Com o intuito principal de conscientizar a população sobre a importância de prevenir o suicídio, além de prestar apoio àqueles que enfrentam problemas emocionais e mentais, o mês de setembro conta com uma campanha, que teve início no Brasil em 2015, visando mostrar às pessoas que existe esperança mesmo nos momentos mais difíceis. Atualmente, o Setembro Amarelo é a maior campanha anti-estigma do mundo, se estendendo durante todo o mês.
Oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio é celebrado em 10 de setembro. O lema deste ano é “Se precisar, peça ajuda!”. De acordo com a mais recente pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, foram registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados. Com isso, estima-se mais de 1 milhão de casos.
Em entrevista ao Vanguarda do Norte, a psicanalista e hipnoterapeuta Patrícia Alecrim fala um pouco sobre a importância desta conscientização. Segundo ela, todos os dias é dia de olhar e observar quem está ao nosso lado.
“Às vezes, a gente pergunta se está tudo bem e nem olhamos para o semblante da pessoa quando ela responde, e a pessoa também responde no automático. Então, a gente precisa se importar mais com quem está ao nosso lado, seja nosso marido, esposa, irmão, irmã, pai, mãe, filhos, nossos amigos ou colegas de trabalho. Ainda bem que tem esse mês, mas que seja só um start para que possamos nos importar cada vez mais [com o assunto]”, afirma.
Taxa de suicídio no Brasil
No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia. Entre 2010 e 2019, ocorreram 112.230 mil mortes por suicídio no país. Houve um aumento de 43% nos casos registrados, conforme dados divulgados pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), realizadores da campanha.
Em comparação com 2021, o número de suicídios no país cresceu 11,8% no ano passado. O levantamento faz parte do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Além disso, no Brasil, cerca 1.200 idosos cometem suicídio todos os anos. Entre 2006 e 2015, a prática aumentou 24% entre a população adolescente (10 a 19 anos). Indicadores socioeconômicos – como desigualdade social e desemprego – foram determinantes para o risco de suicídio entre adolescentes. Entre os fatores de risco para o suicídio de idosos, além dos transtornos mentais como depressão, esquizofrenia e uso abusivo de álcool e drogas, há questões como isolamento social e outros fatores psicológicos envolvendo perdas recentes, além de condições de saúde como lesões desfigurantes, dor crônica e câncer.
“Para os idosos, na maioria das vezes, é por causa da falta de utilidade, aposentadoria e da solidão. Por conta disso, eles passam a ficar mais reclusos em casa. Eles se veem também, muitas vezes, sendo arrimo [financeiro] da família quando moram com os filhos e sustentam aquela casa. Ou fica o peso das obrigações ou ele [idoso] se sente sobrecarregado ou isolado, abandonado e sem a questão da utilidade. Então, hoje, a longevidade na vida de nós, seres humanos, está cada dia maior. Assim que se aposentar, é recomendado que o idoso busque uma outra atividade e não pare totalmente”, pontua Patrícia Alecrim.
De 2016 a 2021, foi observado um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes entre os 15 e 19 anos, alcançado o valor de 6,6 por 100 mil. Entre jovens de 10 a 14 anos, a taxa foi de 45%, ou seja, 1,33 a cada 100 mil deles.
“Os jovens têm a questão hormonal que por si só gera alguns conflitos. Além disso também existem as contendas de casa, dificuldade em se abrir e conversar. Hoje, a maioria do meu público é um público de adolescentes. Após a pandemia essa realidade mudou. Os adolescentes não vinham tanto ao consultório, mas a reclusão e isso de ficar muito trancado em casa, além da questão da internet e das comparações em redes sociais. Então? tudo isso afeta essa faixa etária de adolescente de 10 a 19 anos”, conta a psicanalista.
O Brasil é o oitavo país do mundo em número de casos com 12 mil por ano, o que representa uma morte a cada 45 minutos. É o que mostram os dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Embora seja uma das principais causas de morte em todo o mundo – segundo dados da OMS aproximadamente 800 mil pessoas tiram a própria vida a cada ano – o suicídio ainda é tratado em sociedade como um “tabu”.
“Abordar a respeito do suicídio ainda é um tabu. No fundo, ninguém quer acabar com a vida. O indivíduo que está em sofrimento quer tirar a dor e não a vida. É algo muito discriminado, há um preconceito como se o suicida fosse fraco, vulnerável e covarde. Quando ele tem esse sentimento de não querer mais sentir aquela dor e às vezes o jeito que ele acha de não sentir mais essa dor é tirando a vida, não é sinônimo de fraqueza, é desespero. Sempre é bom abordá-lo e dizer que tem saída, de que a vontade de tirar aquela dor é normal, mas não é tirando a vida que a dor acaba, é fazendo uma terapia, é investigando a causa, é em busca do autoconhecimento. Então, a forma certa de abordar o jovem é tirando dele essa ideia de que a saída é tirar a vida”, frisa a especialista.
