Manaus (AM) – Com mais de 4 milhões de cidadãos, o Amazonas possui menos de dois médicos por mil habitantes, sendo o terceiro estado da Região Norte a apresentar menor densidade médica no país, conforme dados da Demografia Médica no Brasil 2023.
Segundo o levantamento, o estado amazonense tem 5.796 médicos, na qual possui uma proporção de 1,36 médicos para cada mil habitantes, ficando atrás, no levantamento geral, do Pará (1,18) e do Maranhão (1,22).
Os cinco piores índices do país estão classificados da seguinte forma:
- Pará: 1,18
- Maranhão: 1,22
- Amazonas: 1,36
- Acre: 1,41
- Roraima: 1,64
Em relação a 2022 e ao número de atuação no estado, o estudo mostra que a maioria dos médicos estão concentrados em Manaus, sendo 5.394 profissionais. Já em todo interior do Amazonas e Região Metropolitana, são 402 médicos.
E apesar de a capital subir com a proporção de médicos com 2,39 para cada mil habitantes, a região ocupa a quarta posição entre as capitais com menos médicos, atrás de Macapá, com 2,12, Rio Branco, com 2,25, e Boa Vista, com 2,32.
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Morte na fila de espera por falta de médicos em Manaus
Em conversa com o Vanguarda do Norte, a autônoma Marinete Almeida, de 34 anos, relata sobre a situação de sua mãe, Etelvina Teixeira Almeida, que morreu em 2020 aos 51 anos, na fila de espera do Sistema Único de saúde (SUS) para realizar uma cirurgia cardíaca.
Conforme a mulher de 34 anos, em 2017 sua mãe foi diagnosticada com valvopatia reumática e fibrilação arterial. Em 2018 começou o tratamento e logo em seguida, entrou para a fila de espera da cirurgia.
Durante o período de espera, surgiu a opção de realizar a cirurgia pelo setor privado que custava 100 mil, onde o SUS cobriria 50 mil e a outra metade deveria ser coberta pela família. No entanto, o orçamento estava fora do alcance financeiro da família e eles optaram em continuar na fila de espera.
Entre os motivos apontados por Marinete, para a mãe morrer aguardando na fila de espera, estava a falta de médicos especializados para realizar a cirurgia cardíaca.
“Ela (a mãe) ficou na fila de espera porque também não tinha vaga no Hospital Francisca Mendes para fazer a cirurgia, não tinha leito, não tinha médico para fazer a cirurgia. Além disso, tinha muita gente na fila de espera, inclusive na época, muita gente morreu porque não tinha vaga. E a cirurgia dela saiu no dia que ela faleceu”,
relembra Marinete.
Segundo relatos de Maricelma Almeida, outra filha da paciente Etelvina, no dia em que a mãe morreu, ela acordou se sentindo mal e Maricelma a levou até Serviço de Pronto Atendimento (SPA) Coroado, onde se depararam com a demora no atendimento e falta de profissionais no local.
“A gente teve que fazer a ficha, mesmo eu tendo dito que minha mãe teve ataque cardíaco. Passamos pela triagem, e mesmo vendo que ela (mãe) estava passando muito mal, eles não fizeram o mínimo de esforço para encaminhar direto, e novamente tivemos que esperar”,
explica a filha de Etelvina.
“Naquele dia no SPA não tinha médico suficiente e ficamos na espera. Quando apareceu o primeiro médico, ele não quis atender e passou para outra médica, que demorou um pouco e aí que ela encaminhou minha mãe direto para a sala de emergência”,
completa.
Maricelma também relembra que na sala de emergência havia apenas uma técnica de enfermagem e por muitas vezes ficava só com a mãe.
“Quando a minha mãe passou mal foi no momento que a técnica de enfermagem foi buscar um soro e estava só eu e minha mãe na sala de emergência. E só quando ela estava tendo parada cardíaca apareceu muitos profissionais, mas antes disso demorou muito mesmo eu já tendo explicado que minha mãe tinha desmaiado e problemas no coração”,
relembra.
De acordo com o relato da filha, a causa da morte de Etelvina Teixeira Almeida foi acidente vascular cardioembólico e fibrilação arterial naquele hospital de pronto-atendimento.
O Vanguarda do Norte entrou em contato com o Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CRM-AM) para entender a distribuição de médicos no estado, e também sobre a capacitação e estrutura médica, mas até o fechamento desta matéria não obteve resposta.
Distribuição de médicos na Região Norte
Conforme os dados da Demografia Médica no Brasil 2023, a Região Norte possui uma população de 18.906.962 de habitantes e 27.453 médicos, na qual, possui uma razão de 1,45 médicos por mil habitantes, sendo a menor proporção de profissionais da área por mil habitantes das regiões do país.
“Um paralelo entre o Pará, estado com a menor razão médico por habitantes do país, e o Distrito Federal, com a maior concentração, ilustra bem as desigualdades de distribuição. O Pará tem 1,8% dos médicos do Brasil, enquanto sua população equivale a 4,1% do total de habitantes do país. Já o Distrito Federal, com 2,9% dos médicos, conta com 1,5% da população nacional”,
diz o estudo.
O estudo da Demografia Médica realizou também uma projeção inédita sobre a oferta de médicos em atividade no Brasil nos próximos anos.
“Haverá acirramento das disparidades de concentração de médicos. Das 27 unidades da Federação, 18 delas irão apresentar densidade de profissionais por mil habitantes abaixo da média nacional, estimada em 4,4 em 2035. Ou seja, se medidas excepcionais não forem adotadas, estará mantida ou será agravada a desigualdade da distribuição geográfica, o que fará persistir a escassez localizada de profissionais, mesmo em cenário de maior e crescente oferta de médicos”,
alerta o documento da pesquisa.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem), o médico Raul Canal, o levantamento mostra que o Brasil sofre com uma grande desigualdade na distribuição dos profissionais.
“Analisando o cenário, não é difícil constatar que a má distribuição de profissionais não resulta de um suposto desinteresse dos médicos, que até chegam a migrar para essas regiões. O grande problema é que acabam desistindo de atuar nessas cidades, onde notam a ausência de uma infraestrutura mínima para atender com dignidade”,
apontou o presidente da Anadem, Raul Canal.
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