
Apesar das alegações do governo Trump, o templo Beth Zion já havia declarado aos membros de sua comunidade que o incidente não parecia ter sido motivado por antissemitismo, uma visão compartilhada pelo Departamento de Polícia de Brookline, que investigou o caso.
O templo afirmou que a polícia informou que Gouvêa “não sabia que morava ao lado de uma sinagoga e que estava atirando com sua arma de chumbinho perto dela, nem que era um feriado religioso”.
A prisão de Gouvea ocorreu em meio à pressão do governo Trump sobre Harvard para que chegasse a um acordo a fim de resolver uma série de acusações feitas contra a instituição da Ivy League, incluindo a de que Harvard não teria feito o suficiente para combater o antissemitismo e proteger os estudantes judeus no campus.
Harvard entrou com ações judiciais contra o governo devido a algumas das medidas tomadas contra a universidade, o que levou um juiz a decidir, em setembro, que o governo havia cancelado ilegalmente mais de US$ 2 bilhões em bolsas de pesquisa concedidas à instituição.
Em outubro, o diretor da Faculdade de Direito da USP, Celso Fernandes Campilongo, se manifestou em comunicado: “O envolvimento do Professor Carlos Pagano Botana Portugal Gouvêa em recente evento doméstico, ocorrido nos Estados Unidos – que ganhou dimensões desproporcionais em razão de, supostamente, ter conotações antissemitas – comporta esclarecimentos.”
“Em primeiro lugar, destaque-se que a Sinagoga vizinha à sua casa, relacionada ao incidente de segurança, divulgou nota pública afastando, por completo, ter se tratado de ocorrência antissemita. Além disso, o professor tem afinidades, inclusive laços familiares, com a comunidade judaica. Registre-se, ainda, que o Professor Carlos Portugal Gouvêa possui histórico posicionamento em defesa dos Direitos Humanos”, acrescentou.
“O Professor Carlos Portugal Gouvêa, do Departamento de Direito Comercial, tem atividade acadêmica pautada pela competência técnica, dedicação à docência e à pesquisa e elevado profissionalismo. Por tudo isso, a Faculdade de Direito da USP repudia as insinuações maldosas e distorcidas lançadas contra o seu docente, Professor Carlos Pagano Botana Portugal Gouvêa”, concluiu.