Para Patrícia Alecrim, a saúde mental é até mais importante do que a saúde física. “Eu costumo dizer isso no meu consultório por causa da somatização. Se você não estiver bem com as suas emoções e com os seus sentimentos, você não vai estar bem com o seu corpo e com a sua matéria. O nosso corpo é um mata-borrão, ele recebe tudo o que a nossa alma sente. Então se você não está bem emocionalmente, você não vai estar bem fisicamente”, finaliza.
A escritora, psicóloga e especialista em neuropsicologia, Nazaré Mussa, afirma que o ideal seria não precisar de data para ser lembrada a importância da vida. Ela classifica, ainda, o álcool e outras drogas como facilitadoras de tais comportamentos.
“É preciso respeitar a idade e a maturidade de cada grupo que vai receber uma palestra com temas delicados. A linguagem deve ser apropriada a idade, mas o tema precisa ser abordado nos espaços como escolas, faculdades, igrejas, centros comunitários e outros, desde que seja dado com palestrantes devidamente capacitados para tanto. Não existe um único motivo, geralmente é um conjunto de fatores que podem contribuir para alguém pensar nesse assunto. Transtornos mentais, abuso de substâncias, depressão, bullying, fatores do cotidiano, imaturidade, baixa autoestima, pré-disposição genética, problemas químico cerebral, entre outros”, frisa.
Projeto Help
Em algum momento, você já passou por alguma passarela em Manaus e viu cartas penduradas em pontos estratégicos? O Projeto Help, que presta serviço voluntário e gratuito de prevenção ao suicídio, tem espalhado cartas com mensagens de apoio e de incentivo, que são escritas por voluntários de vários pontos pelo país.
Com o lema “Não te julgo, te ajudo”, o Projeto Help promove a escuta qualificada, de forma que qualquer pessoa se sinta à vontade para falar de si e de seus conflitos. Desde a sua criação, o projeto tem desenvolvido várias iniciativas, como a caminhada contra o suicídio e as diversas lives “Help” que foram realizadas durante toda a quarentena em decorrência da pandemia da COVID-19, sempre com o objetivo de ajudar os jovens com desejo de suicídio, que praticam a automutilação ou que sofrem de depressão.
“O projeto existe desde janeiro de 2018, e nasceu com o viés de oferecer apoio emocional sem julgamento. Fazendo as pessoas acreditarem que um problema de ordem de saúde não significa o fim da vida. Começou no Rio de Janeiro. Se expandiu para todo país como uma corrente do bem, através de voluntários que foram implantando o projeto em cada estado”, ressalta o idealizador e coordenador do projeto, Carlos Eduardo Souza, em entrevista ao Vanguarda do Norte.
Segundo ele, o projeto foi criado em 2017, com a finalidade de ajudar jovens que têm depressão, ansiedade, sofre com automutilação e desejo de suicídio. Atualmente, o Help conta com mais de 7 mil voluntários em todo o país que ajudam e orientam pessoas que sofrem com os problemas que, um dia, eles também sofreram e superaram.
“O projeto atua em várias frentes, a princípio começou com as cartas nos postes como uma espécie de intervenção, para fazer com que pessoas que estivessem ali pensando em acabar com tudo, repensassem tal decisão entendendo que não é isto que ela precisa fazer para se superar. Esta atuação vem se espalhando por várias áreas inclusive a educacional, empresarial também, sempre com o intuito de levá-las a trocar o desistir pelo acreditar”, destaca Carlos Eduardo.
Ele complementa: “Para nós é gratificante saber que pessoas tem voltado a acreditar na vida, pois este é nosso intuito fazer com que elas se superem como nós nos superamos. Não atuamos apenas em escolas, mas fazendo palestras em empresas, ações em aeroportos, em locais que até então não chegávamos, mas temos chegado e continuaremos avançando”.
Depressão e saúde mental
Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o “Mal do Século”, a depressão é uma doença psiquiátrica recorrente que causa a alteração do humor e se caracteriza pela tristeza profunda, sentimentos de dor, angústia e desesperança. Além desses sintomas, uma das coisas mais difíceis de escutar para quem sofre com a depressão é que a doença é uma frescura. A frase dita com frequência pelo senso comum é uma visão equivocada e restrita de uma doença muito séria que vem acometendo cada vez mais pessoas com o passar dos anos.
De acordo com Nazaré Mussa, a depressão é como ter uma nuvem negra pairando sobre a sua cabeça ou é como ter a sensação de estar entre um leão e do outro um abismo. Ela também ressalta que “sem saúde mental o ser humano perde a qualidade de vida, é preciso ter o equilíbrio entre corpo e mente”. A especialista relembra ainda o mês de janeiro, chamado de Janeiro Branco e que foi criado para lembrar a todos sobre a importância e necessidade de cuidarmos da saúde mental.
“O janeiro branco, como disse, foi criado para conscientizar as pessoas de que saúde mental é de fundamental importância para que as pessoas venham a ter qualidade de vida. Caso contrário as doenças psíquicas, os problemas emocionais vão roubando saúde e transformando a pessoa adoecida em muitas questões. Estresse, ansiedade e depressão são sintomas graves de doenças sérias”, explicou.
A pandemia e a saúde mental
Durante os períodos mais críticos da pandemia, falar sobre a saúde mental se mostrou mais importante. O aumento dos sintomas psíquicos e dos transtornos mentais ocorreram por diversas causas. Dentre elas, pode-se destacar a ação direta do vírus da Covid-19 no sistema nervoso central, as experiências traumáticas associadas à infeção ou à morte de pessoas próximas, o estresse induzido pela mudança na rotina devido às medidas de distanciamento social ou pelas consequências econômicas, na rotina de trabalho ou nas relações afetivas e, por fim, a interrupção de tratamento por dificuldades de acesso.
“Estamos vivendo um período pós-pandemia e ainda nos trabalhando das questões sofridas, dos enfrentamentos vividos. O bem-estar emocional é o equilíbrio psíquico que precisamos para enfrentarmos nossas necessidades e buscarmos qualidade de vida”, ressaltou Nazaré Mussa.
A especialista ressalta que, com certeza, a pandemia mostrou como o mundo precisa dar mais importância a saúde psíquica das pessoas.
“O isolamento veio sinalizar o quanto muitas pessoas não sabem lidar consigo e com seus problemas devido provavelmente a falta de autoconhecimento, mas, não é somente o isolamento que foi relevante, muitos dos nossos medos vieram à tona, juntamente com o desconhecido do que iria acontecer criaram uma condição atípica que nossa sociedade não estava preparada para enfrentar. Ou seja, cuidar da saúde mental é fundamental para os enfrentamentos que se fazem necessário”, contou.
Para a neuropsicóloga, quanto mais a importância da saúde mental for divulgada, será melhor para toda a sociedade e também apontou que entender a necessidade de abordar a temática é compreender que corpo e mente precisam estar em harmonia para se poder viver com qualidade.
“Não significa que resolveremos todas as questões de uma sociedade, mas a pessoa entenderá melhor quais suas necessidades e como deverá fazer seus enfrentamentos. Afinal, autoconhecimento é fundamental”, compartilhou.
Campanha no Amazonas
A Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) participa da campanha “Setembro Amarelo”, criando leis para ajudar os amazonenses que passam por transtornos relacionados à saúde mental e reunindo ações de prevenção, como a “Semana de Prevenção ao Suicídio”, que ocorrerá na Escola do Legislativo, a partir da próxima segunda-feira, no período de 11 a 15 de setembro.
“No mesmo dia, pela parte da tarde, começa o ciclo de palestras que segue até o dia 15 de setembro, com alunos de dez escolas públicas que poderão esclarecer dúvidas sobre a ideação suicida e meios de tentar evitar suicídios”, explicou Jacy Braga, coordenadora do programa Educando pela Cultura.
O dia 28 de setembro marcará o início do “Encontro Parlamentar de Políticas Públicas sobre Saúde Mental”, seguido pelo “3° Simpósio: Prevenção é a Solução” no dia 29. Esses eventos se desenrolarão em São Gabriel da Cachoeira (distante 852 quilômetros de Manaus). A escolha deste município se deve ao fato de ser a localidade brasileira com os índices mais elevados de suicídio entre indígenas.
Além disso, uma importante campanha intitulada “Basta: Autolesão, Depressão e Suicídio” também será promovida nesse contexto. A iniciativa é da Frente Parlamentar de Cuidados e Prevenção à Depressão, Suicídio e Drogas (Fenapred) e da Comissão de Prevenção à Depressão e Drogas da União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais (Unale).
Em alusão ao Setembro Amarelo, o Centro de Atenção Integral à Melhor Idade (Caimi) Dr. André Araújo, unidade vinculada à Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), com o apoio do Núcleo de Educação Permanente em Saúde e Humanização (NEPSHUS), realizou a abertura da campanha nesta sexta-feira (1º), com um dia de atividades e reflexões para os pacientes presentes na unidade.
Durante esse período do ano, são desenvolvidos vários eventos, palestras e iniciativas que tem como objetivo promover diálogos abertos, oferecer suporte emocional e informações cruciais sobre como identificar sinais de alerta e buscar ajuda.
Como parte das ações em alusão à campanha Setembro Amarelo, os Centros Estaduais de Convivência da Família também realizam, durante este mês, atividades voltadas para a sensibilização e prevenção ao suicídio, com ações de valorização à vida. A programação envolve palestras, rodas de conversa, apresentações, abordagens para sensibilização, entre outras atividades.
Administrados pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado da Assistência Social (Seas), os sete Centros de Convivência buscam conscientizar os frequentadores dos espaços e as comunidades adjacentes para a importância da prevenção e combate ao suicídio.
Confira a programação dos CECFs
Centro Estadual de Convivência da Família 31 de Março – Japiim:
– 04/09: Bazar e Abertura do mês alusivo ao Setembro Amarelo/Campanha Brasileira de Prevenção ao Suicídio, com roda de conversa e panfletagem. Das 8h às 12h
– 12 e 13/09: Palestras e entrega de material em alusão ao Setembro Amarelo com os grupos de convivência e comunidade. Das 8h às 10h
– 29/09: Encerramento da Campanha Setembro Amarelo, com Caminhada e Aulão de Ritmos Externo, das 7h às 8h
Centro Estadual de Convivência da Família Teonízia Lobo – Mutirão:
– 11/09: Atividade Externa Abertura da Campanha Setembro Amarelo. Divulgação e distribuição de informativo na Bola do Produtor e Feira do Produtor, às 15h
– 27/09: Palestra com participação de um técnico do Capsi e uma Dramatização: “O Som do Silencio”, às 15h
– 29/09: Aulão Amarelo: Aula de Funcional e Zumba, Café Compartilhado com Roda de Conversa, às 8h
Centro Estadual de Convivência da Família Miranda Leão – Alvorada:
– 12/09: Roda de Conversa sobre a campanha Setembro Amarelo, às 9h30
– 14/09: Roda de Conversa sobre a campanha Setembro Amarelo, às 14h30
– 27/09: Peça Teatral de Conscientização sobre a Campanha Setembro Amarelo, na Escola Estadual Francisca Botinelly, às 9h30
– 27/09: Encerramento da Campanha Setembro Amarelo com Abordagem social na Ponte Rio Negro, às 9h30
Centro Estadual de Convivência do Idoso (Ceci) – Aparecida:
– 11/09: Abertura da Campanha Setembro Amarelo com objetivo de sensibilizar servidores e Colaboradores sobre a importância da vida, com prevenção ao suicídio, às 11h e 14h
– 13/09: Sensibilização alusiva a Campanha Setembro Amarelo com o Tema: “Todos pela Vida”, com convidada a confirmar e Escolas da Comunidade, às 9h
– 27/09: Sensibilização sobre Prevenção ao Suicídio para os pacientes do Projeto Mais RespirAR, às 9h e 14h
– 29/09: Aulão de Ritmos com Sensibilização alusiva a Campanha Setembro amarelo com os alunos do Parceiro FUnATI, às 9h
Centro Estadual de Convivência da Família André Araújo – Raiz:
– 11/09: Roda de conversa com o Grupo Juventude André Araújo com o tema: Prevenção ao Suicídio, às 14h
– 11/09: Palestra em alusão à Campanha Setembro Amarelo, às 9h e 15h
– 12/09: Roda de Conversa sobre Prevenção ao Suicídio. Confecção de painel em alusão ao tema, às 13h
– 12/09: Palestra em alusão à Campanha Setembro Amarelo, às 9h e 15h
– 13/09: Ação em Favor da Vida: abordagem social e panfletagem sobre Prevenção ao Suicídio, no calçadão da Ponta Negra, às 17h
– 20/09: Palestra com o Tema valorização da Vida com o Especialista Em Saúde Mental Paulo César, às 14h
– 27/09: Cine Pipoca: Exibição do Filme “O Lado Bom da Vida’’, às 14h
Centro Estadual de Convivência da Família Padre Pedro Vignola – Cidade Nova:
– 11/09: Palestra no Teatro sobre Prevenção do Suicídio Panfletagem, às 9h
– 22/09: Palestra sobre Combate ao Suicídio, às 16h